Conhecido como “matador de policiais” no estado do Pará, Hideraldo Alves, de 27 anos, foi atingido durante a operação das polícias Civil e Militar no Complexo do Alemão nesta quinta-feira . Ferido nas pernas, ele deu entrada na UPA do Alemão, Zona Norte do Rio, se apresentando como Adriano Castro Pires. Após identifica-lo corretamente, foi constatado que havia um mandado de prisão em aberto. “Esquilo”, como é chamado, está sob custódia da Polícia Militar e permanecerá preso. Ele também foi atuado em flagrante pelo uso de documento falso.
A Polícia Civil também investiga se Hideraldo tem ligação com o roubo a uma joalheria em um shopping de luxo no início do mês, na Barra da Tijuca . Durante a fuga dos criminosos um segurança foi morto.
"Há uma grande possibilidade de que exista essa relação, porque sabemos que esses criminosos do Pará estão escondidos no Complexo do Alemão", afirmou o delegado Ronaldo Oliveira subsecretário operacional da Polícia Civil em coletiva nesta quinta-feira.
18 mortos na operação
A operação no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, deixou pelo menos 18 mortos ontem — entre eles, um policial militar atacado dentro da base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e uma mulher que passava de carro. Durante dez horas, agentes da Polícia Civil e da PM vasculharam as comunidades da região, que teve as principais vias fechadas, assim como postos de saúde, escolas e quase todo o comércio. Traficantes reagiram com balas traçantes contra helicópteros das forças de segurança, em imagens que chocaram as redes sociais, e empregando táticas de guerrilha, como o uso de óleo em ladeiras para atrapalhar o avanço dos veículos blindados. Ao fim da ação, a PM divulgou que foram apreendidos quatro fuzis, duas pistolas e uma metralhadora .50, destinada a abater aeronaves, além de 56 artefatos explosivos.
"Não há saldo operacional positivo que possa suplantar a perda de vidas inocentes", reconheceu o coronel Rogério Quemento Lobasso, subsecretário de Gestão Operacional da corporação. Bandidos fogem por escadaria durante tiroteio no Complexo do Alemão
Aos 38 anos, o cabo Bruno de Paula Costa, lotado na UPP Nova Brasília, estava na PM desde 2014. Ele deixou mulher e dois filhos autistas. O presidente Jair Bolsonaro lamentou a morte do agente e escreveu que o Rio “tem áreas de exclusão, onde a PM não pode agir, por decisão do Supremo Tribunal Federal” . Já Letícia Marinho Salles, de 50 anos, era moradora do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, mas estava no Alemão quando o tiroteio começou. Ela era mãe de três filhos, que já haviam perdido a avó há menos de uma semana.
"Estou desnorteado. A mãe dela acabou de morrer por velhice, e hoje aconteceu isso. Ela estava na minha casa, na Penha, e nós viemos para cá (Alemão) tomar café na minha tia. Nessa hora não tinha disparo. Nós paramos em um sinal e, logo depois, meu carro foi alvejado. Ela foi atingida no peito", contou, ainda emocionado, o namorado de Letícia, Denilson Glória.
O Disque-Denúncia (2253-1177) pede informações que possam levar aos responsáveis pelo assassinato do cabo Bruno, que está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). A especializada também apura a morte de Letícia. Embora Denilson tenha apontado policiais como os responsáveis pelos tiros, nem a PM nem a Polícia Civil informaram se algum agente envolvido na operação prestou depoimento ou teve as armas apreendidas.
Ação para coibir roubos
Mais de 400 policiais civis e militares participaram da ação, que empregou ainda quatro aeronaves e dez veículos blindados. As tropas de elite das duas corporações — Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e Batalhão de Operações Especiais (Bope), respectivamente — comandaram as varreduras. Já a Polícia Rodoviária Federal (PRF) participou do cerco ao conjunto de favelas, patrulhando acessos e ruas próximas.
As autoridades responsáveis pela operação comunicaram que ela foi planejada a partir de informações de inteligência, sendo realizada em dia e horário “escolhidos a dedo para evitar ao máximo o confronto”. Os principais alvos eram quadrilhas especializadas em roubos de veículos, de carga e de combustível na capital e na Baixada Fluminense, além de assaltos a agências bancárias no interior fluminense. Ainda segundo as forças de segurança, bandidos da região também se preparavam para atacar, em breve, áreas controladas por facções inimigas.
"Os criminosos estavam com roupas similares às das polícias para cometer atentados dentro da nossa cidade, como roubos a instituições financeiras e invasão a comunidades rivais", afirmou o tenente-coronel Uirá Nascimento, comandante do Bope.
No início da noite, quatro bandidos que tentavam fugir da operação foram presos na comunidade da Galinha, em Inhaúma. Já Hideraldo Alves, de 27 anos, conhecido como “matador de policiais” no estado do Pará, deu entrada na UPA do Alemão ferido e portando documento falso, mas foi identificado ao ser transferido para o Hospital estadual Getúlio Vargas, onde é mantido sob custódia. A Polícia Civil investiga se ele e outros criminosos paraenses que vêm se escondendo no Alemão têm relação com o roubo a uma joalheria em um shopping de luxo na Barra da Tijuca, no início do mês . Um segurança morreu durante o assalto.
Dados do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni), vinculados à Universidade Federal Fluminense (UFF), apontam que, com 18 mortos, a operação no Complexo do Alemão é a quarta mais letal da história da cidade do Rio. Ela fica atrás de outra incursão no mesmo conjunto de favelas, em 2007, com 19 óbitos, e de duas ações ocorridas no período de pouco mais de um ano: uma no vizinho Complexo da Penha, com 24 mortes, há apenas dois meses, e a outra no Jacarezinho, em maio do ano passado, com 28 óbitos.
“Nossas forças de segurança foram covardemente atacadas hoje cedo durante uma grande operação no Complexo do Alemão para prender criminosos. Um policial foi morto e outro, baleado. Lamento profundamente a morte do nosso agente e me solidarizo com a família”, escreveu o governador Cláudio Castro no Twitter, ainda durante a manhã. Mais tarde, ele voltou à rede social e anunciou que acabara de conversar ao telefone com o ministro da Justiça, Anderson Torres. “Estamos levantando informações sobre os criminosos que atacaram nossos policiais no Alemão. Enviaremos os resultados da investigação ao ministério para que esses criminosos sejam conduzidos para presídios federais”, disse.
Denúncias de violações
Ao longo de todo o dia, representantes da Defensoria Pública, do Conselho Estadual de Direitos Humanos e de comissões da OAB-RJ e da Assembleia Legislativa do Rio acompanharam os desdobramentos da operação. Eles relataram ter recebidos denúncias de invasões a domicílio, suspeitos mortos já rendidos e outras supostas violações.
"Em contato com a população e com líderes comunitários, ouvimos denúncias de cenas de crime sendo desfeitas, feridos sem receber socorro, pessoas ameaçadas de execução sumária, agressões. Como a situação ainda não está estabilizada, não conseguimos sequer entrar para checar esses relatos", afirmou o ouvidor-geral da Defensoria Pública, Guilherme Pimentel.
O delegado Fabrício Oliveira, coordenador da Core, disse que, se houver denúncias, elas serão apuradas.
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