O Brasil irá declarar apoio a países industrializados como o Reino Unido e a Alemanha para que a meta de conter o limite da temperatura em 1,5ºC neste século continue sendo viável ao fim da COP26 e presente em sua declaração final. O posicionamento será feito pelo ministro Joaquim Leite durante a rodada ministerial da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que começa nesta segunda.
O governo brasileiro procura desde o início da reunião convencer a comunidade internacional que se preocupa com meio ambiente e clima. Na semana passada, aderiu aos compromissos de combater o desmatamento e cortar as emissões de metano, por exemplo.
O principal aceno, no entanto, veio na revisão da meta de redução das emissões de gases causadores de efeito estufa — que não aumenta ambição, mas pode corrigir uma manobra contábil que permitiria ao país emitir mais gases-estufa em 2030 do que o previamente prometido. Os esforços procuram mudar a péssima imagem do governo do presidente Jair Bolsonaro no exterior, que já afeta investimentos, a credibilidade do país e pode provocar boicote a produtos brasileiros.
O posicionamento na COP26 é uma iniciativa para procurar qualificar o governo a receber recursos da comunidade financeira internacional, tanto de fontes privadas como públicas. Iniciativa como esta, de defender o limite de temperatura em 1,5 ºC até 2100, já apareceu no comunicado dos países do G20, em Roma, divulgado em 31 de outubro, o mesmo dia em que a cúpula climática começou na Escócia.
Esta é a primeira vez em que os países precisarão revisar e incrementar seus compromissos voluntários de reduzir suas emissões de gases-estufa assumidas no Acordo de Paris, de 2015. O pacto internacional vinculante almeja limitar o aquecimento global a até 2ºC em comparação aos níveis pré-industriais e, idealmente, mantê-lo inferior a 1,5ºC — patamar que os especialistas consideram essencial para evitar um cataclismo e que países industrializados.
Países como o Reino Unido vem defendendo que a nova meta, de meio grau a menos, seja a regra, com a exclusão do compromisso expresso no Acordo de Paris de fazer esforços para manter o aumento da temperatura "bem abaixo de 2ºC". A China, maior poluidora do planeta e responsável por quase um quarto das emissões, manifesta resistência.
Atualmente, nenhum dos grandes emissores têm Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, os compromissos voluntários do acordo de Paris) em harmonia com os 1.5ºC. O Brasil, por sua vez, defende manter a meta desde que exista equilíbrio entre os recursos dados à mitigação de gases-estufa e adaptação aos impactos climáticos e NDCs mais ambiciosas.
Há muitos pontos em aberto nas negociações da COP26 que chegam à semana derradeira e crucial, como perdas e danos, a regulamentação dos mercados de carbono e o financiamento, um dos pontos críticos da conferência. Em particular, o financiamento para a adaptação aos impactos climáticos: criado em 2010, tem apenas US$ 850 milhões alocados, recursos não apenas completamente insuficientes, mas a que os países menores têm grande dificuldade de acesso.
Outro problema que os negociadores da COP26 tentam resolver esta semana é sobre a ambição das metas. Os cientistas dizem que é preciso cortar emissões pela metade até 2030 e neutralizá-las até a metade do século, se se quiser ter chance de alcançar os 1,5ºC.
Um relatório da ONU divulgado há poucos dias mostra que as NDCs compiladas até agora levam a um aumento de 16% nas emissões até a metade do século. No ritmo atual, o mundo está no caminho para um aquecimento de 2,7ºC em 2100.
Outro item é o que trata do cronograma em que as metas devem ser divulgadas. O que predomina é um prazo de cinco anos, o que é considerado muito tempo por ambientalistas e cientistas para corrigir erros de rota. O Brasil e os EUA têm, por exemplo, metas para 2025 e 2030. Os demais têm metas para 2030.