Ex-presidente Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro
Montagem
Ex-presidente Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro

A nove dias do primeiro turno das eleições 2022 , pesquisas de intenção de voto divulgadas pelo Datafolha mostram que a corrida à Presidência da República deste ano é uma das mais disputadas desde a redemocratização do Brasil.

Análise feita pelo iG aponta que a diferença entre os dois primeiros colocados na  pesquisa divulgada na noite dessa quinta-feira (22) é de apenas 14 pontos percentuais. Segundo os últimos dados do instituto , o e x-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece na frente da disputa ao Planalto, com 47%, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL ) , que tem 33% das intenções de voto.

Na terceira posição, está o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) , com 7%, e, na quarta, a senadora Simone Tebet (MDB) , com 5%.

O número mais baixo já registrado pelo Datafolha a aproximadamente 10 dias do primeiro turno foi em 1989. 

À época, o ex-presidente Fernando Collor venceu Lula, que disputava sua primeira eleição presidencial. De acordo com os dados, 11 dias antes da votação, Collor tinha 21% das intenções, enquanto Lula apresentava 14%, isto é, os candidatos estavam com uma diferença de 7 pontos percentuais.

Já nas últimas eleições presidenciais, 17 dias antes do primeiro turno, Bolsonaro marcava 28% das intenções, enquanto Fernando Haddad (PT), que aparecia em segundo lugar, tinha 16% (diferença de 12 pontos percentuais).

Todos os candidatos que lideravam as pesquisas divulgadas pelo instituto a poucos dias das eleições venceram a disputa ao Planalto.

Veja, abaixo, os dados analisados pelo iG :

Eleições 1989 / 1994
Gráficos iG / Dados: Datafolha - 22.09.2022
Eleições 1989 / 1994
Eleições 1998 / 2002
Gráficos iG / Dados: Datafolha - 22.09.2022
Eleições 1998 / 2002
Eleições 2006 / 2010
Gráficos iG / Dados: Datafolha - 22.09.2022
Eleições 2006 / 2010
Eleições 2014 / 2018
Gráficos iG / Dados: Datafolha - 22.09.2022
Eleições 2014 / 2018


Campanha "vira voto"

Outro destaque das eleições deste ano é que, o candidato na terceira colocação da última pesquisa Datafolha apresenta um dos menores percentuais desde a redemocratização.

Segundo o último levantamento do instituto, Ciro Gomes apresenta 7% das intenções de voto. Em 2006, a ex-senadora Heloísa Helena também marcou a mesma pontuação a poucos dias da votação.

Anteriormente, em 1994, o ex-deputado Enéas Carneiro estava na terceira colocação e marcou apenas 5% das intenções — menor percentual já registrado para a posição dentro do período analisado. Em 1998, Ciro também apareceu em terceiro, mas com 8% a 14 dias das eleições. 

Neste ano, nas redes sociais, tem crescido cada vez mais o número de adeptos à campanha pelo chamado voto útil. A pressão dos apoiadores de Lula e Bolsonaro se intensifica sobre os eleitores dos candidatos da terceira via, para que eles mudem o voto e ajudem a melhorar o desempenho dos dois candidatos que aparecem à frente das pesquisas de intenção de voto.

O eleitorado de Ciro e Tebet são os principais alvos, já que eles aparecem em terceiro e quarto lugar, respectivamente, nos levantamentos. 

Segundo Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, a razão pela qual o ex-governador do Ceará apresenta percentuais baixos pode ser explicada pela polarização, ou seja, a divergência entre extremos ideológicos políticos.

"As duas candidaturas mais bem colocadas estão polarizando os eleitores. Acho que, nesse caso, a questão da polarização e o acréscimo do esforço pelo voto útil é o que tem drenado as intenções de voto no caso de Ciro Gomes e de Simone Tebet", diz o professor.

Consentino acrescenta que estas são eleições presidenciais bastante acirradas, referindo-se a Lula e Bolsonaro. 

"É uma das disputas mais acirradas que a gente tem, claramente. Do ponto de vista das pesquisas, talvez a gente esteja assistindo um dos duelos em que os candidatos estão mais próximos".

Segundo turno

Nos cenários de um possível segundo turno testados pelo Datafolha , Lula ainda assim ganharia contra todos os concorrentes, marcando 54% contra 38% de Bolsonaro, por exemplo.

De acordo com Consentino, uma importante decisão para um segundo turno é o índice de taxa de rejeição, a qual o atual mandatário lidera com 52%, segundo os dados.

"A taxa de rejeição é um dado decisivo pensando em segundo turno. Isso sempre foi assim e, no caso atual, em que o presidente exibe um índice bastante alto de rejeição, ele pode também, de alguma forma, levar à derrota no segundo turno".

O cientista político ainda explica que a decisão também depende daqueles candidatos que não chegaram ao segundo turno. 

"No segundo turno, os eleitores não votam no candidato que eles querem, eles votam muito mais para barrar aquele que eles não querem, sobretudo pensando naqueles que ficaram 'órfãos'  das candidaturas, que ficaram pelo primeiro turno".

Diferença entre eleições

As eleições de 2018 e as de 2022 podem ser consideradas diferentes por dois motivos: a polarização exacerbada e a violência política.

Em 2018, também havia uma polarização com a disputa entre  Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. Neste ano, é entre Lula e Bolsonaro. Há quatro anos, o então candidato e hoje presidente sofreu uma facada em Minas Gerais durante campanha eleitoral. Neste ano, a violência política ganhou mais repercussão, dados os assassinatos entre os eleitores do atual mandatário e do petista, justificados por diferenças políticas e ataques a jornalistas.

Um exemplo é o caso do eleitor de Lula, que foi morto no dia 7 de setembro, no Mato Grosso, a golpes de faca e machado por um apoiador de Bolsonaro. Segundo a Polícia Civil, o assassino confessou que o motivo do crime foi divergência política.

Para o cientista político, falta debate pragmático nesta eleições.

"A gente vê muito pouco de debates programáticos sobre o que vão fazer depois ou sobre direitos, e muito mais uma disputa calcada numa popularidade, quase que, por vezes, messiânica, entre duas candidaturas", afirma Consentino.

O professor também atribui essas diferenças aos ataques de Jair Bolsonaro à democracia e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) .

O atual presidente já atacou diversas vezes os ministros do Supremo Tribunal Federal e a própria Corte, além de duvidar da confiabilidade das urnas eletrônicas.

Em julho deste ano, ele disse: "Quando se fala em eleições, vem à nossa cabeça transparência. E o senhor Barroso [Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE], também como senhor Edson Fachin [presidente do TSE], começaram a andar pelo mundo me criticando, como se eu estivesse preparando um golpe. É exatamente o contrário o que está acontecendo", afirmou Bolsonaro, sem provas. Ele virou alvo de investigações no STF e no TSE após as declarações anti-democráticas.

As falas, segundo o professor do Insper, são "inéditas". "Um ingrediente importante é a ameaça sistemática de uma das candidaturas. No caso do atual presidente, ao sistema da Justiça Eleitoral, questionando a lisura do processo ou as instituições que regulam o próprio processo eleitoral, isso é inédito. A gente já tinha visto candidatos debaterem, questionarem as eleições ou o processo eleitoral, mas nunca a lisura da própria Justiça Eleitoral", disse o especialista em política.

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** Letícia Moreira é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. No Portal iG, trabalha nas editorias de Último Segundo e Saúde, cobrindo assuntos como cidades, educação, meio ambiente, política e internacional.

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