Pesquisa do Datafolha, divulgada na noite desta quinta-feira, mostra que apenas somente 36% dos responsáveis ouvidos afirmam que seus filhos, alunos de escolas públicas, recebem aulas de reforço mesmo com toda a perda de aprendizagem causada pelo fechamento das escolas na pandemia . O estudo foi encomendado por Itaú Social, Fundação Lemann e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
"Não deixa de ser relevante ter um terço dos alunos, mas mas dadas as estimativas que a gente tem visto de defasagem de aprendizagem a gente imagina que a quantidade de alunos que precisa de reforço deve ser bem maior do que isso", afirma Daniel de Bonis, diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann.
O levantamento também mostra que 87% dos pais e responsáveis afirmam que os estudantes que já estão frequentando aulas presenciais estão se sentindo mais animados, 80% mais otimistas e 85% mais interessados pelos estudos.
O estudo é o sétimo de uma série que vem acompanhando a percepção das famílias brasileiras a respeito dos desafios da pandemia na educação desde o começo da crise sanitária. Foram ouvidos, entre os dias 13 de agosto e 16 de setembro de 2021, com abordagem telefônica, 1.301 responsáveis que responderam por um total de 1.846 crianças e adolescentes com idades entre 6 e 18 anos da rede pública, em todas as regiões do país.
Ainda de acordo com a pesquisa, 51% dos estudantes que tiveram a possibilidade de voltar para escola estão desmotivados, e esse índice é de 58% entre os que ainda não tiveram a escola aberta. No caso das dificuldades com a rotina, a diferença é ainda maior: de 58% dos estudantes que tiveram as escolas reabertas, contra 70% dos que ainda não estão frequentando as aulas presenciais.
"Atenuar as marcas deixadas pela pandemia na educação exigirá um aprofundado ainda maior do debate sobre formato, currículo, habilidades prioritárias e investimentos para o retorno. Os alunos precisam ter a chance de recuperar a aprendizagem de forma efetiva e com equidade, considerando todas as perdas que os grupos mais vulneráveis passaram", avalia a superintendente do Itaú Social, Angela Danemann.
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A etapa qualitativa da pesquisa demonstrou uma importante relação entre a recuperação da aprendizagem e fatores socioemocionais, como ilustra um dos depoimentos coletados: "Meu filho vai para o 1º ano do Médio e está muito preocupado. Ele não conseguiu assimilar muita coisa, ele fica preocupado, não dorme direito. Fica ansioso."
Segundo os responsáveis, as escolas de 65% dos estudantes reabriram, a maioria com rodízio entre os alunos, sendo que em maio de 2021 este índice era de apenas 24%. Entre os que tiveram a escola reaberta, 72% voltaram às salas de aulas presenciais . A pesquisa mostra ainda uma grande diferença regional nesses dados: na região Sul, os entrevistados afirmaram que as escolas de 90% dos estudantes estão reabertas, em contraste com apenas 40% no Nordeste.
"Infelizmente, o retorno está sendo também desigual. As escolas que não voltaram, em geral, atendem os alunos mais pobres. São principalmente em redes municipais de cidades pequenas", explica Bonis.
Segundo o especialista, não há motivos para que não se volte às aulas pelo menos no esquema híbrido ainda este ano, considerando a queda de mortes e casos, a quantidade de brasileiros imunizados e até as experiências já realizadas de volta às aulas presenciais em diversas partes do país.
"Não pode deixar para o ano que vem por inércia. Cada mês a menos faz diferença, é um custo a mais que a gente impõe a nós meses para a recomposição da aprendizagem. Esse tempo é importante. Não dá pra ter uma postura condescendente achando que por estar em outubro é muito tarde para reabrir ainda em 2021", afirma.
Veja outras descobertas da pesquisa:
- 68% dos estudantes de escolas que reabriram estão sendo avaliados no retorno às atividades presenciais para conhecer as dificuldades;
- 56% dos responsáveis relataram aumento da aprendizagem dos estudantes que tiveram a escola reaberta contra 41% entre aqueles que continuam nas atividades remotas;
- 39% acreditam que os estudantes se sentem despreparados em relação ao aprendizado, e que 19% estão com dificuldades no relacionamento com professores ou colegas;
- 73% dos pais e responsáveis consideram a recuperação da aprendizagem o principal motivo para o retorno às aulas presenciais;
- 22% disseram que a maior motivação é conviver e interagir com professores e colegas;
- 88% dos responsáveis afirmam que os estudantes estão seguros no retorno às aulas presenciais, sendo a soma de 36% que consideram muito seguro e 52% um pouco seguro;
- 51% dos pais e responsáveis a escola está menos próxima da família após a interrupção das aulas presenciais, com índices mais altos nos anos finais do Fundamental 2 (56%) e no Ensino Médio (55%).