
A Câmara dos Deputados teve resultados opostos em dois processos disciplinares entre a noite de quarta-feira (10) e madrugada de quinta-feira (11). Os parlamentares rejeitaram o pedido de cassação da deputada Carla Zambelli (PL), que não alcançou os votos necessários, e aprovaram a suspensão por seis meses do mandato do deputado Glauber Braga (PSOL), em substituição à perda do mandato. As decisões geraram forte repercussão.
A sessão plenária que analisou o caso de Glauber Braga foi marcada por comemorações de sua base aliada, que enxergou na suspensão uma vitória diante da ameaça de cassação.
O próprio deputado afirmou nas redes sociais: "A mobilização popular venceu! Rodamos os 26 estados e o Distrito Federal com a Caravana Glauber Fica, realizamos atividades e atos por todo o país. Mostramos que a defesa de um mandato vai muito além de um cargo: é a defesa de um instrumento de luta da classe trabalhadora. Seguimos firmes...".
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL), esposa de Glauber, comemorou: “Glauber fica! Mesmo com todas as injustiças desse processo e as investidas da extrema direita, está encerrado o processo contra Glauber. A mobilização popular impediu a cassação”.
Na mesma linha, Erika Hilton (PSOL) avaliou que “o pior foi evitado” e lembrou que a defesa de Glauber se deu após ofensas à sua mãe, já falecida.
A líder da Federação PSOL-Rede, Talíria Petrone, declarou que “venceu a razoabilidade”, enquanto o deputado Lindbergh Farias (PT) classificou o resultado como uma “vitória histórica”.
Em contrapartida, críticos consideraram as punições brandas ou desproporcionais. O advogado de Carla Zambelli, Fábio Pagnozzi, manifestou indignação ao comparar os dois casos: “Inacreditável! Câmara salvou o Glauber e quer cassar Carla Zambelli!”.
Já o deputado Kim Kataguiri (União), que defendia a cassação de Glauber, explicou sua posição: "Eu tentei. Lutei no plenário para virar votos em favor da cassação. Porém, nós precisaríamos dos 257 votos necessários para cassá-lo, e em nenhum momento da noite alcançamos esse número. Para garantir que Glauber Braga não saísse sem punição, optei pela votação de sua suspensão. Acho absolutamente vergonhosa a postura de um parlamento covarde..."
Do outro lado, a rejeição da cassação de Zambelli foi celebrada por sua defesa e familiares. Seu advogado, Fábio Pagnozzi, comemorou: "Vencemos! Zambelli inocente!".
O filho da deputada compartilhou emoção com a notícia: "Urgente. O melhor presente de aniversário do mundo! Gratidão a todos os deputados que a apoiaram tanto! Gratidão a cada um de vocês que a apoiou nas redes e em oração! Deus é bom, mãe! Te amo".
O deputado Cabo Gilberto Silva (PL) também festejou: "Vitória!!! Conseguimos fazer justiça por Carla Zambelli!".
Os processos
O caso de Glauber Braga teve origem em uma denúncia do partido Novo, que o acusou de quebrar o decoro parlamentar ao expulsar à força o então integrante do MBL Gabriel Costenaro de um corredor da Câmara, em abril de 2024.
Glauber sempre alegou ter reagido a ofensas direcionadas à sua mãe, que estava com Alzheimer avançado. A suspensão, aprovada via Projeto de Resolução 86/25, encerra o processo no Conselho de Ética, mantendo seus direitos políticos durante o afastamento.
Já o processo de cassação de Carla Zambelli avançou ao plenário após sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão por envolvimento na invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça.
O parecer de Claudio Cajado (PP), favorável à perda do mandato, foi votado, mas obteve 227 votos a favor, sem atingir os 257 necessários para ser aprovado. Zambelli, que atualmente cumpre prisão na Itália aguardando processo de extradição, mantém assim seu mandato.
Durante a sessão, o deputado Julio Lopes (PP) chegou a explicar que o limite de faltas de Carla Zambelli na Câmara só será atingido em fevereiro de 2026, devido à licença de 90 dias solicitada pela deputada.