
Os eventos climáticos extremos, cada vez mais recorrentes, podem causar cerca de 500 mil mortes por ano, caso os países não se adequem às mudanças. É o que explicou Carlos Nobre, um dos mais importantes cientistas do mundo na área do clima, em entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (13).
Confira: Europa registra temperaturas entre 1 e 4°C mais quente
Segundo ele, o Brasil e o mundo ainda estão longe de estar preparados para enfrentar os impactos cada vez mais frequentes dos eventos extremos relacionados ao clima, como as enchentes históricas e devastadoras do Rio Grande do Sul em 2024.
Ondas de calor

Nobre afirmou que, entre os fenômenos climáticos, as ondas de calor são o que mais levam a mortes. De acordo com o especialista, estudos estimam mais de 500 mil mortes por ano em todo o mundo, causadas pelos recordes sucessivos de temperaturas.
Só neste ano, as ondas de calor foram responsáveis por ao menos 16,5 mil mortes na Europa entre junho e agosto, segundo um estudo preliminar publicado em setembro pelo Imperial College London e pela London School of Hygiene & Tropical Medicine, em colaboração com cientistas do Instituto Meteorológico Real da Holanda e das universidades de Copenhague e Berna.
Os pesquisadores trabalharam com dados de 854 cidades, que representam 30% da população europeia. Segundo os autores, o excesso de mortalidade se deve a um aumento médio das temperaturas a 2,2 °C durante o verão europeu, com picos que atingiram 3,6 °C.
No Brasil, Nobre alerta para o fato de que a vulnerabilidade é ainda maior devido à falta de infraestrutura adequada para lidar com o calor. Ele citou que apenas 20% a 22% das residências brasileiras têm ar-condicionado, e que “pouquíssimas cidades possuem áreas verdes suficientes para reduzir a temperatura”.
Temporais históricos
Os eventos climáticos extremos causados pela chuva também gera um alto risco ao país, observa o especialista, como o ocorrido em abril e maio de 2024 no Rio Grande do Sul. A maior tragédia registrou mais de 2,3 milhões de pessoas afetadas em 478 municípios, com centenas de mortes e desaparecidos.
Estudos do Semadem (Serviço Geológico Nacional) mostram que milhões de brasileiros vivem em áreas de altíssimo risco, expostos a deslizamentos, inundações e enxurradas provocadas por chuvas intensas, como as registradas em território gaúcho.
Para o cientista, o país precisa repensar suas políticas habitacionais como prevenção à crise climática. “Nós temos que criar, vamos dizer assim, aquele programa 'Minha Casa, Minha Vida', que o Brasil criou muito bem há algum tempo atrás, devia ser 'Minha Casa Sustentável para Salvar Minha Vida” , sugeriu.
