Foto de Pessanha Oliveira nas redes sociais
Reprodução
Foto de Pessanha Oliveira nas redes sociais

Em um relatório interno da Polícia Militar, a corporação aponta que 75 PMs do Batalhão de Operações Especiais (Bope) participaram da ação que culminou na morte de nove homens no último final de semana no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio . De acordo com informações da corporação, desse total de PMs, oito agentes participaram da troca de tiros no Salgueiro. Assim, 8 fuzis, sendo 4 Colt cal. 556 e 4 AR10 cal. 762, serão entregues na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) agora a tarde.

O documento de número 3239, intitulado “Relatório de Término de Operação Policial”, foi assinado eletronicamente pelo major Carlos Eduardo da Silveira Monteiro, do Bope. O material foi direcionado ao Comando de Operações Especiais (COE). Assinado eletronicamente às 7h10 de domingo, 21, ou seja, ainda durante a operação policial. O documento só chegou ao COE na terça, por volta das 9h.

Três dias após a ação, a Polícia Civil ainda não sabe quem são esses agentes e nem conseguiu fazer a apreensão das armas.

Na justificativa do major, no "Relatório de Término de Operação Policial em Área Sensível Durante a Pandemia de Covid-19" expõe os dados da operação, sua justificativa e resultado. Nas justificativas, de três páginas — duas delas com fotos de apreensões — o oficial afirmou que o objetivo da operação foi para "reprimir ações de ataque às viaturas", se referindo ao ataque a uma patrulha do 7º BPM (São Gonçalo) que culminou na morte do sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos. A PM diz que o militar estava na comunidade trabalhando quando foi alvejado. O ataque serviu como justificativa "absoluta excepcionalidade da operação", diz trecho do documento.

O major da polícia de elite destaca ainda que se tornou "imperiosa a atuação" para "restabelecer a ordem na área conflagrada", com objetivo de identificar e prender os autores pela morte do colega e para retirar da comunidade policiais que permaneceram ali após o ataque.

O documento afirma ainda que duas equipes do batalhão participaram da ação: Charlie e Delta. Para justificar as medidas estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que determina diversos cuidados a serem adotados durante uma ação militar, a PM diz que estava com dois veículos blindados, além de uma ambulância para qualquer eventualidade "caso fosse necessário, salvaguardando a vida sempre". No entanto, moradores desmentam a versão oficial. Horas após a saída dos militares, na noite de domingo, oito corpos foram encontrados em um manguezal da região. A Polícia Civil só conseguiu fazer a para a perícia na manhã de segunda-feira.

No material interno, a PM diz que além da ambulância, dos blindados, havia feito "imageamento da área" para "dar maior assertividade às ações das tropas em terra". Moradores confirmam que viram drones sobrevoando a região entre sábado e domingo. Eles não souberam precisar se era do tráfico ou da polícia.

Desde o ano passado, todas as forças de segurança do estado do Rio têm obrigação de justificar todas as operações policiais em favelas do Rio, em caso de excepcionalidade. A decisão partiu do Supremo Tribunal Federal (STF). Na determinação é preciso observar medidas para evitar a letalidade, além de comunicar ao Ministério Público do Estado, em até 24 horas — como foi o caso da operação no Salgueiro, segundo o MP.

Apreensões nos dias das operações

O documento mostra ainda que as duas equipes, Charlie e Delta, produziram resumos de "resultado" da ação. A Charlie afirma que finalizou sua participação às 6h do domingo, após inúmeros tiroteios, e que encontrou grande quantidade de drogas em uma carra abandonada da comunidade. No documento o major afirma que essa guarnição encontrou: uma espingarda calibre 12, 576 frascos assemelhados a cheirinho da loló, um galão contendo substância similar a lança perfume, 120 sacos plásticos contendo material assemelhado ao crack, 588 pinos de pó branco, unidade de pó branco, quatro balanças de precisão, dez rádios comunicadores, 55 munições calibre 7.62 e um Kit Roni — equipamento que aumenta a estabilidade de armas de longo alcance.

Leia Também

De fato essas informações foram divulgadas na tarde de domingo quando a aposentada Carmelita Francisca de Oliveira, de 71, foi baleada durante um tiroteio. Naquele dia a corporação disse que homens armados estavam em uma região de mata do Complexo do Salgueiro e que houve troca de tiros.

Já no resumo da ocorrência da equipe Delta, os militares afirmaram que houve um intenso tiroteio “em patrulhamento na área de mata do Complexo do Salgueiro”, que se acredita ser na localidade conhecida como bairro das Palmeiras. O documento diz ainda que “iniciou-se uma resposta proporcional a injusta agressão executada pelos marginais fortemente armados. Após estabilização do terreno e impossibilidade de avançar mais adiante na mata pelo terreno estar alagado, moradores do local informaram que em uma igreja nas mediações da mata foram abandonados diversos materiais pelos criminosos”. Foi nessa região que no dia seguinte os oito homens foram encontrados por moradores já mortos.

Foram apreendidos pela equipe Delta: uma Pistola HK calibre 9mm, uma pistola Browninng calibre 9mm, 14 munições intactas calibre 9mm, 56 munições intactas de fuzil calibre 7.62, 3 rádios transmissores, um aparelho de pontaria (mira telescópica), 12 carregadores de fuzil calibre AK 47, três carregadores de pistola calibre 9mm, um uniforme camuflado, 3.734 sacolés de pó branco, 3.760 sacolés de materiais assemelhado ao crack, 400 tabletes de maconha (pequenos) e 413 tabletes de maconha (grandes).

No fim, a equipe diz que deixou a comunidade por volta das 19h. Em nenhum momento não há menção no texto de pessoas feridas ou mortas . Como o caso de Igor da Costa Coutinho, de 24 anos, que foi baleado na tarde de domingo dentro da Complexo do Salgueiro, e socorrido por uma viatura do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

As apreensões foram registradas em boletins de ocorrência na 72ª DP (São Gonçalo). Já o registro dos corpos encontrados foi feito na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI). Parantes e moradores estão sendo ouvidos pela especializada.

Como O GLOBO revelou, exames de necropsia feitos nos corpos dos oito suspeitos mortos durante a operação mostram que eles foram atingidos por tiros de fuzil na cabeça e no tórax. Os laudos apontam que eles levaram 42 tiros no total. Não há sinais de tortura nem de ferimentos por facadas ou outro tipo de arma com ação cortante ou perfurocortante.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!