Apesar de constar na folha de pagamento de projetos da Fundação Ceperj, com um saque de R$ 21.029,79, Cinthia da Cruz Tavares admitiu ao GLOBO que nunca trabalhou em nenhum projeto da fundação ou ligado ao governo estadual
. Moradora de Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio, ela ainda afirmou que recebeu uma indicação de ir buscar a ordem de pagamento sem precisar ir trabalhar. Cinthia é uma das 36 pessoas que receberam transferências ou sacaram mais de R$ 20 mil do órgão, que é alvo de denuncias de que o governo do estado fazia pagamentos para cargos secretos dentro do órgão na "boca do caixa".
"Não (trabalhei no Ceperj). Só me avisaram que tinha esse dinheiro aí, mas não sabia dessa informação (que era vinculado à Fundação). Sou professora do município. Mexi, tirei da minha conta. Foi um saque só", afirmou Cinthia ao GLOBO nesta sexta-feira (5).
Ao ser questionada quem a indicou que havia uma ordem de pagamento, ela se recusou a dizer:
"É melhor eu nem falar, senão dá ruim para mim", disse a mulher, antes de informar que não falaria mais sobre o caso.
Segundo o portal da transparência da prefeitura de Guapimirim, Cínthia da Cruz Tavares atuou como auxiliar de secretária na Educação municipal entre novembro de 2018 a janeiro de 2021. Os dados mostram que ela tinha um contrato de prazo determinado e recebia em torno de um salário mínimo.
É da cidade de Guapimirim, na Região Metropolitana, a agência onde mais pessoas, entre as 36 que receberam os maiores valores únicos, recolheram o dinheiro, com oito saques ou transferências. Foram localizadas as redes sociais de três delas, duas das quais professoras. Em comum, todas demonstram hábitos simples, sem ostentações. Agências de municípios vizinhos, como Magé e Teresópolis, também apareceram na relação das com ordens de pagamento superiores a R$ 20 mil.
Nesta quarta-feira, a Justiça do Rio determinou que o governo interrompa as contratações temporárias e pagamentos sem prévia divulgação dos dados em portal eletrônico. A decisão correu em meio à revelação da existência de uma "folha secreta" existente na Fundação Ceperj. Os dados apontam que os pagamentos somam R$ 248 milhões. A investigação do MP ocorreu após uma série de reportagens do site UOL.
Segundo a decisão da Justiça, a Ceperj e o governo devem interromper as contratações e remunerações sem divulgar os planos de trabalho e funções dos contratados, além de carga horária e remuneração. Segundo o Portal da Transparência do Governo do Rio, os gastos da Ceperj aumentaram consideravelmente de 2020 para 2021, saltando de R$ 21,2 milhões para R$127,4 milhões. Neste ano, o valor foi ainda maior: R$ 508,7 milhões, sendo R$ 225,6 milhões da concessão da Cedae.
No Twitter, o governador Cláudio Castro se pronunciou pela primeira vez numa rede social nesta quinta-feira sobre as suspeitas que recaem sobre o Ceperj. Ele afirmou que, desde que surgiram os questionamentos sobre a gestão de programas sociais desenvolvidos pela fundação em parceria com secretarias estaduais, determinou imediatamente a instauração de uma comissão coordenada pela Casa Civil para apurar “com rigor e energia” o que ocorria.
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