O ex-presidente americano Barack Obama (2009-2017) participou da COP26 nesta segunda-feira para tentar reforçar a mensagem democrata de que os Estados Unidos estão comprometidos com o meio ambiente após “quatro anos de hostilidade ativa”. Em Glasgow, ele expressou preocupação de que as lideranças globais não estejam fazendo o suficiente e defendeu que o combate à crise climática transcender diferenças políticas.
Obama falou por cerca de 45 minutos no principal plenário da conferência da ONU uma semana após a fala do presidente Joe Biden, que foi seu vice durante os oito anos em que esteve no Salão Oval. Tal qual seu colega, reforçou que avanços ocorreram nos últimos seis anos, mas que "não estamos nem sequer perto de onde deveríamos estar":
"Precisamos de economias avançadas, como os EUA e a Europa liderando nesses assuntos. Mas vocês sabem dos fatos. Precisamos também da China e da Índia. Precisamos da Rússia liderando neste assunto. Assim como precisamos da Indonésia, da África do Sul e do Brasil liderando nestes assuntos. Não podemos nos dar ao luxo de ter ninguém escanteado", afirmou, listando alguns dos maiores poluidores do mundo.
Logo antes, Obama havia feito uma crítica expressa aos presidentes da Rússia e da China, Vladimir Putin e Xi Jinping, na conferência, acusando-os de "estarem dispostos a manter o status quo":
"É particularmente desencorajante ver os líderes de dois dos maiores poluidores do mundo, a China e Rússia, se recusarem a sequer participarem das conversas, e seus planos nacionais refletem o que aparenta ser uma perigosa falta de urgência", afirmou.
Obama também fez, no entanto, uma mea culpa sobre a responsabilidade americana, como o segundo emissor de gases-estufa do mundo, por "ainda não estarmos nem sequer perto de onde precisamos":
"Reconheço que estamos vivendo em um momento no qual a cooperação internacional está atrofiada, em parte devido à pandemia, em parte devido à ascensão do nacionalismo", disse Obama. "Em parte devido à falta de liderança dos Estados Unidos nos últimos quatro anos em uma série de questões multilaterais".
"Parte do progresso americano", disse Obama, foi paralisada quando seu sucessor, Donald Trump tirou os EUA do Acordo de Paris, o pacto que seu governo ajudou a negociar em 2015. No tratado histórico, os países assumiram compromissos vinculantes de cortarem suas emissões de gases-estufa que devem ser incrementados quinquenalmente — as primeiras revisões deveriam ser entregues neste ano.
O pacto almeja limitar o aquecimento global a até 2ºC em comparação aos níveis pré-industriais e, idealmente, mantê-lo inferior a 1,5ºC até 2015. É este patamar que os especialistas consideram essencial para evitar um cataclismo e que países industrializados buscam sedimentar como a meta única ao fim da COP26.
"Paris nos mostrou que o progresso é possível e criou uma estrutura. Trabalhos importantes foram feitos lá e trabalhos importantes estão sendo aqui. Essas são as boas notícias", disse ele. "Paris sempre deveria ser o começo, não o fim dos nossos esforços de combater o aquecimento global (...). É por isso que o acordo foi firmado como uma estrutura para os países adotarem metas mais ambiciosas".
No ritmo atual, disse a ONU no mês passado, o mundo está no ritmo para um aquecimento de 2,7oC até o fim do século e nenhum dos grandes emissores do planeta têm metas em conssonância com os 1,5oC. Os compromissos americanos, segundo o Climate Action Tracker (CAT), estudo feito por especialistas para avaliar as medidas climáticas adotadas pelos países, são "insuficientes".
"Apesar de quatro anos de hostilidades ativas diante da ciência climática vindas do topo do governo federal, o povo americano ainda conseguiu cumprir nosso compromisso original sob o Acordo de Paris", afirmou Obama, erroneamente. "Agora, com o presidente Biden, os EUA estão novamente engajados".
Biden fez compromissos que põe os EUA no caminho certo: prometeu cortar as emissões americanas pela metade até 2030 e zerar as emissões até o meio do século, medidas tidas como essenciais para limitar o aquecimento global a 1,5oC. O Orçamento para implementá-los, contudo, é bloqueado por seus próprios correligionários no Senado.
O presidente reduziu o tamanho do cheque pela metade, para US$ 1,75 trilhão, e mesmo assim não consegue aprová-lo, principalmente devido às hesitações de um único senador, Joe Manchin, com elos com a indústria do combustível fóssil. Como o Partido Democrata tem apenas a maioria simples na Casa e a oposição não endossa a medida, a Casa Branca não se pode dar ao luxo de perder sequer um voto.
O impasse levanta questionamentos internacionais sobre a capacidade americana de cumprir suas promessas, acentuada por um histórico do país mais rico do mundo de não cumprir suas promessas ambientais que precede Trump. Os EUA nunca ratificaram, por exemplo, o Protocolo de Kyoto, antecessor do Acordo de Paris.
A ida de Obama a Glasgow, segundo a CNN, foi um pedido pessoal de John Kerry, o enviado especial de Biden para o clima. A expectativa era que o prestígio do ex-presidente servisse para dar momento aos debates e sinalizar para a comunidade internacional a boa vontade americana.
Em sua fala, Obama elogiou a aprovação no Congresso do pacote de infraestrutura de US$ 1,2 trilhão na noite de sexta, que também estava bloqueado a meses, e disse esperar que os parlamentares façam o mesmo em breve com o pacote socioambiental.