Coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol
Lula Marques/Agência PT
Coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol

O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, recebeu, em 2018, R$ 33 mil para fazer uma palestra para a empresa Neoway, que havia sido citada dois anos antes em um acordo de delação premiada. A informação, publicada nesta sexta-feira (26) pelo jornal Folha de S.Paulo , em parceria com o site The Intercept , faz parte de série de reportagens baseadas na troca de mensagens entre os procuradores da Lava-Jato no aplicativo Telegram. 

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Além de dar a palestra, em março de 2018, segundo a Folha, Dallagnol gravou um vídeo em que elogia o uso de ferramentas tecnológicas da empresa em investigações contra corrupção. No grupo de Whatsapp dos procuradores, ele chega a demonstrar a preocupação de que a gravação poderia ser entendida como se ele estivesse "vendendo o produto deles". Ele afirma que essa não foi a intenção.

“Olhem que legal. Sexta vou dar palestra para a Neoway, do Jaime de Paula. Vejam a história dele: https://endeavor.org.br/empreendedores-endeavor/jaime-de-paula/. A neoway é empresa de soluções de big data que atende 500 grandes empresas, incluindo grandes bancos etc", escreveu Dallagnol a um grupo de procuradores na época. 

O procurador Júlio Noronha, também integrante da força-tarefa, respondeu pedindo que ele conseguisse marcar uma reunião com representantes da empresa para agregar soluções tecnológicas ao Laboratório de Investigação Anticorrupção (Lina). "“Exatamente. Isso em que estava no meu plano. Vou até citar ele na palestra pra ver se sensibilizo kkkk”, respondeu Dallagnol.

Quatro meses após a palestra, Deltan Dallagnol escreveu no chat que mantinha com outros procuradores que acabara de descobrir que a Neoway havia sido citada na delação do lobista Jorge Luz, que atuava para o MDB. No entanto, de acordo com o The Intercept Brasil, a empresa já havia aparecido em documentos oficiais em duas ocasiões: o rascunho da proposta de delação, em 2016, e em novos depoimentos de Luz, em 2017. Ambos foram enviados para o grupo de Telegram do qual o procurador fazia parte. 

“Isso é um pepino pra mim. É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a LJ), porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende tecnologia para compliance e due diligence, jamais imaginando que poderia aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada”, afirmou o procurador na conversa.

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Em sua delação premiada, em 2016, Luz afirma que atuou em favor da Neoway em um projeto de tecnologia da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. O delator afirma que pagou o então deputado federal Cândido Vaccarezza e o atual deputado federal Vander Loubet (PT-MS) para aproximar as duas empresas entre 2011 e 2012. Neste caso, diz Luz, não houve pagamentos a funcionários da Petrobras.

A situação levou Dallagnol e outros procuradores que haviam mantido contato com a Neoway a deixarem as investigações relativas a Jorge Luz, segundo a Folha. Porém, apenas em 4 de junho de 2019 o procurador enviou um ofício ao corregedor do MPF confessando que havia participado da palestra.

O ofício foi enviado cinco dias antes do The Intercept começar a publicar os diálogos, mas acabou arquivado, segundo o procurador, porque entendeu-se "não haver nada de errado" com o episódio.

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Em nota, o Ministério Público Federal informou que Dallagnol atuou "com absoluta correção". "Ele não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas aos integrantes da força-tarefa, que são fruto de crime e não tiveram contexto e veracidade confirmados", diz a nota. A Procuradoria diz ainda que Deltan nunca participou das negociações da delação de Luz, que correu na Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília. Assim que recebeu os depoimentos que citavam a Neoway, em junho, Deltan "declarou-se suspeito e o caso foi redistribuído".


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