Nesta quarta-feira (12), a tragédia de maior proporção envolvendo uma obra de Metrô do Brasil completa 15 anos. Em 12 de janeiro de 2007, a terra cedeu e uma cratera foi aberta durante a construção da estação Pinheiros, na Linha 4-Amarela do Metrô, localizada na Zona Oeste de São Paulo . Apesar do tempo passado, até hoje famílias aguardam indenização pelos danos causados às casas onde moravam.
Sete pessoas morreram no episódio. Na época, 79 famílias tiveram que deixar as casas ou apartamentos onde viviam, 55 imóveis foram interditados, sendo 10 deles condenados e três demolidos. Alguns moradores foram obrigados a deixar as residências pelo risco que elas ofereciam e outros foram convidados a se retirar, explicou a Defesa Civil Municipal naquele ano.
Algumas dessas pessoas foram transferidas para hotéis da região e tiveram as despesas pagas pela seguradora Unibanco AIG, que tinha contrato firmado com o consórcio que executava a obra, como é o caso de Antônio Manuel Dias Teixeira. O corretor de imóveis morava no segundo andar de um prédio de quatro andares e foi uma das pessoas que teve o apartamento demolido após a abertura da cratera.
Antônio e a família passaram um ano morando em um hotel, mas os pertences, móveis e objetos pessoais continuaram no apartamento, que estava interditado. No início, o corretor lembra que eles ainda podiam entrar na residência para buscar roupas e documentos, mas depois a entrada no local ficou proibida, devido ao risco que a construção oferecia.
"O apartamento em que eu morava, na época, valia uns R$ 300 mil e a prefeitura me deu R$ 90 mil", conta Antônio ao iG . "Depois, o Metrô me deu R$ 10 mil ou R$ 20 mil pelos móveis que eu perdi."
"Como resultado, não consegui comprar nada, perdi meu apartamento e hoje eu pago aluguel. A minha mulher não quis ficar no lugar que eu estou ficando, porque é um cubículo, foi embora e voltou para a cidade dela no interior com a minha filha. Minha vida virou de cabeça para baixo", acrescenta.
O Consórcio Via Amarela e o Metrô, no entanto, se responsabilizaram somente pelos danos causados às moradias da região que estivessem em um raio de 50 metros do centro da cratera. A obra, porém, também gerou estragos a residências que estavam fora desse perímetro, antes mesmo da abertura do buraco.
À reportagem, Zelma Fernandes Marinho conta que as grandes fissuras que surgiram nas paredes da casa onde ela morava começaram ainda durante a construção da estação. "As rachaduras apareceram logo que as obras foram iniciadas, por volta de agosto ou setembro de 2006. Nós procuramos o pessoal do Metrô, que encaminhou a gente para falar com os responsáveis pela Linha Amarela e comunicamos o que estava acontecendo."
Apesar de eles terem reportado a situação, nada foi feito. As rachaduras nas paredes do dormitório e dos fundos da casa — que hoje mora apenas o ex-marido de Zelma, Bartolomeu — continuam aumentando devido ao abalo causado pelos trens. Um quarto da residência foi interditado na época pela Defesa Civil e permanece do mesmo jeito até hoje.
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"A Defesa Civil nunca mais se interessou em procurar os moradores para ver como é que está a situação ou o que aconteceu, então está tudo parado. Nós abrimos um processo contra o Metrô e a Linha Amarela", conta a bióloga. "A ação já foi julgada e eles foram condenados, mas grandes empresas têm o aval de continuar com recursos, então estamos aguardando."
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Em nota ao iG , a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que, na época, a Defesa Civil foi acionada e "atuou na interdição de ruas, na organização e evacuação de imóveis, formando, inclusive, um posto de comando para orientação e retirada de pessoas do local". De acordo com a pasta, o órgão é responsável apenas pela realização de "interdições emergenciais", encaminhando os casos para outros órgãos competentes, para que eles prossigam com as respectivas diligências.
Zelma também relata que, durante as obras, a família conseguia ouvir o alarme e sentir os tremores das detonações, que eram feitas de madrugada. Após o aparecimento das fissuras nas paredes, a filha mais velha do casal, que vivia na casa dos fundos com o marido e duas crianças, ficou com medo dos estragos e acabou se mudando.
Mortes
As paredes desabaram por volta das 14h daquela sexta-feira. Em menos de 2 minutos, a cratera atingiu 80 metros de diâmetro e 38 metros de profundidade.
Naquele dia, morreu o motorista da obra Francisco Sabino Torres, de 48 anos. Outras três vítimas estavam em um ônibus que passava pelo local no momento do desmoronamento: o motorista Reinaldo Aparecido Leite, de 40 anos, o cobrador Wescley Adriano da Silva, de 22, e o passageiro Marcio Rodrigues Alambert, de 31.
Além deles, a aposentada Abigail Rossi de Azevedo, de 75 anos, o oficce-boy Cícero Augustino da Silva, de 58, e a bacharel em direito Valéria Alves Marmit, de 37, caminhavam na calçada da Rua Capri — usada como acesso dos operários ao túnel — e também morreram no ocorrido.
À época, a Via Quatro, empresa responsável pela Linha Amarela do Metrô, informou que "todas as famílias das vítimas fatais do acidente" foram indenizadas em até 90 dias.
Sem concordar com o valor pago pela companhia, algumas dessas famílias entraram na Justiça para rever a quantia.
O iG tentou contato com a Via Quatro, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Em nota, o Metrô de São Paulo afirmou que a obra estava "completamente segurada, possibilitando a cobertura a todos os prejuízos causados pelo acidente ocorrido em 2007 e também a indenização a todas as pessoas e empresas prejudicadas por parte do consórcio de empreiteiras responsável pelas obras". O texto também diz que "todo o processo foi acompanhado e intermediado pelo Governo do Estado que, assim como o Metrô, não foi parte do processo judicial".
A construção foi inaugurada em 16 de maio de 2011 e, hoje, a linha apera com 11 estações, que ligam a região central da Luz até o bairro da zona sudoeste da Vila Sônia.