O deputado e presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), negou nesta quarta ao GLOBO ter participado em março de uma suposta reunião na embaixada do Paraguai em Brasília com representantes do governo de Assunção e do grupo Léros. O grupo, segundo denúncias divulgadas pela imprensa do país vizinho, teria tentado negociar benefícios numa operação de compra da energia paraguaia produzida pela hidrelétrica binacional de Itaipu.
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Na terça, o PT fizera um requerimento à Câmara e à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para que sejam investigadas a suposta relação entre o grupo e o governo Bolsonaro e a suposta tentativa do Planalto de favorecê-lo em suas negociações com a estatal Ande (a Eletrobras paraguaia).
O encontro na sede diplomática também foi desmentido pelo ex-embaixador do país no Brasil, Hugo Saguier, afastado do posto após o escândalo desencadeado no Paraguai pela revelação de uma ata secretaselada pelos dois países, em maio, sobre a energia produzida por Itaipu . Pelo acordo, o Paraguai aceitava pagar mais pela energia que consome da hidrelétrica. A ata foi anulada em 1º de agosto, após sua existência ter sido revelada.
O filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que nunca pisou na representação paraguaia no Brasil. A questão fora colocada pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) no âmbito da comissão presidida por Eduardo Bolsonaro . "Rechaço frontalmente essa informação", afirmou o deputado.
Procurado, Pimenta esclareceu que não acusou de nada o colega do PSL, apenas protocolou algumas perguntas na comissão. "Não estamos acusando Eduardo Bolsonaro. Queremos que ele responda as questões", disse Pimenta.
Desde a semana passada, circulam denúncias no Paraguai que vinculam o governo e a família Bolsonaro a uma suposta manobra para favorecer o grupo Léros numa licitação no Paraguai. Essas denúncias surgiram em meio a uma grave crise política na qual mergulhou o governo do presidente Mario Abdo Benítez , em consequência da divulgação do acordo secreto com o Brasil. Segundo cálculos feitos no país, o Paraguai teria um prejuízo anual de US$ 200 milhões ao aceitar comprar mais da “energia garantida”, a mais cara produzida em Itaipu.
De acordo com o advogado José Rodríguez González , que disse ter representado o vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez , nas negociações entre seu país e o Brasil, durante as conversas foi discutido um negócio entre o grupo Léros e a Ande. Nesses encontros, sempre segundo Rodríguez, participaram representantes da Léros e o empresário brasileiro Alexandre Giordano , suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP).
Em chats de WhatsApp aos quais o jornal O Globo teve acesso, o advogado diz ao então presidente da Ande , Pedro Ferreira, que era necessário excluir alguns pontos do acordo bilateral para não prejudicar uma negociação (em referência ao grupo Léros). Em algumas das mensagens do advogado, o grupo é identificado entre parênteses como “governo do Brasil”. Rodríguez disse, ainda, que nas reuniões Giordano se apresentou como representante do governo e da família Bolsonaro.
Pimenta perguntou ao deputado Bolsonaro se conhecia Giordano. Ao jornal O Globo , Eduardo Bolsonaro respondeu ter conhecido o empresário em São Paulo, quando este trabalhou na campanha de Olímpio. Perguntado se Giodarno teria usado o nome da família Bolsonaro para se projetar, o deputado afirmou: "Se usou, foi sem nossa autorização".
Giordano e Kleber Ferreira, diretor do grupo Léros, confirmaram as reuniões no Paraguai. O suplente de Olímpio, porém, nega ter usado o nome da família ou do governo Bolsonaro. Consultado, o senador do PSL disse ter perguntado a seu suplente sobre as denúncias: "Ficou a palavra dele contra a palavra do advogado... Na dúvida, fico com a palavra do Giordano".
Já o diretor do grupo Léros desmentiu qualquer tipo de relação com o PSL, o governo ou a família presidencial. O empresário disse que seu grupo respondeu a um chamamento para comprar energia da Ande e que em sua proposta foi pedida exclusividade, mas negou uma negociação paralela.
Hoje, o Paraguai é obrigado a vender a chamada “energia adicional” de Itaipu (bem mais barata do que a garantida) diretamente à Eletrobras, mas reivindica poder negociá-la com terceiros países e no mercado livre brasileiro. Diante da crise política, os dois países recuaram para evitar um pedido de impeachment de Abdo Benítez, acusado pela oposição de traição à Pátria.
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Ontem, a maioria do governista Partido Colorado se ausentou da sessão ordinária da Câmara para evitar dar entrada ao pedido de abertura de impeachment apresentado pela oposição.