Complexo do Alemão
Tomaz Silva / Agência Brasil
Complexo do Alemão

A Defensoria Pública do estado do Rio quer que o Ministério Público estadual investigue as mortes ocorridas nessa sexta-feira durante uma operação das polícias Civil e Militar no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudeh) do órgão enviou um ofício ao grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do MP, solicitando que seja iniciada uma apuração sobre o caso. De acordo com o delegado titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), Marcus Amim, foram confirmadas 13 mortos na operação até este sábado.

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O defensor público Daniel Lozoya, do Nudedh, afirma que a solicitação para o MP atuar nos casos de mortes em ações policiais é de praxe. A Delegacia de Homicídios (DH) da capital, também abriu um inquérito para investigar as mortes.

"Esse é um procedimento padrão nosso (da defensoria), em consonância com a sentença da Corte Interamericana no caso da chacina ocorrida na favela Nova Brasília, também no Alemão. Reflete um resultado de um problema crônico, que é a apuração parcial e tendenciosa nesses casos em que a polícia investiga a própria polícia", afirma Lozoya.

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Participaram da ação policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme). De acordo com o delegado titular da Desarme, Marcus Amim, foram mortos na operação dois chefes do tráfico. Um deles é Leonardo Serpa de Jesus, o Léo Marrinha, que chefiava a venda de drogas na comunidade do Pavão-Pavãozinho,em Copacabana, na Zona Sul do Rio. O outro é Leandro Nascimento Furtado, o Diminho ou Oliver, chefe do tráfico em favelas do Alemão e também em uma do Complexo da Penha, o Parque Proletário.

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Ainda de acordo com Amim, a operação foi planejada com base em uma investigação em andamento na Desarme sobre Léo Marrinha e também em informações sobre a localização de um paiol com armas e drogas. A operação começou na madrugada de sexta e continuou ao longo da manhã. Segundo Amim, todos os mortos tinham envolvimento com o tráfico. Oito fuzis foram apreendidos na ação.

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"É claro que ninguém fica feliz com mais de uma dezena de mortes, mas nós não escolhemos esse resultado. Nós fomos lá prender lideranças importantes de uma facção criminosa que, infelizmente, se encastelaram no complexo, mais uma vez, como foi feito no passado, em razão da dificuldade de incursões policiais na região. E essas dificuldades não são apenas pelo grande poderio bélico, demonstrado na apreensão, mas também por uma mobilização através de mídias sociais que está sendo organizada para descredenciar ações legítimas como a de ontem", afirma o delegado.

O defensor público Daniel Lozoya criticou a operação e afirmou que há uma “naturalização de chacinas” no Rio.

"Nossa avaliação é que esse tipo de operação nunca pode ser considerada exitosa. Há uma naturalização de chacinas no Rio, onde temos a polícia que mais mata no mundo. A sociedade precisa ter um olhar mais crítico para isso. Porque pelo simples fato de a pessoa não ser inocente, é como se legitimasse tudo. E do ponto de vista de eficácia, esse tipo de ação é extremamente frágil. Totalmente ineficaz", avalia.

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Cinco dos mortos na operação chegaram a ser socorridos por PMs e levados para o Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, também na Zona Norte. Outros foram transportados por moradores até a parte baixa da favela. De acordo com o coronel Mauro Fliess, porta-voz da PM, as equipes ficaram reduzidas quando os baleados começaram a ser transportados. Com isso, quem ficou para trás acabou não conseguindo chegar aos demais baleados. Durante a ação, um policial militar foi ferido por estilhaços no rosto. Ele foi atendido no Hospital Central da PM, no Estácio, na Zona Norte, onde precisou passar por cirurgia.

Na manhã deste sábado, moradores do Alemão relataram terem ouvido tiros no complexo, mas não há informações sobre novas operações policiais.

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