Bolsonaro e Lula durante debate na TV Globo
Reprodução/TV Globo - 30.09.2022
Bolsonaro e Lula durante debate na TV Globo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), decidirão em 30 de outubro quem irá governar o Brasil a partir de janeiro de 2022. Os dois foram os mais votados neste primeiro turno das eleições 2022 , segundo os dados divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na noite de hoje.

Lula terminou com 48,43% dos votos e Bolsonaro, 43,20% após mais de 99,98% dos votos apurados. Apesar de uma expectativa por parte dos petistas de uma possível vitória no primeiro turno, a eleição será decidida em 30 de outubro. O vencedor irá comandar o país por ao menos quatro anos, até o fim de 2026.

Bolsonaro começou a apuração em primeiro lugar e com uma vantagem de cerca de sete pontos sobre Lula, mas o petista virou a disputa  e conseguiu terminar em primeiro com uma vantagem de mais de 6 milhões de votos.

A decepção novamente foi Ciro Gomes (PDT), que terminou em quarto lugar, atrás da senadora Simone Tebet (MDB), uma das surpresas do pleito. Ciro teve 3,05% dos votos e Tebet, 4,16%. Votos brancos somaram 1,59% e nulos, 2,82%.

Desde a redemocratização, essa é a nona eleição . Em todas as vezes, o presidente em exercício que tentou a reeleição terminou eleito. Outro dado histórico. Como apontou o iG , os líderes nas pesquisas sempre terminaram eleitos.

Desde o começo da campanha, em 16 de agosto, Lula aparecia em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. O ex-presidente conseguiu reunir em sua campanha nomes que eram adversários em eleições passadas, como o seu candidato a vice, Geraldo Alckmin, Marina Silva, e desafetos do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Além deles, Lula teve o apoio do ex-ministro Joaquim Barbosa.

Bolsonaro apostou todas as suas fichas na prorrogação do Auxílio-Brasil e em uma melhora da economia. Na abertura da Assembleia Geral da ONU, o presidente usou seu discurso para atacar seu concorrente, como fez nos debates ao chamá-lo de presidiário. Apesar disso, ele nunca conseguiu uma grande recuperação nas pesquisas. Seu discurso contra as urnas e colocando em dúvida o sistema eleitoral tampouco deu resultado para além do seu grupo de seguidores. Os constantes ataques contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes também não surtiram efeito nas urnas.

Centrão se reaproximou de Lula

Dias antes do pleito, lideranças do chamado Centrão estavam pessimistas com as chances de reeleição de Bolsonaro e viram um movimento de reaproximação do ex-presidente Lula . Conforme apuração do iG, mesmo o PP, PL e Republicanos não tinham mais confiança na equipe de Bolsonaro.

Por conta disso, algumas figuras dessas três siglas foram escaladas para afunilar as conversas com a cúpula petista. No início da campanha, as legendas mantiveram um canal com a direção do PT para viabilizar uma participação na base governista em uma eventual gestão de Lula.

O ex-presidente não tem qualquer problema em receber apoios, desde que sigam o seu plano de governo. Ele trabalhará para formar um Centrão B, tendo ao seu lado União Brasil, MDB e PSD.

Para que PP e Republicanos estejam em seu grupo, Lula já sinalizou que as lideranças terão que mudar. O maior objetivo do petista é não ter que negociar com Arthur Lira, presidente da Câmara.

Em relação ao PL, petistas acreditam ser impossível um acordo porque a bancada do partido deverá contar com a presença de muitos bolsonaristas. “O PP e Republicanos terão apoiadores do presidente, mas eles são minoria. Já no PL é diferente. Como negociar com Eduardo Bolsonaro? Impossível”, explica um coordenador da campanha de Lula.

Debates na TV

Apenas dois debates contaram com os principais candidatos. O primeiro, da Band, e o último, da TV Globo. Lula não foi ao debate do SBT.

O primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República teve tom elevado dos candidatos menos favorecidos nas pesquisas . Ciro, Tebet, Felipe d’Ávila e Soraya Thronicke elegeram Bolsonaro como principal alvo de ataques.

Já Lula esteve no foco do atual presidente. No entanto, teve tom mais comedido e evitou o confronto direto sempre que pode. Diferentemente do desempenho durante a sabatina do "Jornal Nacional", o candidato petista se apresentou mais morno, sem entrar na pilha de seu principal adversário.

O clima tenso de dentro do estúdio, que não tinha plateia, se estendeu para os outros ambientes da Band. Na sala onde os assessores acompanhavam o confronto, os deputados André Janones (Avante), da equipe de Lula, e Ricardo Salles (PL) bateram boca.

Mas a principal marca do debate foi o ataque às mulheres. Bolsonaro foi ofensivo com a jornalista Vera Magalhães. "Acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim", disse o chefe do Executivo. Logo na sequência, foi grosseiro com a senadora Simone Tebet. A partir daí, o papel das mulheres na sociedade pautou as discussões, o que não foi favorável para o atual presidente.

Coube também a Tebet e Soraya Thronicke os ataques mais contundentes à gestão Bolsonaro, provocando os momentos de maior repercussão nas redes sociais.

Já o segundo debate, no SBT, foi marcado pela ausência de Lula e a “estreia” de Padre Kelmon (PTB) . O religioso substituiu Roberto Jefferson, que teve a candidatura impugnada pelo TSE.

Participaram, além do padre, Bolsonaro, Ciro Gomes, Simone Tebet, Soraya Thronicke e Felipe D'Ávila.

A ausência de Lula foi reforçada em todo início de bloco e nas falas dos participantes. O petista foi relacionado à ditadura da Nicarágua, à Venezuela e chamado de presidiário. Atual líder do Executivo e segundo colocado nas pesquisas, Bolsonaro também foi alvo dos candidatos. Orçamento secreto, conduta na pandemia de covid-19 e a ligação com Valdemar da Costa Neto, condenado no caso do Mensalão, foram temas relacionados ao presidente.

O último debate, organizado pela TV Globo, foi marcado pelas fortes discussões, interrupções e pedidos de resposta de Bolsonaro e Lula, além de conflitos entre Padre Kelmon e Soraya .

Com o clima tenso, por diversas vezes as regras do debate foram descumpridas. Coube a William Bonner intervir e pedir o respeito ao tempo. Padre Kelmon foi o campeão de broncas do mediador. “O senhor realmente decidiu criar uma nova regra nesse debate. O senhor pode olhar para mim, por favor?”, pediu o jornalista. A partir daí, Bonner não conseguiu mais esconder a irritação com a postura dos candidatos.

Durante uma discussão entre Lula e Padre Kelmon, ele lamentou o episódio e, em tom professoral, advertiu: “Os senhores estão aqui para debater e não para ataques pessoais”.

Em outro momento, o apresentador do Jornal Nacional abriu os braços e disse em tom duro. “O presidente Jair Bolsonaro pediu direito de resposta, mas sequer foi citado. Não há o que ser respondido.”

Pesquisa Datafolha

De acordo com os dados da pesquisa Datafolha, Lula nunca teve menos de 43% das intenções de votos. A primeira pesquisa, divulgada em 24 de março, mostrava o petista com 43% contra 26% de Bolsonaro. De lá para cá, houve um aumento, que bateu o máximo de 48% em 26 de maio, e uma estabilização. A última pesquisa, divulgada ontem, mostrava Lula com 48%. Nos votos válidos, Lula tinha 50% .

Por outro lado, Bolsonaro chegou a crescer até 7 pontos percentuais durante as pesquisas. Ele começou com 26% das intenções de voto e seu pico foi em 9 de setembro, após as manifestações, quando registrou 34%. A distância para Lula nunca foi menor que dois dígitos. A última pesquisa mostrava o presidente com 34%.

Ciro Gomes oscilou entre 6% e 8% das intenções de votos durante a campanha, mas viu cair ppara 5% na última pesquisa. Simone Tebet teve um crescimento de 5 pontos percentuais, saindo de 1% para 6%.

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