Os eventos desta semana estremeceram a Operação Lava Jato e, consequentemente, a maior figura que a representa: o ex-juiz Sergio Moro . Na segunda-feira (8), o ministro Edson Fachin , do Supremo Tribunal Federal ( STF ), anulou as condenações do ex-presidente Lula (PT) e, no dia seguinte, teve início o julgamento que decidirá sobre a possível suspeição de Moro.
A 2ª turma do STF julga se o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro agiu com parcialidade ao declarar Lula como culpado nos processos no âmbito da Lava Jato .
Empatado por 2 votos contra e 2 a favor, o voto de minerva fica a cargo do ministro Kassio Nunes , recém indicado pelo presidente Bolsonaro (sem partido), que pediu vistas, alegando não conhecer profundamente o caso.
Pedro Fassoni, cientista político e chefe do Departamento de Política na PUC-SP, acredita que Fachin, em sua decisão de defender que a suspeição de Moro havia perdido objeto, “foi uma tentativa de blindar a Operação Lava Jato” que saiu pela culatra:
“Foi desarticulada por colegas do próprio Supremo Tribunal Federal, pois o ministro Gilmar Mendes pediu no mesmo dia para incluir o julgamento da suspeição e já está em andamento. Foi uma tentativa de blindagem, mas que provavelmente não surtirá nenhum efeito”.
Na opinião de João Paulo Viana, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Rondônia, todos os acontecimentos desta semana “colocam em xeque a Lava Jato e o próprio Sergio Moro”. “A suspeição dele é ainda pior, pois pode acarretar em problemas maiores para a imagem do ex-magistrado”, completa.
Você viu?
Na primeira pesquisa eleitoral feita após Lula voltar a tornar-se elegível e apto a concorrer às próximas eleições , a CNN divulgou nesta quarta-feira (10) levantamento que mostra tanto o atual presidente quanto o petista muito à frente de Sergio Moro em uma eventual disputa.
Confira resultados da pesquisa CNN/ Real Time big data sobre a eleição presidencial em 2022:
- Jair Bolsonaro (sem partido) - 31%
- Lula (PT) - 21%
- Sergio Moro (sem partido) - 10%
Na avaliação do cientista político Pedro Fassoni, a credibilidade de Moro fica cada vez mais abalada, visto que antes mesmo do julgamento no Supremo, diversos setores da sociedade alegavam parcialidade do ex-juiz à frente da operação:
“A questão da suspeição, ainda que não tivesse sido julgada ainda, também abalou bastante a credibilidade do Sergio Moro e agora com toda a anulação da condenação (do ex-presidente Lula) demonstra que todo aquele trabalho da Força Tarefa da Lava Jato teve um esforço por meio de condutas condenáveis, fora da lei, por conta da violação de alguns princípios e regras, como juiz natural”, afirma.
Ainda na visão de João Paulo, o fato de Sergio Moro ter aceito convite do recém eleito presidente Bolsonaro , ainda em 2018, dias após o 2º turno, para ser ministro da Justiça “foi um erro crucial”. Para explicar sua linha de raciocínio, abriu aspas para uma declaração feita pelo ministro do Supremo Gilmar Mendes :
“Em que democracia no mundo, isso seria aceitável, um juiz, que tem que ser uma figura acima de tudo, imparcial, aceitar ser ministro da Justiça de um presidente eleito, já que esse mesmo juiz foi responsável por tirar o principal adversário deste presidente eleito do jogo?”, indaga.
Desgastado no governo federal, o juiz pediu demissão do Ministério da Justiça em abril de 2020, acusando Bolsonaro de interferência na Polícia Federal. Para Fassoni, o ‘divórcio’ entre o lavajatismo e o bolsonarismo acabou sendo melhor para o presidente, já que mais eleitores da direita ficaram do lado do chefe do executivo:
“Ele rompeu com o governo no qual fez parte, mas é interessante pensar que muitas pessoas que o apoiavam, com a saída dele do governo, o criticaram e acabaram ficando ao lado de Bolsonaro. Então esse rompimento teve muitas pessoas do espectro político da direita que ficaram ao lado de Bolsonaro e não ao de Moro”, avalia.
Ainda sem data para definição da votação no Supremo - caso confirmado que Moro agiu com parcialidade ao condenar Lula na Lava Jato, somado ao avanço político do petista, que agora figura como a principal figura da esquerda ao pleito presidencial -, o ex-juiz pode ter carreira política enterrada antes mesmo de 2022.