Com a decisão do ministro Edson Fachin , do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da Operação Lava Jato , o petista voltou a ser um dos nomes cotados para a disputa das eleições de 2022. Para o PT, Lula é um dos únicos capazes de vencer o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o que daria margem para a repetição de um cenário polarizado como o de 2018. A análise de especialistas ouvidos pelo iG , porém, é a de que não existem mais os elementos que tornem isso possível.
Os cientistas políticos chamam a atenção para o fato de Lula já ter dito que o foco, pelo menos nesse momento, é provar que foi alvo do que considera injustiças em processos contra ele.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (10) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula não quis falar sobre uma eventual candidatura . Em vez disso, fez acenos ao centro e disse estar "convencido de que a aliança será possível".
Por esses motivos, a professora e pesquisadora em opinião pública (FESP-SP/USP) Jacqueline Oliveira, afirma que falar de polarização ainda é muito prematuro. "Entender que a polarização com o PT favorece o Bolsonaro é reduzir muito o debate. A dinâmica envolve diversos fatores, muitas variáveis. Ainda mais num cenário altamente complexo como o que a gente está vivendo", diz a pesquisadora em opinião pública.
De acordo com Oliveira, o antipetismo ainda existe, mas ele já não é mais o mesmo 2016, ano em que a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu o impeachment. Para a especialista, nem Bolsonaro é mais a mesma pessoa.
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"O Bolsonaro de 2018 não é o Bolsonaro de 2022. Certamente estará mais preparado. Em 2018 era um deputado federal que tinha apresentado poucos projetos, sabia pouco da realidade do país e era cheio de bravatas. Em um cenário de 'demonização' da esquerda, do PT e do Lula – fora tudo que se sabe de fake news –, acabou se beneficiando desse cenário e vencendo a eleição", destaca a especialista.
Análise semelhante é feita pelo cientista político Carlos Melo, do Insper. Segundo ele, hoje não existe exclusivamente o antipetismo. "Se nós fomos voltar lá para 2018, na verdade não existia nem o bolsonarismo. Muito menos o antibolsonarismo. Naquela época, quem era apoiador do Bolsonaro não era chamado de bolsonarista, mas de minion", lembra Melo.
Por isso, o cientista político acredita que não é possível reeditar o que foi 2018 e a grande questão daqui para frente será a definição de qual nome vai ser o anti-Bolsonaro. "O centro até agora não conseguiu consolidar esse nome. É aí que o Lula aparece. Ele tem alta rejeição, mas também tem alta intenção de voto. O desafio vai ser aglutinar todo o antibolsonarismo em torno de Lula", afirma.
"Centro esmagado"
Nos últimos meses, uma série de nomes que se apresentam como alternativa a Lula e Bolsonaro tem surgido. Entre eles estariam o do apresentador Luciano Huck , o ex-juiz Sergio Moro , os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Ciro Gomes , além dos governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul).
Na avaliação de Carlos Melo, no entanto, a tendência é que essas candidaturas sejam "esmagadas". "Se não tiver uma unidade, todos eles juntos não vão dar a soma de um Bolsonaro ou meio Lula. Se Bolsonaro e Lula fizerem uma expansão ao centro, eles vão ser esmagados", diz.
O problema, segundo o cientista político, é que Bolsonaro não sabe fazer essa leitura. "Nós sabemos que o Bolsonaro não faz uma boa análise da realidade.E isso é um desastre para qualquer governante. Ele fez o que no futebol nós chamamos de 'entrar de salto alto'. Para ele, foi feito tudo o que podia ser feito na pandemia. Ele faz um auto-engano", afirma Melo.