Deltan Dallagnol
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - 14.11.16
Novas mensagens de Deltan Dallagnol podem indicar interferência em julgamentos no TRF4

Em novo vazamento de mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil e divulgadas pela revista Veja , o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol diz a colegas do MPF que mantinha “encontros fortuitos” com o desembargador João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF-4). Ele também informa que teria trocado informações com o desembargador.

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“O Gebran tá fazendo o voto e acha provas de autoria fracas em relação ao Assad”, disse Dallagnol em mensagem enviada a um grupo com outros procuradores. Gebran é o relator dos processos da Lava Jato no TRF-4, tribunal que julga em segunda instância os casos da operação em Curitiba. 

Eles se referem a Adir Assad, um dos operadores de propinas da Petrobras e de governos estaduais. Assad foi preso inicialmente em março de 2015 e, em setembro do mesmo ano, foi condenado pelo então juiz Sergio Moro a nove anos e dez meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. 

Cinco meses antes do julgamento de Assad em segunda instância, Dallagnol também conversou com o procurador Carlos Augusto da Silva Cazarré, da força-tarefa da Procuradoria Regional da República da 4ª Região, que atua junto ao TRF-4. Ele pediu a Cazarré que descobrisse se o desembargador pretendia absolver o réu.

“Cazarré, tem como sondar se absolverão assad? (…) se for esse o caso, talvez fosse melhor pedir pra adiar agilizar o acordo ao máximo para garantir a manutenção da condenação…”. Nessa época, Assad negociava com o MPF um acordo de delação premiada e uma possível absolvição poderia prejudicá-lo.

Cazarré responde que falou com o magistrado há cerca de dois meses. “não achei q fisse (sic) absolver… Acho difícil adiar”. Dallagnol então volta a citar conversas suas com Gebran: “Falei com ele umas duas vezes, em encontros fortuitos, e ele mostrou preocupação em relação à prova de autoria sobre Assad…”, disse. E completa brincando: “Nova modalidade de investigação: encontro fortuito de desembargador”.

Por fim, Dallagnol pede ao colega que os encontros que ele citou sejam mantidos em sigilo “para evitar ruído”. Mensagens divulgadas anteriormente apontam que o procurador do MPF mantinha conversas constantes com o então juiz Sergio Moro, responsável por julgar os casos da Lava Jato em primeira instância. Novo vazamento indica que processos da Lava Jato podem ter sofrido interferência também na segunda instância.

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A revista Veja procurou Deltan Dallagnol, mas ele não quis se manifestar. João Pedro Gebran Neto, por sua vez, respondeu à Veja dizendo que “em relação ao réu Adir Assad (ou qualquer outro réu), trata-se de questão processual e que somente autoriza manifestação nos autos, pelo que nunca externei opinião ou antecipei minha convicção sobre qualquer processo em julgamento.” Os dois negaram a autenticidade das mensagens. 

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