Fernando Sastre na chegada ao 30ºDP, no Tatuapé; acidente aconteceu no domingo (31) e ele deixou o local
Reprodução / TV Band
Fernando Sastre na chegada ao 30ºDP, no Tatuapé; acidente aconteceu no domingo (31) e ele deixou o local

O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho , de 24 anos, que conduzia o Porsche que matou um motorista de aplicativo em São Paulo, disse que não teve tratamento especial. Ele é considerado foragido e concedeu sua primeira entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

"Eu não tive nenhum tratamento privilegiado", disse, completando que não está acompanhando a repercussão do caso na mídia. Ele reiterou ter sido tratado como "qualquer um" pela Polícia Militar.

“Eu não tenho acompanhado muito as mídias. Então, eu não sei a dimensão que está isso também, mas eu não sou nada disso [que estão falando, inclusive que é playboy]. Eu não tive nenhum tratamento privilegiado. Foi um caso midiático que estourou. Foi isso. Para mim, foi tudo normal. Não teve nada de tratamento privilegiado. Fui tratado como qualquer um".

Ao contrário do que ele diz, a PM abriu uma sindicância para investigar a abordagem no dia do ocorrido, que apontou "falha de procedimento" dos PMs que abordaram o condutor. Há vídeos que mostram que os policiais que abordaram Fernando não fizeram o teste do bafômetro , por exemplo.

A entrevista foi gravada sete horas antes de a Justiça de São Paulo decretar sua prisão , na noite da última sexta-feira (3). O motorista do carro de luxo é considerado foragido após a Polícia Civil ir até sua casa na tarde de sábado (4) para cumprir o mandado de prisão e não encontrá-lo.

Ele afirmou não ter consumido bebidas alcoólicas no dia do incidente. No dia 30 de março, disse que foi a um restaurante com a namorada e amigos. Segundo ele, pediram aperitivos e bebidas, mas ele alega ter consumido apenas água. No entanto, a comanda indicou que foram pedidas oito bebidas à base de uísque, uma caipirinha de vodca e duas águas.

Por volta das 23h, sugeriu que fossem para uma casa de pôquer. Ele negou ter brigado com a namorada ao sair do local, como mostram câmeras de segurança, e disse que o amigo Marcus Vinícius Rocha já o acompanhava no Porsche até o restaurante, então a namorada seguiu no carro de trás com a companheira de Marcus.

Fernando disse que a mãe o socorreu no local da colisão. Ele ainda explicou por que não foi ao hospital, mesmo após a mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, ter dito aos PMs que iria levá-lo para atendimento. "Quando eu chego em casa [porque ia pegar a carteira do convênio], eu tenho um autodescontrole, fico muito nervoso com tudo aquilo que está acontecendo, aí ela me dá um remédio e eu apago".

A perícia constatou que o Porsche estava a 114,8 km/h no momento da colisão com o carro da vítima. Antes do impacto, o veículo chegou a atingir 156,4 km/h , enquanto o carro do trabalhador estava a uma velocidade inferior a 40 km/h.

Segundo o empresário, dentro do carro não havia a sensação de alta velocidade antes da colisão: "Inclusive, eu acho que seria válido uma segunda perícia, uma segunda análise, para ter certeza dessa aferição".

O advogado do amigo reforçou a versão de que todos tinham consumido bebidas antes da colisão. Neste domingo (4), José Roberto Soares Lourenço, advogado de Marcus e de sua namorada Juliana, afirmou que o rapaz estava "dividido" sobre dar essa versão e prejudicar o amigo. Marcus sofreu fraturas nas costelas, edema pulmonar e teve o baço retirado. Apesar de ter recebido alta médica,  precisou ser internado novamente nesta semana.

"Ele está consciente, com certa dificuldade de falar ainda. Dói para respirar ainda", disse o advogado.

Não bebeu

"Eu não bebi no primeiro ambiente e eu não bebi também na casa de pôquer", disse Fernando. Após o repórter abordar a versão de Marcus e Juliana sobre o consumo de bebidas, os advogados de Fernando intervieram, e o acusado declarou que não poderia comentar sobre o assunto.

Fernando mencionou 'desculpas', enquanto a família da vítima não percebe arrependimento. Questionado sobre o ocorrido, Fernando compartilhou seus pensamentos sobre a possibilidade de estar diante dos filhos da vítima, o motorista de aplicativo Ornaldo Viana, de 52 anos. Ele expressou considerações sobre a situação inversa, imaginando seu próprio pai sendo morto por um motorista.

"Aí eu sei que não tem nada que a outra parte pode fazer, pode me dar, me falar, que vai trazer o meu pai de volta. Mas eu sei que, talvez, eu acho que a única coisa que seria para aquele momento seria um pedido de desculpas sincero, assim, do coração, e seria isso que eu poderia dizer para eles. Pedir desculpas".

O filho da vítima fatal afirmou que o pedido de desculpas não teve "um pingo de emoção". Lucas Morais declarou ter visto a filmagem das câmeras corporais dos PMs e destacou que, em nenhum momento, Fernando ou a mãe dele perguntam como está Ornaldo.

"Para você tentar perdoar uma pessoa, você tem que sentir um arrependimento, alguma coisa nesse sentido, e eu não senti. Para mim, eles trataram o meu pai igual um nada", disse Lucas Morais, em entrevista ao Fantástico.

A determinação de prisão do empresário trouxe "alma lavada e paz" para a família, segundo o filho, que afirma ainda esperar que a Justiça seja feita.

"Ele [Fernando] tem que ficar lá [na prisão]. Meu esposo estava trabalhando, estava vindo do trabalho. E ele estava vindo de uma balada", declarou Francilene Morais de Caldas, esposa de Ornaldo.

Foragido

Na tarde de sábado (4), uma equipe do 30º Distrito Policial (Tatuapé) foi ao endereço do empresário na Vila Regente Feijó, na zona leste de São Paulo, com o mandado em mãos para cumprir a decisão da Justiça. Como ele não foi encontrado, o condutor do carro de luxo passou a ser considerado foragido.

A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo informou ao UOL que as diligências prosseguem visando a localização e captura de Fernando. O mandado de prisão foi expedido também na tarde de sábado (4).

"O juiz de Direito da 1ª Vara do Júri do Foro Central Criminal, doutor Roberto Zanichelli, Cintra, na forma da lei, manda qualquer autoridade policial e seus agentes, a quem este for apresentado, que prenda e recolha a qualquer unidade de estabelecimento prisional deste estado (...) Fernando de Andrade Sastre Filho", diz trecho do documento obtido pelo UOL.

A prisão preventiva foi decretada na noite de sexta-feira (3) pelo desembargador João Augusto Garcia, da 5ª Câmara de Direito Criminal, pois havia risco de reiteração da conduta.

"A ligação com atos semelhantes, mesmo instado por pessoas a não dirigir, por seu estado (indicado ainda pelo frentista, que viu o réu sair cambaleando), fazem crer na possibilidade de reiteração em descumprimento de normas", disse na decisão.

Na sexta-feira (3), a defesa anunciou que vai recorrer, mas seguirá a decisão judicial. Eles alegam que as medidas anteriores, como suspensão da CNH e proibição de contato com testemunhas, eram suficientes e que a prisão preventiva é exagerada.

Se entregará

advogado de Fernando afirmou ao UOL que ele se entregará nesta segunda-feira (6) e que estão buscando garantir sua segurança durante o processo. Devem propor que ele seja encaminhado ao presídio de Tremembé, em SP.

Fernando é réu por homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima após um acidente onde Ornaldo Viana faleceu e Marcos Vinicius Rocha ficou ferido.

A Justiça, após o Ministério Público recorrer, emitiu um mandado de prisão, citando testemunhas que afirmaram que o motorista estava visivelmente alcoolizado e dirigindo em alta velocidade.

Além disso, pesou contra ele o histórico de multas por excesso de velocidade e um incidente anterior de racha na avenida Paulista.

Uma mudança de depoimento de uma das testemunhas também foi citada, indicando que o acusado teria pressionado a namorada para negar sua embriaguez antes do acidente.

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