As delegações de Rússia e Ucrânia apontaram avanços nas negociações realizadas nesta terça-feira (29) em Istambul, na Turquia.
Esse foi o primeiro encontro presencial entre representantes de Moscou e Kiev em duas semanas, já que as conversas vinham sendo realizadas por meio de videoconferência. O objetivo das tratativas é alcançar um cessar-fogo na Ucrânia ou ao menos garantir ajudas humanitárias aos deslocados pela guerra.
"Foi uma conversa construtiva", disse o negociador-chefe da Rússia, Vladimir Medinsky. Segundo ele, a Ucrânia enviou por escrito uma proposta que garante sua "neutralidade", ou seja, o compromisso de não ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e seu status de país "desnuclearizado".
Em troca, Moscou anunciou uma redução "radical" de suas ações em duas regiões ucranianas. "Como as negociações para um acordo sobre a neutralidade e o status não-nuclear da Ucrânia entraram em uma dimensão prática, decidimos, para aumentar a confiança, reduzir radicalmente as atividades militares em direção a Kiev e Chernihiv", disse o vice-ministro russo da Defesa, Alexander Fomin.
Além da neutralidade da Ucrânia, a Rússia exige o reconhecimento da anexação da Crimeia e da soberania do Donbass, região onde ficam as autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk. Essa é a questão mais espinhosa e será negociada de forma separada, segundo o delegado ucraniano Mikhailo Podolyak.
A proposta de Kiev prevê que o status da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e do porto de Sebastopol, base da frota do Mar Negro da Marinha russa, seja definido dentro de 15 anos. Já o destino do Donbass seria negociado diretamente pelos presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.
Garantias de segurança
Em troca do compromisso de não aderir à Otan, Kiev insistiu que sua candidatura para entrar na União Europeia não pode ser bloqueada. O pedido já foi formalizado por Zelensky, mas ainda aguarda um parecer da Comissão Europeia para iniciar sua tramitação.
A Ucrânia também exige a instituição de um mecanismo internacional de garantias de segurança similar ao artigo 5 da Otan, que determina que um ataque a um membro da organização deve gerar uma resposta conjunta da aliança.
Esse mecanismo prevê a formação de um grupo de países capazes de dar uma resposta dentro de 24 horas no caso de uma eventual agressão externa, incluindo assistência militar, fornecimento de armas e fechamento do espaço aéreo. "Tudo de que precisamos agora e que não podemos obter", declarou o negociador ucraniano David Arakhamia.
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Diversas nações já foram cotadas para esse instrumento, incluindo os membros do Conselho de Segurança da ONU, Alemanha, Canadá, Israel, Itália e Turquia.
"Continuaremos nossas negociações com a Rússia, mas também envolveremos os países garantidores", explicou Podolyak. Ele ainda disse que foram feitos avanços para um encontro entre os presidentes Zelensky e Putin. No entanto, segundo a delegação russa, essa reunião só deve ocorrer após a conclusão de um esboço de acordo.
"Hoje foi alcançado o progresso mais significativo nas negociações", afirmou o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu.
Erdogan
Ao receber as duas delegações, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que ambos os lados têm "preocupações legítimas" e devem ser ouvidos para "colocar fim a essa tragédia". "Chegar à paz e ao cessar-fogo o quanto antes será benéfico para todos", declarou o mandatário.
Segundo Erdogan, uma "paz justa" não terá perdedores. "Espero que nossos encontros sejam de bons auspícios para seus países, para nossa região e para toda a humanidade", acrescentou.
De acordo com a emissora britânica Sky News, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, alertou que os negociadores do país não devem "comer, beber nem tocar quaisquer superfícies" para evitar envenenamentos.
Na última segunda-feira (28), surgiram notícias sobre um suposto envenenamento do oligarca russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, e de dois negociadores ucranianos durante uma reunião em Kiev no início de março, informações qualificadas por Moscou como "propaganda".
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