Bope afirma que só atirarou contra disparos dos
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Bope afirma que só atirarou contra disparos dos "opositores"

Em seus depoimentos ao  Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) sobre a ação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) afirmaram que só revidaram os tiros, sem ver quem eram seus "opositores".

Segundo alguns dos sete PMs da tropa de elite ouvidos pelos promotores que atuam na Auditoria Militar, os disparos partiram de um mangue localizado atrás de uma igreja abandonada na localidade conhecida como Palmares. A ação policial resultou nas mortes de nove pessoas, sendo oito só nesta região alagadiça.

Não há praticamente contradições nos depoimentos dos policiais. Os depoimentos tomados pelos promotores da Auditoria Militar começaram uma semana depois das mortes ocorridas no  Complexo do Salgueiro. Os agentes da equipe Delta do Boperelataram que foram render os colegas do grupo Charlie, no domingo, dia 21, numa operação policial.

Como a ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, conhecida como "ADPF das Favelas", determina que as ações sejam feitas só em casos "excepcionais", o Bope, em seu comunicado ao MPRJ, justificou que a incursão era para "restabelecer a ordem na área conflagrada", depois da morte do sargento da PM Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, do 7º BPM (São Gonçalo).

Ele foi atingido por tiros durante um patrulhamento na localidade de Itaúna, no Complexo do Salgueiro, para evitar a saída de traficantes da região. Também foi alegado na comunicação enviada à Coordenação do Grupo Temático Temporário - ADPF 635, do MPRJ, que havia a necessidade da retirada de agentes no interior da favela.

De acordo com os policiais ouvidos, o grupo Delta se dividiu em quatro blindados, descendo a Estradas das Palmeiras, espinha dorsal da comunidade. Segundo um deles, havia muitas dificuldades para entrar, por causa dos obstáculos ao longo da via.

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Enquanto dois policiais ficaram encarregados de retirar a barricada, outros dois agentes trocavam tiros. Havia mais cinco que desembarcavam dos blindados para dar fazer a contenção, o que é chamado no jargão militar de ação para traçar o perímetro de segurança.

Duas equipes Delta ficaram ao longo do caminho, com o objetivo de evitar que os bandidos fechassem os acessos para o retorno dos policiais, de acordo com os depoimentos. Segundo os policiais, outros dois blindados seguiram até chegar a um conjunto habitacional conhecido como Conjunto da PM. Foi neste ponto, conforme os relatos, que eles foram recebidos com artilharia mais pesada. Próximo do local havia uma igreja abandonada, na qual havia informações anônimas de que ela seria usada como esconderijo de drogas e armas do tráfico.

Ao descreverem a localização da igreja, os policiais contaram que havia um mangue atrás dela, de onde estavam partindo os disparos na direção da tropa. Depois de fecharem o quarteirão, onde havia inclusive construções beirando o mangue e, do lado oposto, uma área elevada de mata, houve a troca de tiros. Segundo os PMs, era um "terreno bastante alagadiço".

Eles não entraram, mas disseram que a água chegava no pescoço em alguns pontos, além da densa vegetação que os impediria de ver quem atirava. No relato, um deles detalha que se orientava pelo barulho dos disparos e por onde os tiros pegava nas paredes da igreja, usada como abrigo.

Havia uma orientação genérica do local, conforme o depoimento, de onde os atiradores estavam escondidos no mangue. Por isso, eles afirmaram que não viram se alguém morreu no confronto. Os policiais contaram que ficaram dentro e fora da igreja.

Um dos PMs contou que informou as condições "desvantajosas" da equipe para o comandante do Bope, tenente-coronel Uirá Ferreira, que determinou que o grupo retornasse. Já se passava das 16h de domingo.

Um deles usou o termo "balão apagado", o que significa que a noite estava chegando. A ordem do comando foi que procurassem a delegacia da região para fazer o registro do material apreendido na igreja. De acordo com o depoimento de um dos "caveiras", havia grande quantidade de drogas no local. Nenhuma arma de grosso calibre foi apreendida.



De acordo com os laudos feitos pela perícia do Instituto Médico-Legal da Polícia Civil, foram constatados 44 tiros nos nove corpos encontrados no Complexo do Salgueiro. Há lesões causadas, de acordo com os peritos, por projéteis de alta energia como, por exemplo, fuzil.

Oito corpos tinham marcas de tiros na cabeça, outros também tinha perfurações pelas costas. O titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), Bruno Cleuder, informou que não há confirmação de que houve tortura ou cortes com faca. Ele investiga o caso e já ouviu pelo menos três policiais militares do Bope. O objetivo é ouvi-los até o fim da semana.

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