Ativistas, democratas e até inspetores do governo americano vêm fazendo denúncias regulares sobre as más condições nos centros de detenção de imigrantes na fronteira dos Estados Unidos . O presidente Donald Trump , entretanto, parece discordar.
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"Se os imigrantes ilegais estão infelizes com as condições dos centros de detenção que precisam ser rapidamente construídos ou remodelados, apenas diga para eles não virem. Todos os problemas serão resolvidos", tuitou Trump , em uma série de mensagens em resposta às críticas de membros do Partido Democrata.
A chegada em massa de famílias que fogem da violência e da miséria na América Central está superlotando um sistema de acolhida que não está preparado para lidar com tamanho volume de pessoas e, especialmente, tantas crianças. O forte discurso anti-imigração do líder americano , uma de suas plataformas de campanha, agrava ainda mais o problema.
Via Twitter, o ataque de Trump é uma resposta a parlamentares do Partido Democrata e ativistas que visitaram a fronteira nos últimos dias e descreveram superlotação e acesso inadequado à água e alimentos.
O próprio Departamento de Segurança Interna divulgou na terça-feira (2) um relatório contendo imagens que mostram centros de detenção com o dobro de sua capacidade. Segundo o documento, a superlotação é uma "bomba-relógio".
Incidentes entre homens em vários centros incluem detentos que entopem banheiros para serem libertados das celas, imigrantes recusando-se a retornar às celas e equipes de choque trazidas para mostrar que a Patrulha de Fronteira está disposta a usar a força, diz documento.
"É evidente que seus direitos humanos estão sendo negligenciados", disse o deputado Joaquin Castro, que visitou a fronteira no início da semana e disse ter visto imigrantes proibidos de tomar banho há duas semanas e sem acesso a medicamentos.
As críticas às políticas anti-imigração de Trump ganharam ainda mais força no início desta semana, quando funcionários da Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA postaram comentários ofensivos contra imigrantes e legisladores. As postagens, divulgadas pelo portal ProPublica, incluíam piadas sobre imigrantes morrendo e conteúdos sexualmente explícitos sobre a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, opositora das políticas de Trump. O chefe em exercício da agência, Kevin McAleenan, afirmou que as postagens são "perturbadoras" e ordenou uma investigação sobre o ocorrido.
Em seu Twitter, Trump exaltou o trabalho do grupo que protege as fronteiras:
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"Nosso pessoal de patrulha das fronteiras não são trabalhadores de hospitais, médicos ou enfermeiras", disse o presidente. "O trabalho realizado pela patrulha da fronteira é excelente, acima de tudo. Muitos desses imigrantes ilegais estão vivendo muito melhor agora do que onde estavam e em condições muito melhores".
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Batalhas legais
Desde que as detenções de imigrantes atingiram um recorde de 13 anos em maio, o assunto se tornou a principal questão eleitoral para Trump e para os pré-candidatos democratas que pretendem enfrentá-lo em novembro de 2020.
Na quarta-feira, a Casa Branca criticou a decisão de um juiz federal em Seattle que bloqueou suas tentativas de manter milhares de solicitantes de asilo sob sua custódia enquanto seus pedidos são processados.
"Essa decisão apenas incentiva traficantes e contrabandistas, o que vai causar maior sobrecarga do nosso sistema por imigrantes ilegais", disse a porta-voz Stephanie Grisham.
A União Americana para as Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) processou o governo em abril após o secretário de Justiça, William Barr, concluir que os solicitantes de asilo que ingressaram no país não teriam direito à fiança.
O Congresso americano também bloqueou os esforços de Trump para financiar a construção do muro na fronteira e, na quarta-feira, um tribunal em São Francisco se recusou a derrubar uma medida liminar que proíbe o governo de utilizar US$ 2.500.000.000, destinados para combater o narcotráfico, na construção da barreira.
O número de imigrantes que tentam cruzar a fronteira, entretanto, começou a diminuir após o México reforçar suas políticas antimigratórias, condição do acordo para que os EUA suspendessem a aplicação das taxasaos produtos mexicanos. De acordo com dados preliminares fornecidos pelo Instituto Nacional de Migração (INM) ao jornal El País, o país latino-americano fechou o mês de junho com um número recorde de deportações: um total de 21.912, 33% a mais que no mês anterior.
Em seu Twitter, Trump deu sinais de estar satisfeito com as ações do país vizinho:
"O México está fazendo um trabalho muito melhor do que os democratas na fronteira. Obrigado, México!", disse o presidente, no Twitter.
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