Todos sabemos que o "X", antigo Twitter, tem vivido tempos turbulentos no Brasil: multa diária por não indicação de representante legal; suspensão de atividades; intimação judicial via postagem no próprio X; discussão pública entre Musk e Moraes e... uma grande indefinição sobre o futuro da empresa no país.
Recentemente, o ministro Alexandre de Moraes bloqueou as contas da empresa Starlink para pagar as multas do X, alegando serem ambas integrantes de um mesmo grupo econômico. R$ 18 milhões foram bloqueados e transferidos para o processo judicial em que figura o X. A conta foi desbloqueada logo depois.
Agora, mais recentemente, foi a vez do X fazer o seu movimento no tabuleiro desse jogo. Na manhã de 4ª feira, 18, o X voltou a funcionar para alguns usuários brasileiros, sendo que a suspensão determinada pelo STF não foi (ainda) revogada. O retorno da plataforma chamou a atenção dos usuários e rapidamente tornou-se um dos assuntos mais comentados dentro da própria rede social.
Como isso aconteceu? A princípio não se sabia a resposta. Na tarde da própria 4ª feira, a Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) explicou que o acesso foi possibilitado por uma mudança no registro dos servidores do X alterou seu endereço IP. Anteriormente, o IP era de domínio da própria rede social, mas foi alterado para um "proxy reverso" da empresa Cloudflare.
A contratação da Cloudflare como provedora de IP do X dificulta o bloqueio da rede social no país. Isso porque bloquear completamente o IP da Cloudflare poderia impactar outros serviços, incluindo sites governamentais que também utilizam o protocolo da empresa.
Assim, neste, digamos, novo ambiente tecnológico, a suspensão ou bloqueio do X ficou muito mais difícil, muito mais complexo, porque dentro desse serviço não está apenas o X. Está o próprio governo, imprensa, bancos, e, neste contexto, um eventual bloqueio pode atingir uma parcela muito grande da internet.
Indagações surgem: qual será o próximo passo do STF? O X vai manter esse caminho alternativo para burlar acordem de suspensão? O Cloudfare pode ser envolvido nesta questão, já judicializada? Por ora, a resposta para essas perguntas todas é difícil de ser até mesmo intuída.
De todo modo, fica reforçado algo já exposto aqui em outros textos: o STF se vê envolvido num jogo de grande desgaste no qual ele deveria participar apenas e tão-somente como árbitro. Vê-se que o STF chamar para si a articulação de medidas que não lhe são próprias, tem um preço que, se for "barato", significará no mínimo o risco da exposição e de um grande desgaste.
Para ler mais textos meus e de outros pesquisadores, acesse www.institutoconviccao.com.br