Nesta quinta-feira (1º), o presidente Jair Bolsonaro e a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves , trocaram quatro dos sete integrantes da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, em decisão publicada na edição do Diário Oficial da União (DOU). Após a divulgação, a responsável pela pasta foi questionada sobre uma possível represália aos substituídos, mas garantiu que as mudanças já estavam planejadas.
Leia também: "Agora o presidente é de direita", diz Bolsonaro sobre Comissão de Desaparecidos
"É uma grande coincidência. Se olharem o oficio, eu acredito que é de maio. Eu tinha muita pressa para trocar essa comissão. Ela está há muito tempo, por exemplo com as ossadas de Perus", afirmou a ministra Damares , em entrevista ao canal Globo News.
Em nota, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos corroborou a declaração da ministra, apontando que as mudanças estavam planejadas desde o último dia 28 de maio e eram parte de uma iniciativa para "otimizar os trabalhos" do grupo.
"O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos esclarece que as trocas promovidas na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, apesar de concluídas agora, foram solicitadas em 28 de maio como parte de iniciativa para otimizar os trabalhos. O interesse deste Ministério é acelerar o serviço para que os familiares requerentes obtenham a respostas sobre o paradeiro de seus entes queridos", diz o texto.
Você viu?
A mudança na composição da comissão chega dois dias depois de Bolsonaro contrariar dados de documentos oficiais e atribuir a morte do ex-militante Fernando Santa Cruz a guerrilheiros de esquerda, em ataque ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, filho do estudante preso pela ditadura militar em 1974.
A Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério dos Direitos Humanos havia emitido, na semana passada, um atestado de óbito que contrastava com a versão paralela do presidente para o desaparecimento de Fernando Santa Cruz.
Ex-presidente vê represália
Substituída por um advogado filiado ao PSL e assessor da ministra Damares Alves, a procuradora regional da República Eugênia Augusta Gonzaga disse que já esperava alteração na composição do órgão desde a posse do presidente Jair Bolsonaro.
Para Eugênia, "ao que tudo indica", a sua exclusão "foi uma represália por sua postura diante dos últimos acontecimentos". Nesta semana, a procuradora criticou declarações de Bolsonaro que ironizavam a morte de um perseguido político em ataque direto ao atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil ( OAB ), filho do ex-militante Fernando Santa Cruz, preso por agentes da repressão e desaparecido desde 1974.
Leia também: Bolsonaro posta vídeo inédito de socorro e lembra dia de ataque em campanha
"Lamento muito. Não por mim, pois já vinha enfrentando muitas dificuldades para manter a atuação da CEMDP desde o início do ano, mas pelos familiares. Está nítido que a CEMDP, assim como a Comissão de Anisita, passará por medidas que visam a frustrar os objetivos para os quais foi instituída", ressaltou Eugênia, na nota.