O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passaram a última sexta-feira (22) e também este sábado (23) protagonizando um duelo de declarações, espaçadas e à distância, a respeito da tramitação do texto da Nova Previdência no Congresso. As declarações contaram com críticas duras feitas por ambas as partes.
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Bolsonaro estava em uma viagem pelo Chile e Rodrigo Maia continuava no Brasil. No entanto, com a ajuda das redes sociais e da imprensa, os dois conseguiram discutir em público, sem nunca se encontrarem. O uso das redes sociais oficiais de Bolsonaro, inclusive, foi alvo de críticas de Maia.
Contexto: críticas a Rodrigo Maia
Tudo começou quando, Maia, um dos principais articuladores da reforma da Previdência no Congresso, foi criticado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, em uma publicação nas redes sociais, durante a semana.
Na publicação em questão, Carlos comentou um outro embate, entre Maia e o ministro da Justiça, Sergio Moro
. Maia e Moro divergem em relação a votação do pacote anticrime apresentado pelo ministro e Carlos se posicionou ao lado do ex-juiz, criticando a decisão do deputado de priorizar a Previdência em detrimento do pacote.
A decisão de Maia, no entanto, era em respeito a uma combinação feita com o próprio presidente da República. Jair Bolsonaro havia solicitado a Maia que priorizasse tramitação da reforma da Previdência sobre qualquer outro tema. No entanto, diante das críticas do filho de Bolsonaro, o presidente da Câmara se irritou.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo , Maia disse ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que, se é para ser atacado nas redes sociais por filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda. Com isso, sinalizou que deixaria a articulação do tema. Mais tarde, em entrevista ao jornal O Globo, na última sexta, Maia sinalizou que iria esperar o Planalto tomar as rédeas da articulação.
Início da discussão de Bolsonaro e Rodrigo Maia
Desde então, Bolsonaro e Maia começaram a discutir. Em entrevista no Chile, o presidente afirmou, ainda na sexta, que " não deu motivos para Maia sair " e que queria conversar com o presidente da Câmara.
"Eu quero saber o motivo que ele está saindo [da articulação da Previdência]. (...) Estou sempre aberto ao diálogo. Eu estou fora do Brasil, mas quero saber qual o motivo, mais nada. Eu não dei motivo para ele sair", afirmou. Questionado sobre como trazer Maia "de volta" para a articulação, respondeu que era preciso conversar e comparou a situação com uma crise de namoro.
"Só conversando, não é? Você nunca teve uma namorada? E quando ela quis embora, o que você fez para ela voltar? Conversou? [...] Estou à disposição para conversar com o Rodrigo Maia, sem problema nenhum", declarou Bolsonaro.
Pela noite de sexta, Maia, ainda magoado, disse que o presidente precisava se engajar mais para cuidar da Previdência, em detrimento do seu conhecido engajamento nas redes sociais. Bolsonaro se comunica oficialmente pelo seu perfil no Twitter.
"Ele [Bolsonaro] precisa ter um engajamento maior. Ele precisa ter mais tempo pra cuidar da Previdência e menos tempo cuidando do Twitter, porque, senão, a reforma não vai andar", afirmou. No entanto, Maia garantiu que iria continuar assumindo o seu papel de coordenação dos votos na Câmara.
"O meu papel eu vou continuar cumprindo, coordenando dentro da Câmara a aprovação da reforma e [...] colocando de forma clara na figura do presidente da República a responsabilidade dele [de] conduzir, por parte do governo, a aprovação da reforma", disse.
Neste sábado (23), Maia fez um novo comentário sobre o assunto, retomando a discussão. "É importante que o governo acerte na articulação. E ele não pode terceirizar a articulação como ele estava fazendo. Quer dizer, transfere para o presidente da Câmara e para o presidente do Senado uma responsabilidade que é dele", diz.
E acrescentou: "E [ele] fica transferindo e criticando: 'Ah, a velha política está me pressionando, estão me pressionando'. Então ele precisa assumir essa articulação, porque ele precisa dizer o que é a nova política", disse.
Após ser informado sobre a declaração de Maia, Bolsonaro comentou a respeito da "velha política" e disse, na manhã de hoje, no Chile, que, mesmo "calado" e fora do Brasil, ocorrem atritos no País. "Alguns, não são todos, não querem largar a velha política , que infelizmente nos colocou nesta situação bastante crítica em que nos encontramos", afirmou.
Nesta tarde, antes de embarcar de volta ao Brasil, o presidente retomou o assunto e perguntou o que esperavam que ele fizesse. "O que é articulação? O que está faltando eu fazer? O que foi feito no passado? Eu não seguirei o mesmo destino de ex-presidentes, pode ter certeza disso", disse o presidente, se remetendo aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (MDB), ambos presos.
"A bola está com ele [Maia]. Eu já fiz a minha parte. Entreguei. E o compromisso dele, regimental, é despachar e o projeto andar dentro da Câmara. Nada falei contra Rodrigo Maia, muito pelo contrário. Estou achando que está havendo um tremendo mal-entendido. O Brasil é maior do que todos nós", afirmou.
"O Rodrigo Maia, eu nunca o critiquei, eu não o critiquei. Não sei por que ele de repente está se comportando dessa forma um tanto quanto agressiva", continuou o presidente, incitando uma nova réplica de Maia.
"Eu vivo num país democrático, e dentro daquilo que vocês me perguntam, e que a sociedade me demanda, eu falo o que acredito. Sem nenhum tipo de agressão a ninguém, né? Até porque eu não uso as redes sociais para agredir ninguém", disse Maia.
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"Eu uso as redes sociais para dar informação aos meus eleitores, à sociedade brasileira. Assim tenho me portado desde que assumi meu primeiro mandato de deputado federal e na Presidência da Câmara", completou Rodrigo Maia . Ele e Bolsonaro devem se encontrar neste domingo (24) em Brasília.