O ex-chanceler Carlos França afirmou, em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que a reunião com embaixadores que pode tornar Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos aconteceu a pedido da Presidência. O encontro ocorreu 76 dias antes das eleições de 2022.
França afirmou que a iniciativa da reunião partiu da Presidência da República. "Julgou-se que era papel da Presidência da República se manifestar diretamente aos chefes de missão".
O depoimento do ex-chanceler ao TSE aconteceu em 19 de dezembro de 2022, em caráter sigiloso. Nesta data, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já havia sido diplomado.
Segundo ele, a intenção de realizar a reunião no Palácio do Alvorada "despertou preocupação" para "evitar um caráter oficial ou de promoção do presidente que também era candidato".
Carlos França disse que o objetivo de Bolsonaro com a reunião era "manifestar a posição do Executivo em relação à busca de critérios de transparência".
"A testemunha relatou que não teve envolvimento com a produção dos slides exibidos na apresentação de Jair Messias Bolsonaro. O Itamaraty foi acionado apenas para fornecer equipamento e tradutor para a tradução simultânea. Conclui o trecho dizendo 'Nós não tivemos acesso a esse material, e nós não fomos acionados para revisar esse material [...] Não houve participação do Itamaraty na substância desse evento", diz documento obtido pelo UOL.
Julgamento de Bolsonaro
Durante o julgamento de Jair Bolsonaro no TSE na noite de ontem (28), o ministro relator, Benedito Gonçalves mencionou o depoimento de França ao justificar o voto que pede a inelegibilidade do ex-presidente .
"Ocorre que Carlos França, ouvido como testemunha da defesa, negou o envio de material e declarou não ter participado de forma significativa do evento. As duas outras testemunhas da defesa também negaram envolvimento substancial na preparação ou realização da reunião, embora arroladas pelos réus por deterem "particular conhecimento" sobre aspectos da dinâmica do evento", disse Gonçalves.
O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, suspendeu a sessão de terça-feira por conta do horário avançado. A próxima etapa ocorrerá na quinta-feira às 9h, onde Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques, André Ramos Tavares, Cármen Lúcia, Kassio Nunes Marques e o chefe da Corte irão votar, nesta ordem.
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