Operação policial no Complexo do Salgueiro resultou em nove mortes
Reprodução/redes sociais
Operação policial no Complexo do Salgueiro resultou em nove mortes

Há três dias a Polícia Civil aguarda da  Polícia Militar os nomes dos policiais que participaram da operação no Complexo do Salgueiro, entre a manhã de sábado (20) e a noite de domingo (21), que culminou na morte de nove homens . Além disso, os investigadores também querem as armas usadas na ação. O objetivo é fazer o confronto das cápsulas encontradas no local das mortes com as balas dos fuzis dos PMs. O estopim para a ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi a morte do sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, do 7º BPM (São Gonçalo), que patrulhava a comunidade na manhã de sábado.

No final da manhã dessa terça-feira, o Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, em São Gonçalo, identificou os corpos de todos os nove homens que foram mortos no Salgueiro. Entre eles o de Igor da Costa Coutinho, de 24 anos, que morreu na tarde de domingo e que a PM relaciona com o ataque a patrulha do 7º BPM no dia anterior. A Polícia Civil afirma que não tem a informação que Coutinho tenha participado do atentado a viatura em que o sargento estava.

Nessa terça-feira, o Ministério Público do Rio também pediu que a PM entregue os nomes de todos os policiais do 7º BPM (São Gonçalo) e do Comando de Operações Especiais (COE) – que o Bope é subordinado. O objetivo é esclarecer como se deu a dinâmica dos fatos e apurar possíveis abusos de conduta. Além disso, o MP também instaurou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para analisar eventuais violações, o que foi relatado por moradores e parentes de mortos na ação. A PM tem afirmado que a ação era necessária, já que criminosos estariam usando escolas com bunker do tráfico.

Quem são os 10 mortos

Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos

O militar estava na PM desde 2006. O agente era lotado no Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM (São Gonçalo). Ele foi alvejado quando patrulhava o Complexo do Salgueiro. O militar chegou a ser levado para a emergência do Hospital estadual Alberto Torres, também em São Gonçalo, mas não resistiu e morreu. O policial militar deixou esposa e dois filhos.

Kauã Brenner Gonçalves Miranda , 17 anos

Filho mais velho de cinco irmãos, segundo a família ele estava com amigos quando teria sido levado por policiais militares e morto. Uma irmã do rapaz disse que ele não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. No entanto, a Polícia Civil afirma que ele estava com roupa camuflada, o que – segundo a investigação – indicaria que ele fazia parte da facção criminosa que age no local.

— Todo mundo gostava dele. Era um irmão bom. Não entendemos o que aconteceu. Minha mãe está a base de remédios com essa tragédia — disse a estudante Kailane Jully Gonçalves, de 15 . — É o mais velho de cinco irmãos irmãos — completou.

Rafael Menezes Alves, 28 anos

Rafael não tinha anotação criminal, mas seu nome constava em um registro de ocorrência relacionado aos crimes de tráfico de drogas e associação em concurso com corrupção de menores. No local do crime, a desempregada Milena Menezes Damasceno, de 35, irmã do homem, contou que ele era nascido e criado na comunidade.

— Meu irmão era nascido e criado aqui. Ele era ajudante de pedreiro e estava na rua quando tudo aconteceu. Ele estava bebendo com os amigos quando os policiais arrastaram ele é fizeram isso. Já sabiam que iriam matar, então por que fazer isso? Por que torturar? Parece que estão matando bicho. Meu irmão não fazia mal para ninguém.

Carlos Eduardo Curado De Almeida, 31 anos

Carlos tinha três anotações criminais: tráfico de drogas e condutas afins, receptação e falsa Identidade. Ele também tinha seis registros de ocorrência como autor de crimes de desobediência, desacato, ameaça, falsa identidade, receptação e tráfico de drogas. Carlos Eduardo era casado e deixou três filhos. Foi sepultado na tarde da terça-feira, no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo.

Jhonata Klando Pacheco Sodré, 28 anos

Nascido e criado no Pará, Jhonata morava no Complexo do Salgueiro há cerca de dois anos. Ele aparece em processos no seu estado de origem por roubo majorado, tráfico de drogas e condutas afins. A mulher de Jhonata contou que o marido, com quem era casada há 9 anos, teria sido retirado de dentro de casa.

— Foi um dia normal. Ele estava deitado com o meu filho de 6 anos. Eles iam arrumando de casa em casa. Eles fizeram uma varredura e levaram todos os homens que suspeitavam que eram bandidos. Ele estava em casa e fizeram essa arruaça. Vivemos momentos guerra e a todo tempo nós estávamos se jogava no chão — disse a estudante de educação física de 25 anos.

Élio da Silva Araújo, 52 anos

O homem possuía uma anotação de 2013, já arquivada, por esbulho possessório, que é quando alguém toma um bem de outra de forma injusta, seja de forma clandestina ou irregular, mas sem o uso de força. Parentes do homem contaram que ele trabalhava como eletricista e morava no Salgueiro há 10 anos.

— Aqui ninguém tinha nada contra ele. Se fosse um tiro eu até aceitava. Mas, eles degolaram o meu irmão. Infelizmente, a justiça funciona assim. Ele morava aqui há 10 anos. Enquanto continuarem assim muitas vítimas serão mortas desse jeito – relatou a funcionária pública Cleonice da Silva Araújo, de 56, irmã de Élio, veio de Maricá, para acompanhar a retirada do corpo.

Ítalo George Barbosa de Souza Gouvêa Rossi, 33 anos

Ítalo, o Sombra, possuía seis anotações criminais: porte ilegal de arma, duas por homicídio qualificado, tráfico de drogas, associação ao tráfico e corrupção ativa e sete registros de ocorrência. Sombra foi enterrado na tarde dessa terça-feira, no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo.

David Wilson Oliveira Antunes, 23 anos

O rapaz não tinha passagens ou anotações criminais. Ele estava entre os oito mortos no Complexo do Salgueiro. Ele também foi enterrado na tarde dessa terça-feira, no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo.

Douglas Vinícius Medeiros De Souza, 27 anos

Também não possuía anotações criminais ou passagens pela polícia. Ele foi o primeiro a ser enterrado, na terça-feira, no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo.

Igor da Costa Coutinho, 24 anos

Sem nenhuma anotação criminal, a Polícia Militar afirma que o homem é um dos acusados do ataque que culminou na morte do sargento da PM. Ele foi morto no domingo.

A cronologia da operação

De acordo com a Polícia Militar, na manhã de sábado o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, foi morto após sua equipe do 7º BPM (São Gonçalo) ser atacada enquanto patrulhava a favela de Itaúna. Socorrido para a emergência do Hospital estadual Alberto Torres, também em São Gonçalo, não resistiu e morreu. Ele era do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM (São Gonçalo).

Após a morte de Leandro, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi acionado e montou uma operação do Complexo do Salgueiro. Ainda no sábado moradores passaram a relatar nas redes sociais intensos tiroteios entre criminosos e os policiais;

Cerca de 24 horas após a morte do sargento, uma idosa de 71 anos foi baleada por uma bala perdida na comunidade do Salgueiro. A aposentada Carmelita Francisca de Oliveira estava em casa quando foi atingida no braço. Socorrida por vizinhos e levada para o Hospital estadual Alberto Torres, no bairro Colubandê. De acordo com a direção da unidade, a idosa chegou por volta das 8h, passou por atendimento e foi liberada;

Por volta das 15h de domingo, Igor da Costa Coutinho, de 24 anos, foi baleado dentro da Complexo do Salgueiro. Segundo a PM, uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionada para socorrê-lo. A PM sustenta que criminosos armados teriam obrigado a ambulância a retirá-lo do local. Ainda de acordo com a assessoria de imprensa da PM, como os paramédicos constaram a morte do homem, o corpo foi levado para a porta da 72 a DP (São Gonçalo).

Após mais de 30 horas, dentro do Complexo do Salgueiro, o Bope deixa a comunidade e registra, segundo a PM, a morte de “um suspeito” na 72 a DP.

Ainda na noite de domingo moradores começam a relatar nas redes sociais a existência de corpos na comunidade;

Na manhã de segunda-feira, moradores começaram a resgatar corpos que estavam dentro de um manguezal do bairro das Palmeiras, no Complexo do Salgueiro. Oito homens estavam mortos e com marcas de tiros. Os corpos foram amontoados em um terreno vazio do bairro.

Após ver as imagens, a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) monta uma operação para periciar e retirar os corpos do local. A instituição alega que só foi alertada das mortes na manhã de segunda-feira.

Horas depois de fazer as perícias, a DHNSGI solicita à Polícia Militar os nomes dos policiais militares que estavam na ação. No entanto, mais de 50 horas após a operação a instituição não enviou o relatório. O Ministério Público do Rio (MPRJ) abre uma investigação independente para apurar o caso.

Na tarde dessa terça-feira, o MPRJ determinou que a PM envie todos os nomes dos policiais do 7º BPM (São Gonçalo) e do Comando de Operações Especiais (COE) – que o Bope é subordinado – que estavam na comunidade entre sábado e domingo. Os promotores exigiram também a escala de trabalho dos agentes entre sábado e a noite de domingo. A promotoria vai analisar possíveis abusos praticados pelos policiais na comunidade.

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