O ex-vereador Christiano Girão, preso na manhã desta sexta-feira pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), em operação realizada em São Paulo, foi monitorado dias antes de ser capturado para evitar uma tentativa de fuga. O policial militar reformado Ronnie Lessa, já detido pela morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, também foi alvo da operação.
O GLOBO teve acesso a uma foto que mostra o monitoramento que foi feito. Na fotografia, tirada em uma loja no bairro Pari, na área central de São Paulo, Girão aparece de bllusa preta, óculos escuros e bone. Segundo informações da Polícia Civil do Rio, o estabelecimento é do ex-vereador e de sua ex-mulher. No local, funciona uma confecção e customização de roupas e bonés.
Ainda de acordo com a polícia, o ex-vereador vinha usando a loja para dormir, tentando evitar sua localização pelos agentes. Ele passou a adotar essa rotina depois da veiculação de notícia informando que havia um pedido de prisão contra ele. Girão morava no mesmo bairro. O ex-vereador foi surpreendido pelos policiais quando dirigia seu carro, logo após ter saído da loja no início da manhã desta sexta-feira.
Na loja, a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão. Uma grande quantidade de documentos, além de celulares e computadores foram levados do local.
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Girão foi preso pela acusação de ter contratado Lessa para executar o ex-policial André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, e sua companheira, Juliana Sales de Oliveira, de 27 anos, crimes ocorridos em 14 de junho de 2014, em razão de uma disputa pelo controle da comunidade da Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio. A investigação aponta o ex-vereador como chefe do grupo paramilitar do bairro.
Na ocasião, o casal estava em um Honda Civic, dirigido por André Henrique, quando foi interceptado por um Fiat Dobló, branco, de onde foram feitos diversos disparos de armas de fogo em frente à sede da associação de moradores local. De acordo com as investigações, Lessa executou o crime por determinação de Cristiano Girão. Miliciano do bairro, Zóio levava a companheira para o trabalho. O casal foi fuzilado com 40 tiros. O crime estaria relacionado à disputa pelo poder da Gardênia.
A polícia ainda investiga a ligação entre Girão e a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Para as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile, que integravam a força-tarefa do caso Marielle e foram as responsáveis pela denúncia contra Girão, ao provar que o ex-vereador contratou Lessa para matar Zóio, é aberta a possibilidade, segundo as investigações, de ele tê-lo chamado para outras empreitadas criminosas semelhantes, inclusive as execuções da vereadora e do motorista, mortos numa emboscada em março de 2018. O ex-vereador é um dos personagens denunciados pela CPI das Milícias, conduzida, dez anos antes do duplo homicídio, pelo então deputado estadual Marcelo Freixo. Ao ser preso, em 2009, Girão chegou a jurar vingança ao parlamentar.