
A aliança rebelde síria, também chamada de Exército Sírio Livre, formada pela coalizão de inimigos do governo do ditador Bashar Al-Assad, alcançou seu objetivo em um avanço impressionante – poucos dias depois de lançado, e com pouquíssima resistência, dominou as principais cidades da Síria até chegar a Damasco. Ontem, confirmou-se que Assad e sua família deixaram a capital e exilaram-se na Rússia.
Sírios arrastam pelas ruas uma estátua de Hafez Assad, pai do ex-ditador sírio Bashar Al-Assad
Estamos assistindo a um momento histórico em que foi destituída do poder uma família que há 50 anos governa a Síria com mão de ferro, um dos fatos que levou a população síria, em março de 2011, a uma sangrenta guerra civil que resultou na morte de mais de 300 mil pessoas, deslocou internamente mais de 11 milhões de civis e, segundo a Agência da Organização para as Nações Unidas para Refugiados, gerou a maior população de refugiados do mundo – 5,5 milhões de sírios continuam espalhados principalmente pela Europa e no Oriente Médio. O Brasil, primeiro país nas Américas a oferecer vistos humanitários para aqueles que fugiam da Síria, abrigou 4 mil deles.
Vídeo recente de um soldado brasileiro e israelense gravado no sul do Líbano; soldado mandou o vídeo para a coluna, mas não quis se identificar
Rebeldes ponderados
Analistas internacionais, e também os israelenses, apresentam opiniões divididas sobre o destino político e estrutural da Síria, e também sobre suas repercussões na geopolítica. É verdade que os rebeldes até o momento apresentam um comportamento ponderado e racional para o padrão do Oriente Médio: não estão aprisionando ou matando oponentes nem destruindo edifícios ou instalações governamentais, além de terem permitido, pelo menos até o momento, que o governo atual mantenha suas atividades.
Segundo o analista israelense Mordechai Kedar, especializado em história e política da Síria e ex-oficial do departamento de Inteligência do Exército de Israel durante 25 anos, “não devemos esperar por um regime democrático, pois este não é um modelo praticado por países árabes no Oriente Médio. Mas talvez surja daí um governo pluralista e tolerante”.
Soldados do exército sírio retiram seus uniformes para fugir do combate contra os rebeldes
Incertezas em relação ao futuro próximo
Existem, no entanto, alguns aspectos preocupantes. Afinal, compõem o exército rebelde facções ligadas a organizações como o Al-Qaeda, Estado Islâmico e também o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), todos eles considerados terroristas pelo Conselho de Segurança da ONU, bem como pelos EUA e pela União Europeia.
Israel já enfrentou a Síria em guerras passadas e inclusive anexou ao país parte do território sírio, a região das Colinas do Golan, após a guerra de 1973. Os dois países dividem uma fronteira de 76 quilômetros, na qual o exército israelense reforçou sua presença nessa semana enquanto aguarda os próximos acontecimentos. Porque, de tudo o que está acontecendo no momento, há uma única certeza, segundo Kedar: “A fraqueza que provocamos no Irã vai nos trazer muitas surpresas nos próximos anos.”
Primeiro-ministro da Síria, em declaração na televisão, afirma que está à disposição do novo governo