Neste domingo (5), a guerra entre Israel e Hamas completa 30 dias. Desde o dia 7 de outubro, 9.488 pessoas morreram na Faixa de Gaza, incluindo 3,9 mil crianças. Em Israel, 1.400 foram mortos. Ao todo, a guerra já deixou mais de 10,8 mil feridos.
Neste momento, as forças israelenses avançam nos ataques terrestres na Faixa de Gaza , enquanto mantém os bombardeios na região, que enfrenta uma crise humanitária sem precedentes.
Os primeiros ataques e a tática israelense
No dia 7 de outubro, o grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza, fez um ataque surpresa a Israel , invadindo o sul do país e matando pessoas em kibutzim . Os membros do grupo também atacaram um festival de música eletrônica, onde mais de 260 pessoas foram mortas, incluindo três brasileiros: Ranani Glazer , Bruna Valeanu e Karla Stelzer .
Ao todo, cerca de 1.400 pessoas foram mortas em Israel durante os ataques do Hamas, que continua, sem sucesso, disparando mísseis contra o país. Além dos mortos, o grupo também sequestrou israelenses e estrangeiros e os levou para a Faixa de Gaza. De acordo com o último relatório das forças de Israel, o Hamas mantém 239 pessoas em cativeiro.
Logo no dia 7 de outubro, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou guerra contra o Hamas, impondo um cerco total à Faixa de Gaza. O enclave, que tem cerca de 2,2 milhões de habitantes, teve interrompida a entrada de água, alimentos, medicamentos, energia elétrica e combustível.
Ao mesmo tempo, Israel iniciou bombardeios em Gaza, que já duram 30 dias. Escolas, hospitais, casas, padarias, comércio e ruas estão completamente destruídos na região palestina, enquanto a busca por sobreviventes sob escombros continua.
Desde o início da guerra, Israel também vem ordenando que a população palestina deixe o norte da Faixa de Gaza, já que o exército iniciaria uma incursão por terra.
De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1,4 milhão de pessoas deixaram suas casas desde então, número que representa mais da metade da população da Faixa de Gaza. Apesar das promessas de segurança no sul, porém, bombardeios israelenses também têm atingido a região.
Há cerca de uma semana, o exército de Israel começou a realizar a prometida invasão por terra no norte de Gaza, e afirma estar tendo sucesso nos ataques a alvos do Hamas. Por repetidas vezes, Netanyahu e chefes das forças israelenses afirmaram que a vitória é a única opção, e que o país pretende "varrer o Hamas da face da Terra".
De acordo com o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, a guerra em curso está na primeira de três fases . Segundo ele, os objetivos da guerra incluem eliminar o Hamas, destruindo suas capacidades militares e governamentais, e criar um novo "regime de segurança" na Faixa de Gaza, mas excluindo completamente qualquer responsabilidade que Israel tenha sobre o território.
A primeira fase da tática de guerra israelense, segundo Gallant, é a que está em curso. Ela consiste em ataques aéreos e invasão por terra "com o objetivo de destruir operações e danificar infraestruturas, a fim de derrotar e destruir o Hamas".
Finalizada esta etapa, o ministro afirma que a segunda fase terá combates contínuos, mas com menor intensidade, a fim de "eliminar focos de resistência" do Hamas.
"O terceiro passo será a criação de um novo regime de segurança na Faixa de Gaza, a remoção da responsabilidade de Israel pela vida cotidiana na Faixa de Gaza e a criação de uma nova realidade de segurança para os cidadãos de Israel e residentes da área ao redor de Gaza", disse Gallant.
Crise humanitária em Gaza
A tática israelense tem deixado uma crise humanitária sem precedentes em Gaza. Com quase metade da população deslocada, os abrigos estão operando em superlotação. A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) abriga mais de 670 mil pessoas em 150 abrigos, e alerta que muitas pessoas estão dormindo nas ruas.
Além dos abrigos lotados, faltam itens básicos, como água e alimento. Embora alguns comboios de ajuda humanitária tenham sido liberados em Gaza, a ONU alerta que o auxílio é "completamente inadequado".
Isso porque poucos caminhões foram autorizados a entrar - segundo a Oxfam, Gaza está recebendo cerca de 2% da quantidade de alimento à qual está habituada. Além disso, a entrada de combustível ainda não foi liberada no enclave, o que impede trabalhadores humanitários de distribuírem a ajuda.
Outro problema é a falta de energia. Sem a entrada de combustível e com o corte de energia elétrica, muitos hospitais já pararam de funcionar
por não terem mais como alimentar seus geradores. O mesmo acontece com unidades de dessalinização, que poderiam ajudar a fornecer água potável à população se estivessem funcionando - sem água apropriada para consumo, os habitantes de Gaza estão consumindo água suja.
Negociações internacionais frustradas
Sem capacidade para atender feridos e para acolher e ajudar de forma adequada os refugiados, os agentes humanitários em Gaza têm pedido socorro internacional desde o início da guerra. As negociações globais, porém, ainda não tiveram resultado.
Durante esta guerra, o Conselho de Segurança da ONU, que estava sendo presidido pelo Brasil em outubro, se reuniu algumas vezes para tentar chegar a uma resolução para o conflito. Quatro resoluções foram à votação, mas todas foram vetadas.
Foram duas propostas da Rússia, vetadas pelos Estados Unidos; uma do Brasil, que teve a maior adesão, mas foi vetada pelos EUA; e uma dos Estados Unidos, vetada pela Rússia.
O ministro das Relações Exteriores e representante do Brasil no Conselho de Segurança, Mauro Vieira, disse que o grupo falhou . "Continuamos com um impasse devido a um desentendimento interno, particularmente entre membros permanentes e graças ao persistente uso do conselho para atingir seus próprios propósitos em vez de colocar a proteção de civis acima de tudo", disse ele, em referência a Estados Unidos e Rússia. "Todos estão vendo nossa incapacidade de nos unir e responder a uma crise que nos desafia", acrescentou.
Diante do impasse, a Assembleia-Geral da ONU se reuniu de forma emergencial e aprovou uma resolução simbólica da Jordânia que prevê uma trégua humanitária na Faixa de Gaza. O texto foi aprovado por 120 países; 45 se abstiveram e 14 votaram contra, incluindo Israel e os Estados Unidos.
Depois da aprovação, Netanyahu disse que Israel não aceitaria um cessar-fogo . "Mesmo as guerras mais justas têm vítimas civis não intencionais", disse ele, acrescentando que uma pausa nos bombardeios beneficiaria o Hamas.
Repatriação de brasileiros
Em meio à crise no Oriente Médio, o governo brasileiro atuou para remover das regiões afetadas todos os brasileiros que quisessem regressar ao país. Até o momento, todos os que quiseram deixar Israel e a Cisjordânia tiveram essa possibilidade, mas um entrave continua na Faixa de Gaza.
Ao todo, 1.410 brasileiros que estavam em Israel foram repatriados em oito voos da Força Aérea Brasileira (FAB), que também trouxeram 3 bolivianas e 53 pets:
- 11/10 - Primeira aeronave pousa em Brasília com 211 passageiros
- 12/10 - Segunda aeronave pousa no Rio de Janeiro com 214 passageiros e 4 pets
- 13/10 - Terceira aeronave pousa em Guarulhos com 69 passageiros
- 14/10 - Quarta aeronave pousa no Rio de Janeiro com 207 passageiros e 4 pets
- 15/10 - Quinta aeronave pousa no Rio de Janeiro com 215 passageiros e 16 pets
- 19/10 - Sexta aeronave pousa no Rio de Janeiro com 219 passageiros e 11 pets
- 21/10 - Sétima aeronave pousa no Rio de Janeiro com 66 brasileiros, 3 bolivianas e 9 pets
- 23/10 - Oitava aeronave pousa no Rio de Janeiro com 209 passageiros e 9 pets
Além disso, 32 passageiros chegaram ao Brasil nesta quinta-feira (2) vindos da Cisjordânia. O grupo tinha 30 brasileiros, incluindo 11 crianças e seis idosos, sendo dois deles cadeirantes. Uma jordaniana e um palestino, ambos casados com brasileiros, também foram resgatados.
Já na Faixa de Gaza, um grupo de 34 brasileiros e familiares próximos aguarda para deixar a região. Embora 490 estrangeiros tenham sido autorizados a cruzar a passagem de Rafah, o Brasil ainda não foi contemplado.
"Tanto o Presidente Lula quanto o Ministro Mauro Vieira têm realizado gestões em favor da saída dos brasileiros junto a diversas altas autoridades de Egito, Israel, Catar, Autoridade Palestina e de outros países da região. As gestões continuarão a ser feitas até que se concretize a saída dos brasileiros retidos em Gaza", diz o Itamaraty, em nota.
"Veículos contratados pelo Itamaraty seguem de prontidão, à espera da autorização para o trânsito do grupo pelo terminal de Rafah e, na sequência, por território egípcio até o aeroporto do Cairo, onde aeronave da FAB aguarda para o voo de repatriação", completa.