Um acidente em uma obra do metrô da Linha 6-Laranja na capital paulista fez com que um pedaço da Marginal Tietê, uma das principais vias da cidade, desmoronasse na manhã de hoje. Segundo o Corpo de Bombeiros, dois funcionários que tiveram contato com a água que jorrou do acidente foram socorridos.
Imagens mostram que uma cratera se abriu ao lado da pista local da Marginal, além da água que escoa por baixo da via.
O desmoronamento ocorreu por volta das 9h, antes da Ponte do Piqueri, ao lado de um poço cavado pelo tatuzão (equipamento que faz as escavações do metrô).
Por conta do acidente, três faixas da Marginal Tietê estão interditadas . A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que as pistas sentido rodovia Ayrton Senna da Marginal Tietê estão totalmente interditadas. Segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos, uma adutora ou tubulação de esgoto foi rompida, o que teria causado o acidente.
Em um primeiro momento, cogitava-se que o tatuzão teria atingido alguma galeria, no entanto, em uma entrevista rápida concedida a jornalistas no local do acidente, o secretário de Transportes Metropolitanos Paulo Galli afirmou se tratar de uma rachadura, que ainda está sob investigação.
"O problema tem que ser investigado, estamos contatando uma auditoria para identificar o que ocorreu, e tomaremos medidas cabíveis. O que é importante: precisamos retomar a vida, essa galeria precisa ser reconstruída e a Marginal precisa retomar [a circulação de carros]. Toda equipe da Sabesp já está aqui, se movimentando para evitar que viesse mais esgoto para cá. Já parou de chegar esgoto, agora precisamos ver como vamos resolver. Os técnicos vão analisar para podermos retomar e fazer a retirada desse esgoto que está em todo túnel", disse.
Ainda nessa entrevista, Galli afirmou que o tatuzão está a cerca de três metros abaixo do local do acidente, e que o vazamento já foi contido. Os riscos de desmoronamento estão sendo avaliados. O governo do Estado deve conceder uma entrevista coletiva ao longo da tarde para mais esclarecimentos.
Ao iG, a Secretaria de Transportes Metropolitanos informou que, "tão logo tomou conhecimento do incidente no Poço de Ventilação da Linha-6 Laranja do metrô, determinou o isolamento de todo o perímetro e enviou uma equipe para acompanhar a apuração da causa da ocorrência. As causas do acidente serão apuradas, assim como a extensão dos danos à obra e às vias locais".
Já a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou à reportagem que acompanha o incidente e que "todas as medidas necessárias para contenção do problema e estabilização da pista" estão sendo tomadas.
De acordo com a Sabesp e a Secretaria, também foi criado um comitê para investigar os motivos que levaram ao desmoronamento e estudar soluções técnicas para a realização de "obras de drenagem, recuperação para a retomada das obras do Metrô, conserto da tubulação e da Marginal Tietê".
A tubulação afetada é responsável por encaminhar o esgoto coletado para tratamento na ETE Barueri. Segundo o texto, técnicos da Companhia trabalham no local para desviar o esgoto para outros interceptores enquanto o problema não é resolvido.
Uma das empresas responsáveis pelas obras da Linha 6-Laranja, a Acciona, afirmou que houve um rompimento de uma coletora de esgoto próximo ao VSE Aquinos (Poço de Ventilação e Saída de Emergência) e que a equipe técnica foi enviada ao local. "Equipes da Linha Uni, da ACCIONA e demais técnicos estão no local para apurar os fatos. Todas as medidas de contingência já foram tomadas. Parte do asfalto da Marginal Tietê cedeu e, por questão de segurança, a pista está parcialmente interditada", disse o conglomerado em nota ao iG .
Pelo Twitter , o governador João Doria afirmou que determinou a "apuração imediata das causas e elaboração de plano da concessionária responsável pela obra, junto à prefeitura da capital, para normalização do tráfego da Marginal rapidamente. E que as obras possam ser reiniciadas, com segurança, o mais breve possível".
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O prefeito Ricardo Nunes compartilhou no Instagram um vídeo da reunião emergencial sobre o acidente.
Tatuzão e o percurso da obra
O "tatuzão" opera na obra desde o dia 16 de dezembro do ano passado. O equipamento pesa 2 mil toneladas e tem 109 metros de extensão, com diâmetro de escavação de 10,61 metros. Ao todo, são necessárias 45 pessoas para operar a máquina.
Há cerca de 15 dias, o equipamento começou a percorrer a VSE Tietê. A escavação tinha previsão de chegar até a Avenida Senador Felício dos Santos, logo após a estação São Joaquim, na Liberdade. A partir desse poço central, o tatuzão iria percorrer 10 quilômetros com escavações em solo.
Linha 6-Laranja do Metrô
Com 15,3 km, a Linha 6-Laranja de metrô promete reduzir a apenas 23 minutos um trajeto que hoje é feito de ônibus, em cerca de 1h30min. A linha deverá transportar 633 mil passageiros por dia, segundo informa a própria concessionária responsável pela obra.
Ao todo, o projeto prevê 15 estações. A nova linha vai ligar a Zona Norte da capital paulista, com a estação Brasilândia, até a estação São Joaquim, no Bairro da Liberdade, região central da cidade.
A Linha 6-Laranja é uma PPP (Parceria Público-Privada) entre o estado de São Paulo e a Acciona, que criou a concessionária Linha Universidade para operar a linha a partir de 2025.
A construção da linha estava parada desde 2016, quando foram retomadas em outubro de 2020. O motivo da paralisação seria a falta de dinheiro do consórcio responsável pelas obras.
Após a conclusão da linha, a Acciona terá o direito de operar a linha por 19 anos. O valor da obra é de R$ 15 bilhões.
Histórico nada positivo
No dia 12 de janeiro de 2007, a terra cedeu e uma cratera foi aberta durante a construção da estação Pinheiros, na Linha 4-Amarela do Metrô, localizada na Zona Oeste de São Paulo. Apesar do tempo passado, até hoje famílias aguardam indenização pelos danos causados às casas onde moravam.
Sete pessoas morreram na tragédia, que completou 15 anos no dia 12 de janeiro de 2022 . Na época, 79 famílias tiveram que deixar as casas ou apartamentos onde viviam, 55 imóveis foram interditados, sendo 10 deles condenados e três demolidos. Alguns moradores foram obrigados a deixar as residências pelo risco que elas ofereciam e outros foram convidados a se retirar, explicou a Defesa Civil Municipal naquele ano.