O ônibus que foi alugado por moradores do Complexo do Alemão para levar amigos e parentes ao velório de Letícia Marinho Sales, de 50 anos, foi parado por policiais quando trafegava pela Penha, na manhã deste sábado (23).
Segundo o relato, quando passaram pela viatura, algumas pessoas começaram a xingar os policiais que estavam em uma viatura na Avenida Braz de Pina. Por esse motivo, segundo os ocupantes, os PMs interceptaram o ônibus de forma truculenta e tentaram revistar os passageiros. Letícia foi morta ao ser baleada no peito durante operação na comunidade na quinta-feira (21). O sepultamento foi realizado neste sábado no Cemitério do Caju.
O sobrinho de Letícia, o vigilante Neilson Salles, de 33 anos, relatou que os policiais pediram para que todos descessem do ônibus. O clima ficou tenso.
"Por causa de vocês estamos enterrando um ente querido. Eles fazem prova e não estão preparados. Precisam no mínimo respeitar a dor do próximo. Agiram com truculência no momento de extrema dor. Queremos justiça. Eles entram na favela sempre da mesma forma. Vamos lutar por dias melhores", disse.
Ágata Letícia, amiga de Letícia que estava no ônibus, afirmou que os policiais não queriam liberar o coletivo.
"Eles têm que entender que não é todo mundo que mora em comunidade que é bandido. Eles fizeram uma arruaça gritando: abre a porta! E a gente dizendo que estava indo para o enterro", contou.
Na quinta-feira (21), dia da operação policial conjunta, quando Letícia e o namorado, Denilson Glória, passavam pela Estrada do Itararé, uma das principais vias que corta a favela, o carro em que eles estavam foi atacado. Um tiro acertou o retrovisor do carro e em seguida bateu no peito de mulher. Denilson acusa policiais militares pelo ataque. Ela foi levada para a UPA do Alemão. Entretanto, já chegou morta.
Mãe de três filhas e avó de três netos, Letícia havia acabado de fazer um curso de vigilante para voltar ao mercado de trabalho. Ela estava desempregada e morava na comunidade Beira-Rio, no Recreio dos Bandeirantes, local que fica a 30 quilômetros. Ela foi até a Vila Cruzeiro no dia anterior à operação para ajudar uma amiga pastora e visitar as filhas que moram na região.
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