O influencer fitness e empresário Renato Cariani e sua esposa, Tatiane, armazenavam cerca de R$1,2 milhão em espécie no ano de 2022, período em que a Anidrol, empresa química de Cariani, já era alvo de investigação por alegações de desvio de insumos destinados à produção de crack e cocaína. O montante foi oficialmente declarado pelo casal à Receita Federal no mesmo ano.
De acordo com apuração do Metrópoles , os dados fazem parte do inquérito da Polícia Federal (PF) que fundamentou a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) contra Cariani e quatro sócios dele na Anidrol. Há duas semanas, o grupo se tornou réu pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de capitais.
A PF afirma, no inquérito, que o valor em espécie armazenado por Cariani “não é comum”. “Chama a atenção, nos dias de hoje, tendo em vista as diversas ferramentas disponibilizadas pelas instituições bancárias, como Pix, Ted, Doc, em que fornecem mais segurança e comodidade aos clientes, alguém armazenar grandes quantias de dinheiro em espécie”, diz.
Outro argumento usado na PF é o de que na indústria química, da qual a empresa de Cariani faz parte, “não é comum o recebimento de dinheiro vivo em seu cotidiano”.
O aumento dos valores em espécie declarados pelo empresário, de um ano para o outro, também chamou a atenção dos investigadores. Entre 2021 e 2022, a quantia armazenada por Cariani em dinheiro vivo aumentou de R$ 150 mil para R$ 942.256,00, um crescimento de R$ 792 mil. A PF afirma, no inquérito, que “não é possível saber a origem e o destino do dinheiro em espécie movimentado ao longo dos anos”.
“Pelas declarações apresentadas ao Fisco, notam-se oscilações que ultrapassam R$ 700.000,00 armazenados de um ano para outro. Sendo assim, não é possível saber a origem, nem destino do dinheiro em espécie movimentado ao longo desses anos”, diz o inquérito da PF.
No caso da esposa do influencer, Tatiane Cariani, a PF notou um aumento de R$ 300 mil nas declarações de montantes em espécie no ano de 2022 - o que levantou suspeitas por parte dos investigadores, uma vez que ela nunca havia declarado nenhum valor em dinheiro vivo nos oito anos anteriores.
Suspeita de sonegação
No inquérito, a PF também aponta a possibilidade de Cariani ter sonegado uma mansão em Campos do Jordão - SP. O relatório da PF apresenta um trecho da escritura do imóvel em que o americano Frank Socorro e o brasileiro Emerson Bacelar Brandão constam como proprietários, mas também traz e-mails trocados por Cariani que indicam a compra da mansão pelo influencer fitness em 2012, pelo valor de R$ 470 mil.
Cariani confirmou a compra em depoimento, embora o imóvel não conste em suas declarações de Imposto de Renda. Ele afirmou que teria pago apenas por 50% da casa, com o objetivo de comprovar o usucapião dos outros 50%.
Cariani usava nome de crianças para comprar insumos, apontam mensagens
A PF também incluiu no inquérito as mensagens de WhatsApp entre Cariani e Fábio Spíndola Mota, apontado pelos investigadores como um dos membros do esquema e o elo entre o influenciador e traficantes.
Segundo a PF, Renato, Fábio e a funcionária dona do celular apreendido na investigação realizaram uma viagem juntos em 2015. Em uma das conversas, Cariani e ela discutiram os preparativos para a viagem.
“Você vai querer os dólares? O amigo do Fabinho vai acabar vendendo tudo e você vai ficar sem. Amanhã ele vai lá na empresa entregar os meus R$ 2 mil dólares que comprei com amigo dele”, diz o influencer.
Outra evidência coletada pela PF: em maio do ano passado, Cariani pediu a Fábio para ir à sede da Anidrol para uma conversa.
“Coincidentemente, no mesmo dia em que Fábio foi preso pela operação Downfall, da Polícia Federal do Paraná”, diz o procurador de justiça Juliano Atoji. A operação citada pelo procurador foi a que desarticulou um esquema que usava mergulhadores para colocar drogas nos cascos de navios. De acordo com as investigações, Fábio tinha ligações com o chefe da quadrilha.
“Fornecia contas bancárias de empresas sua e da sua esposa para movimentar esse dinheiro do tráfico", conta o delegado da PF, Eduardo Verza.
Influencer nega crimes
O empresário e influencer não tem se manifestado publicamente sobre o caso, apesar de continuar as postagens sobre exercícios e alimentação saudável em suas redes. Em dezembro, logo após ser indiciado pela PF, Cariani fez publicações em que negava o envolvimento nos crimes, atribuindo-os a terceiros.
“Pude fazer meu depoimento, [tive a] oportunidade de fazer ele [por] escrito e gravado. Eu quis porque [ao deixar] gravado tenho tudo na íntegra, afinal de contas não tenho absolutamente nada com isso”, disse.