A Rússia voltou a atacar o complexo siderúrgico Azovstal, último reduto de resistência de forças ucranianas em Mariupol, em meio a uma tensa operação de retirada de alguns dos muitos civis que estão abrigados no local há semanas através de um corredor humanitário. Contudo, os dois lados se acusam de violar o cessar-fogo acertado no fim de semana, colocando a operação — e as vidas de dezenas de pessoas — em risco.
Em vídeo no Telegram, um representante do Batalhão Azov, uma milícia ligada à extrema direita e que é uma das forças presentes em Azovstal, afirmou que os militares russos atacaram a siderúrgica ao longo da noite, usando artilharia pesada e bombardeios áreos.
“Neste momento, um ataque poderoso no território da usina Azovstal está ocorrendo com o apoio de blindados, tanques, tentativas de desembarque de tropas em barcos e um grande número de infantaria”, disse Sviatoslav Palamar, representante da milícia.
“Faremos o possível para repelir este ataque, mas pedimos medidas imediatas para retirar os civis que estão na área da usina.”
Já as Forças Armadas russas acusam o Batalhão Azov, considerado um dos principais alvos de Moscou na invasão, de violar o cessar-fogo que permitiu a retirada de centenas de civis da área nos últimos dias.
“Eles saíram dos porões, tomaram posições de tiro na área e nos prédios da usina. Agora unidades do exército russo e da RPD [República Popular de Donetsk] , usando artilharia e aeronaves, estão começando a destruir essas posições de tiro”, declarou o porta-voz do Ministério da Defesa, Vadim Astafyev.
Localizada na costa do Mar de Azov, Mariupol é um dos principais fronts da guerra na Ucrânia, e onde as tropas russas afirmam controlar quase a totalidade do território, à exceção de Azovstal, um amplo complexo siderúrgico que, há algumas semanas, serve de ponto de resistência para as poucas forças defensivas ucranianas, e de abrigo para centenas de civis.
No final de semana, em uma operação coordenada entre ONU, Cruz Vermelha, Rússia e Ucrânia, foi estabelecido um cessar-fogo e aberto um corredor de passagem, apelidado de corredor vital, para que os civis pudessem deixar a área rumo a Zaporíjia, de onde poderiam seguir para outros locais dentro da Ucrânia.
Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, cerca de 20 pessoas conseguiram deixar a área no sábado e 100 no domingo — o transporte continuou na segunda-feira, em meio a relatos de violações da trégua, e, nesta terça, Osnat Lubrani, coordenadora humanitária da ONU para a Ucrânia, afirmou que 101 pessoas vindas de Mariupol chegaram a Zaporíjia.
“Não acredito que consegui, agora só quero descansar”, afirmou à Reuters Alina Kozitskaya, que passou semanas na usina aguardando o momento de escapar.
Valentina Sytnykova, que se abrigou na usina por dois meses com seu filho e um neto de dez anos, também conseguiu escapar, e agora tentará entrar em contato com parentes para avisar que todos estão vivos.
“Tivemos que dizer adeus à vida, não achávamos que as pessoas soubessem que estávamos lá”, disse à Reuters.
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Com a retomada dos ataques, os coordenadores da operação de retirada se questionam quando será possível trazer mais pessoas a áreas mais seguras.
“Esperávamos que mais pessoas pudessem se juntar ao comboio para sair do inferno”, afirmou, em entrevista coletiva, Pascal Hundt, representante da Cruz Vermelha.
Sanções e bloqueios
Desde o final de março, a Rússia mudou sua estratégia de invasão da Ucrânia, passando a centrar seus ataques na região Leste e a reforçar o bloqueio naval a Kiev, em uma tentativa de barrar o acesso aos suprimentos (especialmente militares) vindos do Ocidente e de impedir que as exportações ucranianas conseguissem ser embarcadas para outros países, privando o governo de importantes fontes de financiamento.
Em conversa com Vladimir Putin, o presidente da França, Emmanuell Macron, se disse disposto a ajudar a Rússia, ao lado de organizações internacionais, para "ajudar a levantar o bloqueio à exportação de produtos ucranianos através do Mar Negro", segundo comunicado do Palácio do Eliseu.
O líder francês defendeu, ao longo de mais de duas horas de conversa, a sequência da retirada de mais civis de Azovstal e, de acordo com o comunicado, "observou sua prontidão contínua para trabalhar nas condições para encontrar uma solução negociada para garantir a paz e o pleno respeito pela soberania e integridade territorial da Ucrânia".
"Pedi que a Rússia siga sua responsabilidade internacional como um membro do Conselho de Segurança da ONU e coloque fim a este ataque devastador", disse o comunicado oficial.
Nos próximos dias, a União Europeia (UE) deve anunciar um novo pacote de sanções contra a Rússia, que pode incluir o embargo ao petróleo vendido pelo país, e responsável por 26% das importações do produto pelo bloco.
Desde o início do conflito, no dia 24 de fevereiro, os paises da UE desembolsaram mais de 47 bilhões de euros relativos às compras de petróleo e gás da Rússia, e Bruxelas quer colocar fim (ou ao menos reduzir) a esses pagamentos. Contudo, algumas nações, como Hungria e Eslováquia, sugerem que vetarão sanções que incluam o setor energético, enquanto outras nações também relutam em aceitar medidas sobre o gás.
Sem mencionar as sanções, o chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que as políticas de Putin eram "imperialistas".
“Ninguém pode assumir que o presidente russo e seu governo não quebrarão as leis internacionais de forma violenta no futuro”, declarou Scholz, que apoiou, na segunda-feira, a proposta de impor um embargo ao petróleo russo.
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*Com informações de agências internacionais