PF realiza mandados de busca e apreensão na casa de Renato Cariani
PF/Divulgação
PF realiza mandados de busca e apreensão na casa de Renato Cariani

O empresário e famoso influenciador fitness Renato Cariani supostamente usava nomes de crianças para conseguir comprar insumos químicos. Segundo revelado pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo (25), ele pedia dados tanto dos menores quanto dos pais. As mensagens constam na denúncia que o tornou réu na última semana por esquema de tráfico de drogas, associação ao tráfico e lavagem de dinheiro.

“Amiga, consegue dois nomes de crianças com dados dos pais pra mim, por favor”, diz uma mensagem.

As mensagens apreendidas trouxeram à tona mais duas suspeitas que estão sob investigação. Em uma conversa, Cariani solicitou informações sobre crianças, o que levanta a possibilidade de que esses dados tenham sido utilizados para fraudar a compra de um hormônio de crescimento.

A defesa afirmou que nunca ocorreu o uso de receitas falsas. Na época, o medicamento era utilizado com supervisão profissional, porém não foi explicado o motivo pelo qual ele requisitou os dados dos pais das crianças.

Vida normal nas redes

Apesar de continuar compartilhando seu cotidiano com seus mais de 7,5 milhões de seguidores em uma rede social, onde oferece conselhos sobre alimentação e exercícios físicos, novas mensagens encontradas pela Polícia Federal lançam luz sobre a possível ligação de Cariani com um esquema de desvio de produtos químicos para o tráfico de drogas. O celular em questão pertence a uma funcionária e amiga dele, que também será alvo de investigação.

O celular foi apreendido durante uma operação da PF contra o influenciador e outras 12 pessoas. O programa Fantástico exibiu detalhes dessa operação em dezembro do ano passado. Segundo a denúncia acolhida pela Justiça, Renato Cariani e outros indivíduos estariam envolvidos na produção, venda e fornecimento de mais de 12 toneladas de produtos químicos destinados à fabricação de drogas.

“O grupo empresarial de Renato Cariani - com sede em Diadema, na Grande São Paulo - simulou a venda de insumos químicos para grandes pessoas jurídicas com o objetivo de ocultar o repasse dessas mercadorias para o refino e adulteração de cocaína e crack”, diz o documento da investigação, que aponta que entre 2014 e 2020 foram emitidas pelo menos 60 notas fiscais fraudulentas para três empresas, uma delas a farmacêutica AstraZeneca, que fez a denúncia em 2019.

“De acordo com a AstraZeneca, a empresa jamais adquiriu qualquer insumo da Anidro – empresa de Cariani”, diz a investigação.

Na ocasião, Cariani apresentou à polícia um e-mail de negociação com um suposto representante da farmacêutica, Augusto Guerra, porém a investigação revelou que essa pessoa não existe. Segundo a PF, quem criou esse e-mail foi Fábio Spíndola. De acordo com as investigações, ele é o elo entre Renato Cariani e traficantes de drogas.

Novas evidências

Conforme as mensagens obtidas no celular da funcionária de Cariani, Renato e Fábio realizaram uma viagem juntos em 2015. A funcionária também estava presente, assim como todos levaram seus companheiros. Em uma das conversas, Cariani e ela discutiram os preparativos para a viagem.

“Você vai querer os dólares? O amigo do Fabinho vai acabar vendendo tudo e você vai ficar sem. Amanhã ele vai lá na empresa entregar os meus R$ 2 mil dólares que comprei com amigo dele”, diz o influencer.

O Ministério Público acredita que a viagem a Cancún comprova que Cariani e Fábio eram amigos. Inclusive, as esposas tinham fotos juntas na rede social.

Outra evidência coletada pela PF: em maio do ano passado, Cariani pediu a Fábio para ir à sede da Anidrol para uma conversa.

“Coincidentemente, no mesmo dia em que Fábio foi preso pela operação Downfall, da Polícia Federal do Paraná”, diz o procurador de justiça Juliano Atoji.
A operação citada pelo procurador foi a que desarticulou um esquema que usava mergulhadores para colocar drogas nos cascos de navios. De acordo com as investigações, Fábio tinha ligações com o chefe da quadrilha.

“Fornecia contas bancárias de empresas sua e da sua esposa para movimentar esse dinheiro do tráfico", conta o delegado da PF, Eduardo Verza.

Carregamento suspeito

Segundo as investigações, outro elemento crucial que conecta Renato Cariani a Fábio Spínola é o carregamento de um veículo com produtos químicos nas instalações da Anidrol, a empresa de Cariani, em 2017.

No celular apreendido pela Polícia Federal com a funcionária, o marido dela, que também é funcionário da empresa, menciona um pedido feito pelo chefe:

"Todo mundo já foi embora. Eu vou ter que separar um material pra AstraZeneca. O Renato... liguei pra ele, ele falou pra eu quebrar esse galho dele e separar esse produto", disse, antes de mandar uma foto do carro por mensagem.

Outro episódio registrado no celular também vai ser apurado. A Polícia Civil havia recebido a mesma denúncia que serviu de base para a investigação da Polícia Federal. Fez uma vistoria numa empresa ligada à Anidrol e, também, de Cariani.

A funcionária avisa: “Só para te avisar, seus amigos policiais estiveram aqui. Foi tranquilo. Ele diz que depois te liga”.

De acordo com o judiciário, o veículo estava registrado em nome da esposa de Fábio. A PF esclarece que, no mesmo dia do carregamento, uma nota fiscal fraudulenta foi emitida em nome da AstraZeneca para a venda de éter e cloridrato de lidocaína, produtos que teriam sido desviados para a produção de drogas.

Posição dos investigados

A defesa de Fábio Spínola e de sua esposa, Andreia Domingues Ferreira, afirma que Fábio é inocente, e que isso será devidamente comprovado. Eles afirmam ainda que ele jamais utilizou o nome da esposa para realizar qualquer transação.

Em relação ao veículo fotografado dentro das instalações da empresa de Cariani, a defesa de Fábio nega que ele tenha sido usado para transportar qualquer produto químico. Ambos são réus no processo.

O Fantástico tentou entrevistar Renato Cariani em duas ocasiões, mas ele se recusou a conceder entrevista. O advogado de Cariani informou por telefone que ele prefere não se manifestar.

O advogado respondeu por escrito a algumas perguntas enviadas pela reportagem. Quando questionado se Cariani realizou alguma auditoria interna para investigar o ocorrido em sua empresa, o advogado respondeu que apresentou à Justiça mais de 100 documentos que indicam que a empresa de Cariani pode ter sido vítima, mas não especificou de quem.

Ele também afirmou que Cariani nunca negou sua amizade com Fábio, destacando que ambos têm residências no mesmo condomínio e que suas esposas são próximas.

Quanto ao carro da esposa de Fábio, flagrado no estacionamento da Anidrol, a defesa de Cariani argumenta que não é comum no mercado cruzar a placa do veículo e do comprador durante o carregamento, e que ficaram surpresos com essa informação.

O promotor afirmou que qualquer eventual desvio será investigado se houver indícios. À equipe do Fantástico, a Secretaria de Segurança Pública declarou que o inquérito policial daquela época foi arquivado e que não há registro de irregularidades cometidas por policiais que estiveram envolvidos na investigação. Além disso, afirmaram não terem sido notificados sobre o pedido de reabertura do caso.

Em relação aos "amigos policiais", a defesa de Cariani explicou que as menções feitas por ele se referem a uma fiscalização que já havia ocorrido. A referência a serem "amigos" indica simplesmente que a análise da documentação seria feita de forma imparcial, sem qualquer abuso investigativo.

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