O laudo de exame de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que Letícia Marinho Sales, de 50 anos, foi morta com um único tiro no peito . De acordo com o documento, a bala provocou "diversas perfurações nos pulmões" e causou hemorragia interna. Segundo o namorado de Letícia, que estava com ela no momento, o tiro foi disparado pela polícia durante confronto das equipes com traficantes do Complexo do Alemão , Zona Norte do Rio, na quinta-feira (21) durante uma operação.
"O corpo foi atingido por um único projetil de arma de fogo, já deformado, produzindo orifício de entrada atípico na região peitoral direita, fragmentação ao impactar o segundo arco costal, trajeto dos fragmentos da direita para esquerda, produzindo diversas perfurações nos pulmões, traqueia, esôfago e aorta abdominal, com consequente hemorragia interna", diz o documento do IML.
Letícia foi baleada na última quinta-feira, durante uma operação das polícias civil e militar no Complexo do Alemão. Em dois dias de ações do estado na comunidade, 18 pessoas morreram no local.
Ela foi atingida quando estava dentro do carro do namorado na Estrada do Itararé, logo após sair da igreja e parar em um sinal de trânsito. O local é um dos principais acessos ao Complexo do Alemão.
O corpo de Letícia foi enterrado na manhã deste sábado (23), no cemitério São Francisco Xavier, no Caju. Ela deixou três filhos e três netos .Moradora do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, Leticia visitava a comunidade toda semana para ajudar uma amiga que é pastora. Na quinta-feira, ela estava voltando para casa depois de ajudar a organizar uma festa.
Segundo Lucilene Mendes da Silva, cunhada de Letícia, não havia tiroteio no momento. Para ela, os policiais atiraram porque acharam que o carro da cunhada poderia ser de bandidos.
"Nem todo mundo que tem carro no morro é traficante. O menino que estava no carro com ela falou que abaixou o vidro do carro e eles saíram atirando nela", disse Lucilene, durante o velório da cunhada.
Além de Letícia e o namorado, o primo dele também estava carro. Jaime Eduardo da Silva ficou ferido por estilhaços provocados pelos disparos.
"Fomos alvejados por policiais despreparados, desqualificados. Não tinha bandido. Não estava tendo tiroteio. Foi dado para matar. Porque o policial atravessou na frente do nosso carro e deu o tiro", disse Jaime.