Moradores de várias ruas da Vila Mariana , na Zona Sul de São Paulo , estão colocando placas na frente de suas residências para protestar e tentar frear o assédio das empresas construtoras de imóveis sedentas por terrenos na região.
Após a mudança do Plano Diretor Estratégico (PDE) em alguns quarteirões do bairro em 2023, moradores contam que as abordagens das empreiteiras aumentou, fazendo com que placas com a frase "esta casa não está à venda" se espalhem pelas ruas.
As histórias incluem relatos graves de invasão de privacidade, falta de respeito e criação de boatos que tiram a paz entre os proprietários dessas casas. As investidas também geram desavenças entre os vizinhos, entre os que querem e os que não querem vender os terrenos. A apuração foi feita pelo g1.
Assédio das imobiliárias
Um dos casos mais graves acontece no quarteirão das ruas Mantiqueira, Juaracê e Dona Inácia Uchôa. Desde o início do ano, a Incorporadora Magik assinou acordo de intenção de compra de algumas casas no entorno e espalhou placas na vizinhança dizendo que ali haverá em breve um novo empreendimento imobiliário.
A construtora começou a procurar a vizinhança, interessada em adquirir as casas de todo o quarteirão para expandir o projeto do suposto condomínio, que ainda não tem nenhuma licença protocolada na Prefeitura de São Paulo. Moradores disseram que receberam mais de 40 ligações de corretores da incorporadora.
Por meio de nota ao g1, a empresa Magik LZ disse que “prima pelo respeito a todos os envolvidos na cadeia de produção, de proprietários dos terrenos ou casas que adquire ao cliente final”.
Insistência além do normal
“Eles ligam e mandam mensagens insistentemente, dizendo que já compraram todas as casas vizinhas e que a minha é a única que vai sobrar. E se a gente não vender, passaremos por transtornos durante os anos de construção, teremos riscos estruturais que podem até fazer a casa cair”, contou a engenheira Ana Amélia Feijó, que mora na rua Mantiqueira há 16 anos.
Ana Amélia conta que, quando o proprietário se recusa a negociar ou falar com a empresa, a construtora começa a procurar os familiares, até mesmo fora do estado.
Em um dos casos, uma dona de imóvel foi internada devido a uma doença grave e precisou ser temporariamente interditada pela Justiça. Um dos filhos foi designado como tutor e, após a decisão judicial, passou a receber abordagens da construtora.
Três vizinhos relatam que os corretores da Magik LK foram até a casa dele em outro bairro e chegaram a aparecer até na saída da escola dos filhos, com o objetivo de persuadi-lo a vender o imóvel da mãe, que ainda estava internada.
O g1 também conversou com uma família que topou negociar com a empresa. Ao se reunirem com representantes da Magik LZ, ouviu a proposta de que a casa abriria espaço para que uma quadra de tênis fosse erguida na suposta construção.
Quando a família questionou sobre a recusa da proposta e a solução que seria dada para possíveis danos estruturais do imóvel, a resposta da empresa foi: “A gente arruma, mas a gente tem muita má vontade com quem não vende...”
Placas espalhadas por moradores
Nas ruas do bairro, além das placas que anunciam o desinteresse por negociar os imóveis, é fácil encontrar casas com placas que dizem "chega de prédios", geralmente colocadas por inquilinos que também estão insatisfeitos com a descaracterização do bairro e a presença constante das construtoras.
A construtora disse que “repudia e não compactua com atitudes desrespeitosas e agressivas”, mas que “faz parte do próprio negócio, transações que não são fechadas, finalizadas. E isso é entendido como algo natural: divergências são parte de uma democracia”.