Desde 7 de outubro de 2023 , data do pior ataque terrorista já realizado contra Israel , o dia 7 de cada mês virou uma data sombria por aqui, especialmente para aqueles que presenciaram as cenas da invasão de palestinos – entre eles combatentes do grupo terrorista Hamas e também civis –, coordenados para praticar barbaridades indescritíveis. Homens e mulheres de todas as idades, bebês, policiais, soldados, árabes-israelenses e trabalhadores estrangeiros, em comunidades agrícolas e em cidades: os terroristas almejavam judeus, mas não pouparam ninguém que estivesse cometendo o “crime” de habitar uma terra que, segundo creem, a eles pertence.
Nos próximos 4 dias, publicaremos aqui relatos dramáticos de sobreviventes.
Vários massacres em um único apocalipse
Os cerca de 8 milhões de judeus que vivem em Israel, país cuja área total é inferior à do menor Estado brasileiro – o Sergipe –, viveram (e vivem) em maior ou menor intensidade os ataques do Hamas, do Hezbollah, do Irã e dos Houthis, grupo terrorista baseado no Iêmen. É justo afirmar que não vivemos um único massacre, mas vários, e se para parte de nós o 7 de outubro ficará marcado para sempre como uma data catastrófica, para outra ela será lembrada como um dia apocalíptico. Entre eles, os sobreviventes do Festival Nova, um evento musical que reuniu 5 mil pessoas a cinco quilômetros da fronteira de Gaza, e os habitantes de cidades e comunidades agrícolas e no sul do país, os kibbutzim.
Casas destruídas em Kibbutz Kfar Aza e Kibbutz Ein Hashloshá
Já no norte de Israel, região da divisa com o Líbano agora em ebulição, 60 mil pessoas estão até hoje evacuadas de suas casas em função dos bombardeios “solidários” do Hezbollah (ao Hamas), que resultaram em 49 mortos e 372 feridos até o começo deste mês de outubro. Todo o povo judeu não esquecerá essa guerra – mais do que isso, muitos já não estão entre nós, outros chorarão esse dia eternamente enquanto lembram dos seus, e milhares não terão condições psicológicas para retomar suas vidas.
O dia 7 de outubro de 2023 foi um divisor de águas para o povo de Israel.
Um ano de números importantes
Este também foi um ano repleto de números importantes, a começar aqueles que resultaram diretamente do ataque palestino a Israel: em apenas um dia, mais de 1,2 mil mortos, mais de 5,5 mil feridos e 254 sequestrados. Destes, 101 reféns ainda aguardam serem resgatados, vivos e mortos – em Israel, acredita-se que haja apenas cerca de 30 sobreviventes.
Até agora:
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- Mais de 9,3 mil mísseis foram lançados pelo Hezbollah a partir do sul do Líbano.
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- Mais de 5 mil mísseis foram lançados pelo Hamas, a partir da Faixa de Gaza, somente no dia 7.10; é difícil calcular quantos foram ao longo de um ano de guerra.
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- Cerca de 500 drones, aviões não tripulados e mísseis balísticos foram lançados pelo Irã, localizado a 1.800 quilômetros de Israel.
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- Dos Houthis, no Iêmen, houve pelo menos quatro ataques importantes com centenas de mísseis.
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- Cerca de 730 soldados israelenses morreram em ação até agora, no norte e no sul do país.
No entanto, foi também um ano de boas surpresas. Os israelenses lembraram-se das ameaças existenciais às quais está sempre sujeito o Estado judeu, e gritaram com todas as forças: nunca mais. Diferentes populações em Israel e na Diáspora, que muitas vezes se veem como oponentes em tempos de paz, juntaram-se para resgatar e apoiar uns aos outros: judeus ultraortodoxos e seculares, drusos e árabes israelenses, esquerdistas e direitistas, deram as mãos e, juntos, realizaram um show de solidariedade.
Embora estarrecidos pelo genocídio perpetrado sem sucesso pelo Hamas e atônitos com o sequestro de tantos irmãos – temperado pela barbárie que marcou todos os eventos –, os israelenses se mobilizaram imediatamente para tratar, alimentar, agasalhar, hospedar e apoiar quem está na linha de frente. Milhões de dólares estão sendo arrecadados por pessoas e entidades pelo mundo (não apenas judaicas). Isso para garantir que o contingente de 350 mil reservistas conte com todo o equipamento de segurança necessário para lutar pelo país, e para que centenas de milhares de famílias afetadas tenham pelo menos abrigo e alimentos à mesa.
Durante a semana de 7 de outubro de 2023, enquanto as companhias internacionais cancelavam todos os voos a Israel, aeroportos de todo o mundo ficaram lotados de israelenses que estavam no exterior, por diferentes motivos, e decidiram, mesmo antes da convocação militar (conhecida como Tav 8), se apresentaram imediatamente para o serviço de reserva.
Uma historinha pessoal
Civis também correram para casa. Eu e meu marido, em férias na Itália, tivemos que lutar para conseguir assentos em um voo da El Al ou da Israir de volta para casa. Estas companhias aéreas israelenses foram as únicas que mantiveram-se ativas, ininterruptamente, nesse último ano, e lançaram voos de resgate a partir de diversos países nas duas semanas seguintes ao início da guerra.
Na fila de embarque, um grupo de jovens italianos judeus distribuía sorrisos, água e bolo. Mais tarde, enquanto eu aguardava o meu embarque para Tel Aviv, sentei-me ao lado de brasileiros que esperavam seu voo para São Paulo. “Está perigoso em Israel. Não faz mais sentido você vir conosco para o Brasil?”, um deles me perguntou.
Os israelenses, ao contrário de outros povos, correm para casa quando ela corre perigo.
DNA da resiliência
Os civis israelenses também lembraram, nestes 12 meses sombrios, que a resiliência está em seu DNA e vêm suportando todos os ataques inimigos com disciplina e coragem (nem todos, naturalmente). Para os soldados israelenses, que são na verdade jovens recém-saídos do colegial e que prestam serviço militar obrigatório de três anos para homens e dois para mulheres, demonstram uma bravura e união sem limites.
Ainda assim, a resiliência não pode curar as profundas feridas causadas por essa guerra, a mais longa já travada por Israel. O trauma e o pós-trauma estão disseminados pela população em todo o país. A economia israelense enfrenta um dos momentos mais desafiantes de sua história. Nossas florestas e cidades no norte estão destruídas, assim como nossas plantações e comunidades no sul. Nosso idosos reviram cenas do Holocausto, nossas crianças entenderam que o mundo é um lugar perigoso.
Fora de Israel, as relações internacionais estão abaladas e mais uma vez a moralidade da nação judaica é questionada (o que não é novidade). A diretoria de universidades renomadas em diferentes países – e precisamos registrar na História que Harvard, University of California (UCLA), Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Oxford estão entre elas – assistem calados à incitação do ódio contra seu alunos judeus e à chamada pela destruição de Israel. Governos inimigos criticam o país e governos amigos, também. O relacionamento entre Israel e os Estados Unidos balança como sob uma tempestade, mês após mês.
Mais importante do que tudo, Israel recuperou a autoestima, abalada até seus alicerces por um ano de cisma político interno e um ataque que só encontra precedentes no Holocausto (intimamente ligados, segundo muitas opiniões internas). Está resistindo às pressões internacionais de amigos e inimigos, resgatou reféns de túneis (infelizmente poucos) e luta bravamente em sete frentes de guerra.
Representantes de países e entidades – como António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), e o presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva – acusam Israel com enorme criatividade. Não à toa tornaram-se persona non grata em Israel. Apesar da dificuldade de exterminar uma ideologia – no caso, a Jihad, ou seja, a guerra santa islâmica proclamada contra os “infiéis” (o que inclui você, meu caro leitor, a não ser que seja um muçulmano praticante) –, o exército e os serviços secretos israelenses se utilizaram de instrumentos de combate que ficarão registrados, por sua inventividade, nas páginas da História. Com elas, o país conseguiu impor perdas importantes aos seus inimigos.
Essa é uma descrição bastante sucinta do que ocorreu em Israel no último ano e poderia se estender por metros de texto. Assim, fechemos lembrando das infinitas lágrimas já derramadas, e muitas outras ainda fluindo violentamente de nossas almas, que choram pelo destino imprevisível dos reféns ainda em poder do Hamas.
Até amanhã.