O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, seria o alvo do factoide cujo objetivo seria turbinar a candidatura de Bruno Dantas ao STF
Reprodução/ Flipar
O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, seria o alvo do factoide cujo objetivo seria turbinar a candidatura de Bruno Dantas ao STF


De acordo com uma reportagem exclusiva da Revista Fórum, jornalistas da sucursal de Brasília do jornal O Estado de São Paulo (Estadão) fizeram uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal (MPT-DF) contra a editora de política Andreza Matais. 

O iG tentou entrar em contato com o MPT-DF para confirmar o recebimento da denúncia em questão, mas a assessoria de comunicação do órgão não funciona aos domingos. 

Os repórteres alegam que ela agiu de má-fé e os assediou moralmente para fabricar o “Caso Dama do Tráfico do Amazonas” com o objetivo de prejudicar a imagem do ministro da Justiça, Flávio Dino, na disputa por uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal (STF). 

A divulgação da reportagem apontada como distorcida gerou muita "dor de cabeça" para Flávio Dino, enquanto a oposição bolsonarista no Congresso o ataca institucionalmente.


A reportagem em questão já vem tendo sua credibilidade questionada, e o escândalo político em torno dela já é visto por muitos como uma narrativa distorcida e fabricada (Veja os detalhes mais abaixo) .

A intenção da editora, segundo os denunciantes, era favorecer outro possível indicado por Lula para a vaga. Os jornalistas afirmam que Andreza preparou e executou a reportagem com o objetivo oculto de revigorar a candidatura do ministro Bruno Dantas “de quem Andreza se diz 'amiga pessoal' e 'devedora' à vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)”.

Os repórteres que fizeram a denúncia - todos recém-contratados, oriundos de cidades fora de Brasília - contam que não tiveram alternativas a não ser cumprir as ordens arbitrárias e enviesadas da chefe que os submeteu a condições de trabalho degradantes e humilhantes, forçando-os a se envolver na fabricação do 'escândalo da dama do tráfico'.

Além disso, os jornalistas relatam jornadas de trabalho extenuantes sem contabilização ou pagamento de horas extras. "Somos colaboradores do jornal Estadão e queremos denunciar aqui que a editora-chefe de política do Estadão (jornal Estado de S. Paulo), Andreza Matais, assediou e obrigou repórteres recém-contratados por ela (todos no ano de 2023) a preparar e publicar uma reportagem enviesada que foi previamente concebida por ela para denunciar supostas ligações do ministro da Justiça, Flávio Dino, com uma mulher apresentada jocosamente como 'dama do tráfico do Amazonas'" , diz trecho da denúncia.

A Notícia Fato enviada ao MPT também afirma que além de ter ordenado a publicação da reportagem que prejudicaria Flávio Dino, Andreza Matais também “usou uma entrevista do ministro Gilmar Mendes, do STF, igualmente amigo pessoal de Bruno Dantas e de Andreza Matais, para inflar a gravidade da visita da 'dama do tráfico' e, assim, conferir ares de gravidade ao 'factoide' que é o encontro de uma suposta chefe do tráfico com autoridades do governo".

"Andreza Matais gerencia mais de 30 funcionários do Estadão e goza de prerrogativas profissionais e constitucionais dadas aos jornalistas. O factoide esconde uma sequência de violações constitucionais e trabalhistas que precisam ser analisadas e investigadas com urgência pelo Ministério Público".

"A tática imita operações de desinformação de arapongas e outros profissionais de 'inteligência', pois, na ausência de fatos que indiquem um favorecimento ou uma comunhão de desígnios com a tal chefe do tráfico, a fabricação de notícia busca conferir verossimilhança a uma narrativa pela qual Dino pareça alguém ligado ou simpático ao narcotráfico e, assim, seja considerado um nome impróprio para o STF", continua a denúncia dos funcionários contra Andreza Matais.


Com a denúncia, os jornalistas pedem que Andreza seja investigada por ilegalidades profissionais e trabalhistas; e que o MPT investigue se o jornal Estadão "violou leis de imprensa, pois o conteúdo também foi e é amplamente veiculado e turbinado por concessão estatal: rádio Eldorado, controlada pela família dona do Estadão. Solicitamos que essa denúncia seja anexada à notícia de fato".

Questionada sobre o caso, a editora negou tudo. "A denúncia é improcedente e a direção de jornalismo já encaminhou o caso para o jurídico, que tomará as providências cabíveis", declarou a editora-chefe de política do Estadão à Fórum. 

Por sua vez, o Tribunal de Contas da União enviou uma nota afirmando que seu presidente “desconhece completamente” os fatos relatados na denúncia, e que Dantas “adotará providências legais contra a difamação criminosamente perpetrada em portal do MPT, e divulgada como se documento oficial fosse".

Ao Portal iG , um pessoa que trabalha como repórter do Estadão que não quer se identificar afirmou que "não gostar dela [Andreza Matais] é unanimidade no Estadão, acho que até os outros editores não gostam".

Apelido inventado

O “escândalo da Dama do Tráfico Amazonense” diz respeito a uma visita de Luciane Barbosa Farias ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Estudante de Direito e militante contra abusos no sistema penitenciário na posição de presidenta da Associação Instituto Liberdade do Amazonas, ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas”, que seria um traficante de drogas ligado ao Comando Vermelho. 

A divulgação da informação de que Luciane participou de reuniões no Ministério na condição de acompanhante ganhou muita repercussão devido à alegação de que ela também teria sido condenada por envolvimento em crimes ligados ao narcotráfico.

Escolhida pelo Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas (CPTEC-AM) para participar de um encontro do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília, Luciene já afirmou diversas vezes que não tem envolvimento com nenhuma facção criminosa. 

Ela esteve na Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça acompanhando a ex-deputada Janira Rocha, vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM-RJ, no dia 19 de março. E no dia 2 de maio, encontrou-se com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). Essa versão, inclusive, foi confirmada pelo ministro Flávio Dino e pelo secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz .   

Com a divulgação da notícia de sua presença no ministério, criou-se uma narrativa polêmica que tentava taxar o ministro da Justiça e Segurança Pública de aliado do crime. Contudo, a narrativa não se sustenta.

Apesar de realmente ter sido citada em um processo, na 1ª Instância da Justiça, Luciane Barbosa e Clemilson dos Santos foram absolvidos de todas as imputações da denúncia do Ministério Público do Estado do Amazonas contra eles no dia 25 de janeiro de 2022, por ausência/fragilidade das provas apresentadas. 


Ante a absolvição, a juíza Rosália Guimarães Sarmento também revogou a prisão preventiva de Clemilson e determinou a expedição de um alvará de soltura em seu favor, e se absteve de determinar a prisão de Luciane, que estava em liberdade.

Tentativas de intimidação

A notícia do Estadão chegou a afirmar que “Dama do Tráfico do Amazonas” era um apelido atribuído a Luciane na região. No entanto, não há registros na imprensa local desse “título” sendo atribuído a ela.

Questionado nas redes sociais, o jornalista André Shalders, um dos que assina a matéria que gerou toda a polêmica, chegou a admitir que ele foi o responsável por atribuir a Luciane tal alcunha, após ouvir o tal apelido de uma fonte que ele entrevistou.

"Estou respondendo a todo mundo porque tenho como provar tudo o que escrevi. Quanto ao 'dama do tráfico', foi uma expressão usada por uma fonte. Achei peculiar e coloquei no texto", comentou Shalders em resposta à também jornalista Cynara Menezes, no X (antigo Twitter). Em seguida, a resposta foi apagada.



Ao ter seu trabalho criticado , outro repórter envolvido na elaboração do factoide, Tacio Lorran, passou a atacar o também jornalista Leandro Demori, que atualmente trabalha Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e foi um dos responsáveis pela investigação que levou à divulgação da série de reportagens Vaza Jato, no The Intercept Brasil. 

Demori afirmou, por meio de suas redes sociais, que Tácio Lorran entrou em contato com a EBC solicitando informações sobre seu salário. Ao saber do interesse sobre sua remuneração, o jornalista veio a público dar mais detalhes sobre quanto ele recebe, e criticar a atitude de Lorran, declarando que “se acham que vão me intimidar, entrem na fila”. 

"Depois que eu publiquei minha avaliação sobre esse caso da “Dama do Tráfico do Amazonas”, um dos repórteres do Estadão, que assinou a primeira reportagem do caso, pediu à TV Brasil detalhes sobre meus salário".


Chama atenção que Tácio Lorran reaja a uma crítica pontual a seu trabalho – que fiz de forma aberta, sem pessoalizar – com o que, me parece, uma tentativa tosca de retaliação, pra ficar em termos republicanos. Qual o interesse na minha remuneração? Isso é pauta?", questionou Demori.

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