
Os adeptos às redes sociais se depararam, desde o início desta semana, com uma avalanche de publicações sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos). O embate entre Congresso e Executivo pela derrubada do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e as disputas em torno das emendas parlamentares colocaram o nome do deputado no centro da discussão pública, especialmente diante das críticas sobre destinação de verbas e cortes nos gastos públicos.
Entre quarta (2) e quinta-feira (3), o nome dele foi mencionado mais de 2,6 milhões de vezes no X, o antigo Twitter. Desde terça-feira (1º), o termo “Hugo Motta” não sai da lista dos assuntos mais comentados do momento na rede social.
Publicações com as afirmativas “ Hugo não se importa ” e “ Hugo Motta traidor ” também figuram entre os mais frequentes nos últimos dias, com cerca de um milhão de menções.
Somente nesta quinta-feira (3), até a publicação desta matéria, houve 1,6 milhão de menções ao nome do deputado no X.
Além disso, as pesquisas no Google sobre Motta também aumentaram. De acordo com o Trends — ferramenta gratuita do Google que permite analisar a popularidade de termos de pesquisa ao longo do tempo, em diferentes regiões e categorias —, ocorreu um crescimento expressivo nas buscas pelo parlamentar nos últimos 30 dias, principalmente na última semana, quando o interesse por Motta atingiu um pico na quarta-feira (2).
Os termos “Hugo nem se importa”, “mãe de Hugo Motta”, “ Hugo Motta presidente Câmara ” e “ Hugo Motta STF ” foram os mais pesquisados na última semana, com aumento de até 170% no interesse por esses assuntos.
O nome do ex-governador de São Paulo, João Doria; do ministro da Fazenda, Fernando Haddad; além de “inimigo do povo” e “bolsonarismo” também aparecem relacionados às buscas feitas por Motta.
As pesquisas foram motivadas, principalmente, por causa da decisão dele de pautar e aprovar a derrubada do decreto que aumentava o IOF, sem aviso prévio ao governo, mesmo após costurar um acordo com a Fazenda sobre o tema — interpretada nos bastidores como traição — e por sua atuação controversa na liberação de emendas parlamentares. Essa estratégia foi vista como uma postura de “morde e assopra”.
A combinação desses movimentos gerou uma onda de publicações com críticas severas, chamando Motta de “traidor” e com acusações de falta de comprometimento com o cidadão e centralização de interesses político-partidários.
Quem é Hugo Motta
Aos 35 anos, Motta ocupa hoje um dos cargos mais poderosos da política nacional: a presidência da Câmara dos Deputados.
Médico de formação, deputado federal desde os 21 anos e herdeiro de uma das famílias mais tradicionais da política paraibana, o parlamentar construiu sua trajetória à sombra de um legado familiar consolidado, mas com articulação própria nos bastidores de Brasília.
Nascido em João Pessoa, Motta cresceu no ambiente político. É neto, por parte de mãe, de Edivaldo Motta, ex-deputado estadual por cinco mandatos e duas vezes deputado federal.
Sua avó materna, Francisca Motta, também teve carreira extensa, sendo eleita deputada estadual por seis mandatos e prefeita de Patos, na Paraíba, em 2012. Do lado paterno, o histórico também é longevo: seu avô, Nabor Wanderley da Nóbrega, foi prefeito de Patos nos anos 1950.
Seu pai, Nabor Wanderley, é uma figura política ativa na região do interior paraibano. Foi prefeito de Patos, conhecida como a Capital do Sertão, por dois mandatos (2005 a 2012), e, depois de uma passagem pela Assembleia Legislativa da Paraíba, voltou ao comando do município em 2021, sendo reeleito para mais quatro anos em 2024.
Com essa bagagem familiar, Motta seguiu o caminho esperado ao entrar para a política. Antes disso, porém, iniciou, aos 18 anos, o curso de medicina na Faculdade de Medicina Nova Esperança, em João Pessoa. Em 2011, transferiu-se para Brasília, onde concluiu a graduação na Universidade Católica de Brasília, em 2013.
Motta se declara católico e, há oito anos, é casado com Luana Medeiros Motta, com quem tem dois filhos.
Carreira política
Seguindo o histórico familiar ligado à política, Motta iniciou sua carreira pública em 2010, quando concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados e foi eleito, aos 21 anos, sendo o deputado federal mais jovem da história do país. Depois desse feito, reelegeu-se sucessivamente e se consolidou como uma das principais lideranças do centrão no Congresso.
Ao longo dos anos, foi relator de matérias importantes e ocupou espaços-chave nas comissões da Câmara. Foi presidente do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) Jovem, sigla pela qual foi eleito pela primeira vez, em 2010.
Antes de assumir, no início deste ano, a presidência da Casa Baixa, foi titular na Comissão de Finanças e Tributação desde o primeiro mandato, chegando a presidir o colegiado em 2014.
Motta está no quarto mandato consecutivo de deputado federal e, nesses quase 16 anos, esteve envolvido em movimentações de destaque na Câmara. Durante os primeiros anos de seu mandato em Brasília, o deputado consolidou sua atuação na chamada “base governista”, especialmente sob a liderança de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados.
Foi considerado parte da “tropa de choque de Cunha” — um grupo de deputados que defendia publicamente o presidente da Casa e atuava para protegê-lo politicamente. Essa relação evidenciava a proximidade de Motta com o núcleo duro do poder na Câmara durante o turbulento período que culminou no impeachment de Dilma Rousseff.
Motta votou a favor da admissibilidade do processo de impeachment, o que significava autorizar o prosseguimento da denúncia contra a presidente Dilma por supostas pedaladas fiscais. Esse posicionamento o alinhou ao grupo que, na prática, pavimentou a saída da petista da Presidência da República em 2016.
Ainda nesse contexto, Motta teve papel de visibilidade ao presidir, em 2015, a CPI da Petrobras, uma das principais comissões parlamentares daquela legislatura, que investigava os escândalos de corrupção envolvendo a estatal durante os governos do PT. Sua condução da CPI foi vista como um movimento que reforçava a narrativa da oposição e do centrão contra o governo Dilma.
Durante o governo de Michel Temer, Hugo Motta manteve o alinhamento com a base governista. Votou a favor de projetos econômicos estruturantes, como a PEC do Teto de Gastos Públicos, que congelou os gastos federais por 20 anos, e a Reforma Trabalhista, que flexibilizou as relações de trabalho no país. Ambas as medidas foram fortemente criticadas por movimentos sociais e pela oposição, mas contaram com apoio maciço do centrão.
Em agosto de 2017, Motta também votou contra o prosseguimento de uma denúncia criminal contra Michel Temer feita pelo Ministério Público Federal.
Na prática, ajudou a arquivar o pedido de investigação contra o então presidente, que era acusado de corrupção passiva no caso das gravações com o empresário Joesley Batista (Grupo J&F). O voto de Motta reforçou, à época, sua posição como aliado confiável do Planalto mesmo em momentos de grande desgaste político.
Propostas
Além da atuação política de bastidor, antes de assumir a presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta foi autor, coautor e relator de propostas com impacto direto na economia, infraestrutura e segurança pública. Ao longo dos mandatos, apresentou ou assinou 37 projetos de lei e projetos de lei complementar.
Entre eles, destaca-se o PL 8164/2014, que propõe elevar de US$ 3 mil para US$ 10 mil o valor das importações enquadradas no regime de despacho aduaneiro simplificado. A medida tem potencial de facilitar operações de importação de menor porte, reduzindo burocracias e custos para pequenas e médias empresas. O projeto está parado na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara, aguardando a designação de um relator.
Motta também figura como autor ou coautor de 20 Propostas de Emenda à Constituição (PEC). Uma delas é a PEC 154/2019, que modifica o artigo 38 da Constituição Federal para permitir que vereadores possam acumular dois vencimentos públicos, desde que haja compatibilidade de horários entre os cargos. A proposta altera especificamente o inciso III do referido artigo, que trata da situação de servidores públicos eleitos para o cargo de vereador.
Hoje, a Constituição já permite que um servidor mantenha seu cargo original e também exerça o mandato de vereador, desde que haja compatibilidade de horários — mas a remuneração acumulada é limitada por critérios mais restritivos. A PEC de Motta explicita e amplia a possibilidade de acumulação de remunerações.
Segundo o novo texto sugerido, o servidor poderá manter as vantagens do cargo de origem e também receber o subsídio como vereador, quando a acumulação for compatível com o artigo 37, inciso XVI da Constituição — que trata da possibilidade de acumular cargos públicos nas áreas de saúde e educação, por exemplo.
Na justificativa, Motta argumentou que a atividade de vereador, principalmente em municípios pequenos, não exige dedicação integral e que as sessões das câmaras municipais não ocorrem diariamente nem demandam presença em tempo integral. Por isso, segundo ele, não haveria impedimento para que esses parlamentares exercessem outras funções públicas simultaneamente, desde que isso não comprometesse o horário de trabalho nem o interesse público. A proposta está parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), aguardando designação de relator.
Outra iniciativa de destaque é a PEC 55/2011, proposta por pelo deputado ainda no início de sua trajetória parlamentar. A matéria foi aprovada e transformada na Emenda Constitucional 82, que reconhece a carreira dos agentes de trânsito como parte integrante do sistema de segurança pública nacional. A emenda também estabelece que a segurança viária deve ser tratada de forma integrada, incluindo ações de educação, engenharia e fiscalização. Trata-se de um avanço importante na valorização dos profissionais que atuam no trânsito urbano e rodoviário.
Mais recentemente, Motta foi o relator da Lei 14.787/2023, que prorrogou até 2028 o Regime Tributário para Incentivo à Modernização e Ampliação da Estrutura Portuária (Reporto). O programa é voltado à renovação tecnológica dos portos brasileiros, com isenção de tributos na compra de equipamentos e sistemas logísticos. A prorrogação atende à demanda do setor portuário e é considerada estratégica para a competitividade da infraestrutura nacional.
Polêmicas
Hugo Motta carrega um histórico de proximidade com setores poderosos da economia brasileira, como o agronegócio, o mercado financeiro e o setor imobiliário. Esse alinhamento se reflete tanto em suas posições legislativas quanto em iniciativas parlamentares. Em 2023, por exemplo, o deputado enfrentou críticas da imprensa paraibana e de movimentos sociais após apresentar um projeto de lei que autorizava o uso do FGTS como garantia para empréstimos consignados. A proposta, vista como benéfica ao sistema financeiro, gerou forte repercussão negativa e Motta acabou retirando o texto, na tentativa de conter o desgaste político e rebater a acusação de atuar em favor dos bancos.
Motta também está relacionado a polêmicas que envolvem sua atuação política na Paraíba e o histórico de sua família no sertão paraibano que tem sido reduto eleitoral e palco de investigações. A mais recente delas ocorreu em abril deste ano, quando a Polícia Federal deflagrou a segunda fase de uma operação para apurar fraudes, superfaturamento e desvio de recursos federais em obras executadas pela prefeitura de Patos, comandada por seu pai, o prefeito Nabor Wanderley.
Embora nem Motta nem o pai tenham sido alvos diretos da operação, a investigação aponta um conluio entre empresários e agentes públicos para manipular licitações e direcionar contratos. Um dos acordos investigados, de R$ 6 milhões, foi assinado um dia antes de Nabor reassumir a prefeitura, em 2021.A empresa Engelplan, apontada como beneficiária do esquema, teria vencido a licitação com uma proposta artificialmente baixa, para depois elevar o valor da obra por meio de aditivos contratuais. A manobra, segundo a CGU e a PF, causou um superfaturamento de pelo menos R$ 269 mil.
As suspeitas sobre a administração familiar não são novas. Em 2016, uma operação conjunta da Polícia Federal, Ministério Público Federal e Controladoria-Geral da União (CGU) — batizada de Operação Veiculação — prendeu a mãe de Hugo Motta, Illana Motta, e afastou a avó, Francisca Motta, do cargo de prefeita. Elas eram investigadas por fraudes em contratos de transporte escolar, saúde e programas sociais, com prejuízo estimado em mais de R$ 11 milhões. Embora tenham sido soltas e algumas imputações consideradas improcedentes pela Justiça, os processos evidenciaram o grau de poder concentrado pela família no município desde a década de 1950.
O pai de Motta, Nabor Wanderley, também tem um histórico judicial relevante. Condenado por improbidade administrativa em 2013, conseguiu recorrer e continua exercendo o cargo de prefeito, tendo vencido as eleições de 2020 e 2024.
A esposa do deputado também já apareceu na imprensa ligada a suspeitas de corrupção. A empresa Medeiros & Medeiros Ltda, registrada em nome de Luana Medeiros Motta e dos dois filhos de Motta, movimentou a compra de R$ 5,8 milhões em imóveis desde que foi criada, em 2019.
De acordo com reportagem do UOL, o valor é, no mínimo, cinco vezes superior ao patrimônio de R$ 1,1 milhão declarado pelo parlamentar à Justiça Eleitoral nas eleições de 2022. A atividade principal da empresa, conforme registrado na Junta Comercial da Paraíba, é voltada para o setor imobiliário, realizando compra, venda, aluguel, loteamentos e incorporações.
A constituição da empresa em nome da esposa, Luana Medeiros Motta, e dos filhos — embora legal — chamou atenção não só pela velocidade com que acumula bens, mas pela origem dos recursos e as conexões políticas envolvidas.
Desde 2019, o CNPJ adquiriu um terreno de R$ 2,2 milhões no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, onde está sendo construída uma casa para uso da família; uma fazenda de 287 hectares em Serraria (PB), comprada por R$ 2,7 milhões do ex-senador Raimundo Lira. A propriedade conta com ampla estrutura e, na região, já é conhecida como "a fazenda do deputado Hugo Motta"; e um terreno de R$ 900 mil no centro de Patos, onde antes funcionava um antigo cinema da cidade.
A origem dos imóveis gera suspeita também pela proximidade com figuras-chave da política nacional e regional. O terreno em Brasília foi adquirido de Marcos Joaquim, advogado ligado a Eduardo Cunha, primeiro padrinho político de Motta na Câmara. Já a fazenda foi comprada de um ex-senador com histórico de atuação no MDB, partido de origem do deputado paraibano.
Sobre essas aquisições, Motta disse que todas as movimentações financeiras e patrimoniais da família estão dentro da legalidade e regularmente declaradas aos órgãos competentes. Ele não comentou os detalhes das compras, nem o envolvimento de familiares em ações judiciais.
Além disso, existem indícios de favorecimento a familiares de Motta em órgãos públicos. A esposa do deputado ocupa, desde 2019, um cargo comissionado na Codevasf, estatal amplamente controlada pelo centrão. Seu salário, segundo registros públicos, é de cerca de R$ 17 mil mensais. Os pais dela, Severino Medeiros e Maria Eliane de Araújo Medeiros, são empresários com contratos na área de coleta de lixo e engenharia em várias prefeituras da Paraíba, incluindo Patos. Ambos são réus em uma ação judicial por fraude em licitações e desvio de recursos públicos no município de Cabedelo (PB).
Emendas parlamentares
Um dos pontos mais criticados nas redes sociais, relacionados ao nome de Motta, são as emendas parlamentares. O presidente da Câmara tem atuado como articulador da liberação dessas verbas, em busca de poder político, apoio entre os deputados e capilaridade eleitoral.
No Congresso, quem controla ou influencia a distribuição de emendas — especialmente as de relator (RP9), conhecidas como Orçamento Secreto, ou as chamadas “emendas Pix” — ganha protagonismo interno. Motta, ao articular essas liberações junto ao Executivo, ganha crédito entre os deputados, especialmente os do centrão, que dependem dessas verbas para manter força em seus redutos eleitorais.
Isso o coloca numa posição privilegiada na negociação de pautas, cargos e alianças, e fortalece seu nome na presidência da Câmara. Diante disso, a pressão que Motta exerce sobre o governo para liberar emendas não é pontual, é parte do jogo de forças entre Legislativo e Executivo. Desde que o Congresso passou a ter mais controle sobre o Orçamento (emendas impositivas e RP9), os parlamentares passaram a exigir contrapartidas claras para votar matérias de interesse do Planalto.
Além do ganho institucional, há também interesse direto em manter o fluxo de recursos para sua base eleitoral, especialmente Patos e outros municípios paraibanos aliados. Como revelado por investigações recentes, boa parte das verbas articuladas por ele vai para obras locais, muitas vezes com a participação de empresas ligadas a aliados ou familiares.
Em 2011, por exemplo, durante seu primeiro mandato como deputado federal, o parlamentar destinou uma emenda de R$ 2 milhões para a construção do Teatro Municipal de Patos, que nunca foi concluído. A gestão na época era comandada por sua avó, Francisca Motta, também ex-deputada estadual. A construção foi abandonada diversas vezes, marcada por paralisações, falta de repasses e denúncias de irregularidades. A obra se arrasta há mais de uma década, mesmo após sucessivas tentativas de retomada pelo governo estadual.
A lista de projetos inconclusos patrocinados por verbas federais articuladas por Motta inclui ainda a Vila Olímpica e o Centro de Iniciação ao Esporte (CIE), que somam mais de R$ 6 milhões em repasses, além de recursos complementares obtidos por emendas parlamentares do próprio deputado. Nenhuma das duas estruturas foi entregue. A prefeitura, sob gestão de seus familiares, alegou problemas estruturais e devolveu parte dos recursos à União.
Outro caso simbólico é o do Centro de Controle de Zoonoses, prometido desde 2017 com recursos da ordem de R$ 1 milhão. A obra nunca saiu do papel, e a prefeitura chegou a alegar na Justiça que “não há demanda suficiente” para justificar a construção, mesmo após determinação judicial.
Ainda assim, as verbas continuam a chegar. Em 2023, Motta articulou a liberação de R$ 17,3 milhões para o novo Terreiro do Forró, palco das festas juninas de Patos. A construção inclui o “quadrilhódromo do sol”, anunciado como o maior anfiteatro ao ar livre do Nordeste. A obra, mais uma vez, carrega a marca da gestão municipal e da articulação direta do deputado junto à Comissão de Turismo da Câmara.
Desde 2020, quando o Congresso passou a controlar diretamente a execução das emendas parlamentares, o reduto eleitoral de Motta e sua família passou a receber volumes expressivos de recursos. Entre 2020 e 2022, o parlamentar destinou ao menos R$ 45 milhões em emendas do relator à cidade, além de R$ 5 milhões em emendas Pix. No total, Patos teve R$ 116 milhões em emendas empenhadas nesse período — parte significativa delas associada direta ou indiretamente ao deputado.
Esse fluxo de emendas garante a Motta domínio político local, sustentação de seu grupo familiar e capital eleitoral para projetos futuros, como uma possível candidatura ao Senado.
Outro caso que deixa claro o interesse de Motta nas emendas foi revelado pelo Metrópoles. Uma sentença da Justiça Federal da Paraíba, proferida em 27 de fevereiro deste ano, cita o nome do presidente da Câmara dos Deputados em meio a um escândalo de suposto pagamento de propina ligado à liberação de emendas parlamentares.
Embora o parlamentar não seja formalmente réu na ação, ele aparece em depoimentos anexados à sentença, que resultou na condenação do ex-prefeito de Malta (PB), Manoel Benedito de Lucena Filho (o “Nael”), de seu filho e de um empresário do ramo da construção civil, todos envolvidos em esquema de desvio de recursos públicos em obras no interior paraibano.
A condenação está relacionada a um contrato de aproximadamente R$ 780 mil, firmado para recapeamento de ruas no município de Malta, a cerca de 30 km de Patos. O contrato teve parte dos recursos oriundos de uma emenda parlamentar de autoria de Motta. O empresário José Aloysio Machado da Costa Neto, ligado à empresa Sóconstrói, relatou em depoimento prestado à Justiça e incluído na sentença que o então deputado federal teria cobrado 10% sobre o valor da obra em troca da liberação da verba.
Essa não foi a primeira vez que emendas de Motta apareceram associadas a investigações por suspeita de desvios. Em 2015, a Operação Desumanidade, da Polícia Federal, mirou fraudes em 11 Unidades Básicas de Saúde financiadas com verbas federais. Parte dos recursos vinha de emendas do deputado.
Já em 2024, a Operação Outline investigou irregularidades em obras de infraestrutura urbana em Patos, também financiadas por recursos articulados pelo deputado. Entre elas, a restauração da Alça Sudeste e da Avenida Manoel Mota, orçadas em R$ 5 milhões. Procurado, Hugo Motta não respondeu aos questionamentos sobre as acusações.
Essas movimentações são reflexo do poder que uma emenda parlamentar atribui aos deputados. As emendas funcionam como moeda de troca e capital político, sendo, em muitos casos, o principal ativo político de um congressista, especialmente os de estados menores ou com pouca exposição nacional.
Com elas, parlamentares conseguem levar obras e serviços para suas bases eleitorais, o que se traduz em votos; atender prefeitos aliados, fortalecendo redes de apoio nos municípios; negociar cargos, apoio em campanhas e alianças partidárias; ganhar visibilidade pública, com inaugurações, placas e presença em eventos; ou manter fidelidade partidária, ao atender interesses de grupos locais ou regionais.