O registro de novas armas de fogo nas mãos de civis bateu um recorde em 2021, atingindo a marca de 204,3 mil artefatos licenciados pela Polícia Federal. É uma alta de 300% em relação às 51 mil peças registradas em 2018, antes de o presidente Jair Bolsonaro assumir com a promessa de facilitar o acesso a armas para cidadãos comuns.
Em 2019, o número já havia saltado para 94.064 novas armas registradas; em 2020, atingiu 177.782, até chegar às 204,3 mil do ano passado. O volume licenciado apenas em 2021 corresponde a 13,5% das 1,5 milhão de armas de fogo no país com registro ativo na Polícia Federal.
A PF faz o registro apenas de armas usadas por civis, como servidores públicos com porte funcional, empresas de segurança privada e cidadãos comuns, entre outras categorias. O Exército faz o controle de armas de militares e de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs).
“Conta vai chegar”
No ano passado, das 204,3 mil armas registradas pela PF, 76% (ou 155,2 mil) foram para cidadãos comuns. O aumento sem precedentes é considerado um risco para a segurança pública, na opinião de especialistas. Daniel Cerqueira, do Fórum de Segurança Pública, diz que a política do governo Bolsonaro é anticientífica ao estimular o armamento como forma de defesa.
"Há um consenso na literatura científica empírica internacional e nacional de que quanto maior a circulação de armas, mais homicídios, feminicídios, suicídios", aponta Cerqueira, autor de estudo mostrando que a cada 1% a mais de armas em determinada localidade, a taxa de homicídios sobe 2%.
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Ele cita outras pesquisas que apontam que ter uma arma em casa eleva a chance de o morador ser vítima. Assim como, na rua, o efeito surpresa ao ser abordado por um criminoso leva ao risco de que o revólver seja roubado ou descarregado contra o próprio dono. Além disso, brigas banais podem facilmente terminar em tragédia, diz Cerqueira.
"É uma calamidade ter tantas armas entrando em circulação. Uma arma com boa manutenção dura décadas. Estamos comprando o assassinato de cidadãos de bem daqui a 30, 40 anos. Essa conta, mais cedo ou mais tarde, vai chegar", previu.
Procurado, o Ministério da Justiça, que assessora a Presidência nas políticas relacionadas a armas, informou que não se manifestaria. A Presidência da República orientou que fosse procurada a Polícia Federal, que não retornou até o fechamento da edição.