
Israel está cabreiro-cabreiro com toda essa bagunça que está acontecendo na Síria. Afinal, veja bem: revoluções podem ser positivas para as nações e não é todo dia que uma ditadura de mais de 50 anos é derrotada (aliás, a última do gênero no Oriente Médio). Ainda mais se tratando do presidente e herdeiro Bashar al-Assad, um psicopata que usou armas químicas contra a sua própria população e criou uma prisão dos infernos chamada Saydnaya – conhecida pela população local como “abatedouro” – onde, segundo a mídia local, conta até com um crematório.
O problema é quando essa revolução é liderada por uma coalizão de milícias terroristas e acontece na sua fronteira.
Isso levou Israel a uma decisão bem arriscada: destruir, em uma operação de apenas 70 horas, todas as bases militares, arsenais e fábricas de armamentos, inclusive armas químicas, do regime de Assad. Além disso, o exército israelense está estacionado na fronteira entre os dois países (e um tanto para dentro da Síria também), uma área onde não havia pisado desde a Guerra de Yom Kipur, em 1973-4. Nossos soldados estão ali, no alto das montanhas, de onde podem observar qualquer avanço que represente ameaça a Israel por parte dos sírios os quais, a essa altura, já não sabemos se chamamos de rebeldes (como a mídia os denominou), opositores ou novos governantes.
Cenas do ataque da Marinha israelense a bases e arsenais na Síria
E nossos reféns?
Dizem que a queda do regime de Assad na Síria traz mais chances de sucesso na infindável, inesgotável e insuportável negociação pela libertação dos 100 reféns israelenses ainda prisioneiros na Faixa de Gaza. Isso porque o que tem sido chamado de “círculo de fogo” criado pelo Irã ao redor de Israel – ou seja, o estabelecimento de aliados (proxies) que incluíam o Hamas e o Hezbollah, até há pouco também presente na Síria – foi praticamente destruído. O resultado da invasão do Hamas ao sul de Israel em outubro de 2023 saiu bem às avessas e, em lugar de destruir seu vizinho, o grupo terrorista provocou a quase total destruição de todos os seus aliados.
Sírios comemoram a queda do regime Assad
Espera-se que o Hamas entenda que este round está perdido e finalmente sente-se para negociar (o que nunca fez: em todas as negociações, eles foram representados pelo Catar, outro que, cá entre nós, está do lado errado da História). Nosso grande temor é que seja tarde demais para a maioria deles, uma vez que foram mantidos em condições desumanas ao longo de mais de 14 meses por grupos terroristas diferentes, em situações diferentes e sem nenhum controle por parte de ninguém – e sem terem recebido uma única visita de órgãos internacionais como a cínica Cruz Vermelha. O resultado é que, hoje, nem mesmo integrantes do Hamas conhecem o destino de todos.
Absurdo, também, é o volume de rumores que não nos deixa entender o que está acontecendo. No início desta semana, a mídia divulgou que o Hamas entregou uma lista de reféns a qual estaria disposto a negociar em troca de prisioneiros palestinos. Não deu nem tempo de comemorar: na quarta-feira, o representante do Hamas no Líbano, Ahmed Abdel Hadi, veio a público dizer que nenhuma negociação está de fato avançando no momento.
Do tal círculo de fogo caminhamos para um circo de absurdos. E, enquanto isso, ouvimos a Organização das Nações Unidas (ONU) criticar Israel por isso ou por aquilo – sem exercer nenhuma, absolutamente nenhuma pressão sobre o Hamas para que esse martírio termine. É dessa forma que eles nos mantêm presos no universo paralelo do terror.