Estudantes, professores, entidades da sociedade civil e partidos políticos promoveram mobilização nacional ao longo desta quarta-feira (15) para protestar contra o bloqueio de recursos para a educação anunciado pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) . Os protestos contra os cortes no Ministério da Educação (MEC) se espalharam por mais de uma centena de cidades em todos os 26 Estados e no Distrito Federal. De acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a greve nacional prevista na agenda de atos deste dia de mobilizações contou com o engajamento de ao menos 2 milhões de trabalhadores.
As manifestações, que transcorreram, em sua maioria, de forma pacífica, deram-se no mesmo dia em que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi sabatinado na Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre o bloqueio das verbas. Nas ruas, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e outros organizadores já convocaram um segundo dia de mobilização contra o contingenciamento de 30% das verbas de custeio das universidades e institutos federais de ensino superior. A segunda rodada de protesto foi agendada para o dia 30 de maio, mais uma vez em todo o País.
Em São Paulo, alunos, funcionários e professores da USP realizaram ato logo nas primeiras horas do dia, carregando faixas e acompanhados por caminhões de som, que fechavam a entrada da Cidade Universitária, na zona oeste da capital. Já no meio da tarde e início desta noite, a Avenida Paulista foi completamente interditada por nova manifestação. De acordo com a UNE, cerca de 250 mil pessoas participaram do ato na capital paulista. A Polícia Militar não informou estimativa de participação no ato contra os cortes do MEC , que contou com a presença de lideranças da oposição ao governo, dentre elas o candidato derrotado no segundo turno de 2018, Fernando Haddad (PT).
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As aulas foram canceladas nesta quarta-feira e uma série de institutos da USP que aderiram à greve, inclusive em faculdades que não costumam participar desses atos, como a Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP) e a Escola Politécnica da USP (Poli-USP).
Ainda em São Paulo, estudantes secundaristas também fizeram uma manifestação pela manhã, no bairro de Higienópolis, nobre da região central da capital. No litoral e no interior do estado, também foram registrados protestos.
No Rio de Janeiro, cerca de 200 mil pessoas ocuparam a Praça da Candelária, na região central da capital fluminense. O ato foi pacífico durante a maior parte do tempo, mas a Polícia Militar usou bombas de gás para dispersar adeptos da tática black bloc que dispararam fogos de artifício contra os policiais ao fim do protesto.
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Em Curitiba, manifestantes se concentraram na Praça Santos Andrade, em frente à Universidade Federal do Paraná, na região central da cidade. Dali, seguiram em direção à sede da prefeitura. No caminho, alguns participantes do ato abordaram pedestres e trabalhadores do comércio para explicar as razões da manifestação.
Antes de se dispersar, por volta das 12h30, o grupo ainda esteve na Assembleia Legislativa, onde representantes do movimento entregaram a deputados estaduais um documento com o posicionamento do Fórum Popular de Educação do Paraná (Fepe-PR) sobre o contingenciamento de recursos da educação. A Polícia Militar não informou a estimativa de público presente. Já as entidades organizadoras afirmam que o número total variou entre 16 mil e 20 mil pessoas ao longo de toda a manhã. Há previsão de um novo ato na Praça Santos Andrade, a partir das 18h.
Já em Salvador, a mobilização já lotava o Largo do Campo Grande, no centro, quando, perto das 10h, estudantes, professores, sindicalistas e apoiadores da manifestação saíram em caminhada com destino à Praça Castro Alves, distante cerca de 1,5 quilômetro. A Polícia Militar acompanha a manifestação a fim de garantir a segurança das pessoas, mas não divulgará o número de participantes.
Em Brasília, os manifestantes se concentraram em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Dali, seguiram em direção ao Congresso Nacional, portando faixas e cartazes contra o contingenciamento de 3,4% das chamadas despesas discricionárias, ou seja, aquelas não obrigatórias, que o governo pode ou não executar, e que incluem despesas de custeio e investimento. Do alto do carro de som que acompanha a marcha, manifestantes discursam em favor de mais investimentos nas universidades públicas e sobre o risco de o corte de verbas inviabilizar as pesquisas desenvolvidas nos campus acadêmicos. Segundo cálculos da PM, às 11h, o ato reunia cerca de 2 mil pessoas.
Segundo a UNE, o contingenciamento coloca em risco a manutenção e a qualidade das universidades públicas, prejudicando seus atuais alunos e jovens que cursam o ensino médio e veem ameaçada a possibilidade de ingresso no ensino superior.
Estudantes também já saíram às ruas em Santa Catarina, Paraná, Goiás, Piauí, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Sul, Paraíba, Minas Gerais, Pernambuco, Tocantins, Sergipe, Ceará, Bahia, e no Pará. Os protestos já receberam apoio de alunos de universidades estaduais e instituições particulares.
Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), os professores também aderiram ao movimento, assim como os funcionários técnicos, representados pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra).
Os reitores das três universidades estaduais paulistas – Universidade de São Paulo ( USP ), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) - divulgaram uma nota pública na qual chamam o corte de “equívoco estratégico” e convocam um debate sobre o tema nesta quarta-feira. Na Unicamp, o protesto está organizado para acontecer a partir das 10h30 no centro da cidade.
Embora os alunos das universidades tenham parado as atividades nesta quarta, a UNE descarta uma greve prolongada. "A nossa convocação é universidade aberta funcionando a todo vapor, porque o sonho do Bolsonaro é que a universidade pare", diz a presidente da entidade, Marianna Dias, à Folha de S.Paulo .
No último dia 30 de abril, o ministério anunciou um corte de 30% no orçamento das universidades federais . O ministro Abraham Weintraub chamou o corte de contingenciamento e afirmou que os investimentos voltarão após aprovação da reforma da Previdência. Logo em seguida, o MEC cortou também as bolsas de pesquisa oferecidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em todo o País.
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