O golpismo encontrou o messianismo em São Paulo e Brasília na semana da festa nacional brasileira, mas nenhuma palavra foi dedicada às vítimas da pandemia.
Independentemente da discussão sobre a quantidade de pessoas presentes, foi um palco para mais um repertório antidemocrático com o qual se sequestra a agenda do Brasil.
A estratégia não contempla apenas levar o país para o autoritarismo, mas passa igualmente por soltar uma cortina de fumaça por dia a fim de encobrir os verdadeiros problemas nacionais.
Há uns dias foi o chamamento para que se preferisse comprar fuzil a feijão em vez de discutir as falhas da administração federal na condução da política econômica e no combate à pandemia.
A apropriação da data cívica não funcionou, assim como a tentativa de construir um mundo ao avesso. Mas esse processo de desmontagem da democracia pode levar a uma convulsão permanente.
No plano externo, a imagem brasileira foi novamente afetada, passando de ruim a péssima e tornando ainda mais difícil o trabalho de nossos agentes diplomáticos.
Para disfarçar a incompetência do governo federal e desviar a atenção dos verdadeiros problemas nacionais, o Messias apela para uma postura beligerante e para não ter de prestar contas pelo descalabro administrativo.
No Brasil, só trinta por cento da população foi totalmente imunizada, quinze milhões estão desempregadas , a inflação aumenta de maneira acelerada e a crise hídrica se acentua com risco de racionamento elétrico e apagões.
A estagnação do PIB no segundo trimestre deste ano, com a variação negativa de 0,1%, além de caracterizar a derrocada da política econômica vigente, acorrenta o ano decisivo de 2022 à reprodução da mesma mediocridade econômica.
Nem mesmo os participantes do sistema financeiro, base de apoio fundamental da política econômica, esperam um cenário animador com o declínio da previsão de PIB, no próximo ano, para um por cento.
O mundo oscilou negativamente na pandemia, mas o Brasil mostra uma herança mais negativa da política econômica nefasta e está em último lugar neste segundo trimestre, na comparação com 29 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE.
A situação no mercado de trabalho não estimula as pessoas a gastar e, para piorar, não há mudança de tendência no futuro.
Quando as pessoas param de procurar emprego pelo "efeito desalento", porque acham que não vão encontrar uma ocupação e se cansam de procurar, elas saem da força de trabalho e enfraquecem o país.
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Nesse tipo de desgoverno, diante de tanta incompetência, é natural o desespero e a reticência dos agentes econômicos, como os empresários.
Outro problema é que esse desgoverno messiânico difunde a imagem do Brasil como uma espécie de piromaníaco, e a consequência é sentida nas restrições crescentes às exportações do agronegócio e na estagnação das negociações comerciais.
O protoditador continua a conduzir o Brasil ladeira abaixo e dobra a aposta na escalada autoritária.
Desde o início da pandemia, a renda média dos brasileiros caiu 9,4%, segundo a Fundação Getúlio Vargas Social, e na metade mais pobre despencou 21,5%.
Alguns analistas, mais pessimistas, já trabalham com a hipótese, como disse, de PIB inferior a dois por cento em 2022.
A safra agrícola, que começou em 2021 com previsão de crescimento, deverá cair um por cento em relação a 2020, por efeito da seca e das geadas. Nem o mais promissor dos países resiste a tanta destruição promovida pelo próprio executivo federal.
O nosso Messias nunca mostrou interesse nos problemas da gestão pública. Seu negócio é solenidade militar, agitação na internet e passeios de motocicleta.
Este ano se encaminha para o fim e seguimos sem projeto, sem governo e sem futuro.
Os governos e investidores estrangeiros que costumam orientar os investimentos no Brasil têm receio do caótico cenário nacional e somos cada vez mais ignorados por outros chefes de Estado e de Governo.
A imprensa internacional diz que é melhor acompanhar o desenrolar dos acontecimentos brasileiros à distância e aguardar uma mudança na administração federal em Brasília.
Assim vamos perder mais quinze meses em compasso de espera com os investimentos nacionais e estrangeiros que já não se animam tanto com uma recuperação da economia em 2022.
Os danos à imagem externa do Brasil se acumulam diariamente e os líderes mundiais não acreditam que haverá mudança do percurso com a crescente polarização política promovida pelo Planalto.
Mas a maioria dos analistas e acadêmicos acredita que, ao final, as instituições nacionais vão prevalecer graças à força da sociedade civil, do Judiciário e da imprensa independente.
Em conclusão, poderíamos refletir sobre as palavras do Ministro Luís Roberto Barroso: "Insulto não é argumento. Ofensa não é coragem. A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo" .