Um soldado israelita monta guarda na vedação da zona tampão que separa os Montes Golã, anexados por Israel, do resto da Síria, perto da aldeia drusa de Majdal Shams, a 9 de dezembro de 2024.
AFP
Um soldado israelita monta guarda na vedação da zona tampão que separa os Montes Golã, anexados por Israel, do resto da Síria, perto da aldeia drusa de Majdal Shams, a 9 de dezembro de 2024.


Israel  está cabreiro-cabreiro com toda essa bagunça que está acontecendo na  Síria. Afinal, veja bem: revoluções podem ser positivas para as nações e não é todo dia que uma ditadura de mais de 50 anos é derrotada (aliás, a última do gênero no Oriente Médio). Ainda mais se tratando do presidente e herdeiro  Bashar al-Assad, um psicopata que usou armas químicas contra a sua própria população e criou uma  prisão dos infernos chamada Saydnaya – conhecida pela população local como “abatedouro” – onde, segundo a mídia local, conta até com um crematório.


O problema é quando essa revolução é liderada por uma coalizão de milícias terroristas e acontece na sua fronteira. 

Isso levou  Israel a uma decisão bem arriscada: destruir, em uma operação de apenas 70 horas, todas as bases militares, arsenais e fábricas de armamentos, inclusive armas químicas, do regime de  Assad. Além disso, o exército israelense está estacionado na fronteira entre os dois países (e um tanto para dentro da Síria também), uma área onde não havia pisado desde a Guerra de Yom Kipur, em 1973-4. Nossos soldados estão ali, no alto das montanhas, de onde podem observar qualquer avanço que represente ameaça a Israel por parte dos sírios os quais, a essa altura, já não sabemos se chamamos de rebeldes (como a mídia os denominou), opositores ou novos governantes.

Cenas do ataque da Marinha israelense a bases e arsenais na Síria


E nossos reféns?

Dizem que a queda do regime de Assad na Síria traz mais chances de sucesso na infindável, inesgotável e insuportável negociação pela  libertação dos 100 reféns israelenses ainda prisioneiros na Faixa de Gaza. Isso porque o que tem sido chamado de “círculo de fogo” criado pelo Irã ao redor de Israel – ou seja, o estabelecimento de aliados (proxies) que incluíam o  Hamas e o Hezbollah, até há pouco também presente na Síria – foi praticamente destruído. O resultado da  invasão do Hamas ao sul de Israel em outubro de 2023 saiu bem às avessas e, em lugar de destruir seu vizinho, o grupo terrorista provocou a quase total destruição de todos os seus aliados.

Sírios comemoram a queda do regime Assad


Espera-se que o  Hamas entenda que este round está perdido e finalmente sente-se para negociar (o que nunca fez: em todas as negociações, eles foram representados pelo Catar, outro que, cá entre nós, está do lado errado da História). Nosso grande temor é que seja tarde demais para a maioria deles, uma vez que foram mantidos em condições desumanas ao longo de mais de 14 meses por grupos terroristas diferentes, em situações diferentes e sem nenhum controle por parte de ninguém – e sem terem recebido uma única visita de órgãos internacionais como a cínica Cruz Vermelha. O resultado é que, hoje, nem mesmo integrantes do Hamas conhecem o destino de todos. 

Absurdo, também, é o volume de rumores que não nos deixa entender o que está acontecendo. No início desta semana, a mídia divulgou que o Hamas entregou uma lista de reféns a qual estaria disposto a negociar em troca de prisioneiros palestinos. Não deu nem tempo de comemorar: na quarta-feira, o representante do Hamas no  Líbano, Ahmed Abdel Hadi, veio a público dizer que nenhuma negociação está de fato avançando no momento. 

Do tal círculo de fogo caminhamos para um circo de absurdos. E, enquanto isso, ouvimos a Organização das Nações Unidas (ONU) criticar Israel por isso ou por aquilo – sem exercer nenhuma, absolutamente nenhuma pressão sobre o Hamas para que esse martírio termine. É dessa forma que eles nos mantêm presos no universo paralelo do terror.

** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

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