As eleições presidenciais no Brasil representam um momento crucial não apenas para o país, mas para toda a América Latina.
As pesquisas preveem uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL), possivelmente em primeiro turno, mas a cautela é obrigatória, dada a dificuldade dos institutos em refletir o pensamento de 156 milhões de eleitores.
A escolha do novo presidente é um evento que transcende o Brasil e pode incidir sobre os equilíbrios pan-americanos. Com uma eventual vitória de Lula, as seis maiores economias da América Latina - Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia e Peru - seriam governadas pela esquerda, sem contar outros países, como Honduras, Bolívia, Cuba, Venezuela e Nicarágua, que ocupam o mesmo campo político de modo mais ou menos radical.
Seria um cenário similar ao da América Latina do início do século, quando 75% dos habitantes da região eram governados pela esquerda. Mas as semelhanças param por aqui, já que os governantes daquela época podiam utilizar recursos provenientes do boom dos preços das matérias-primas.
Atualmente, a crise ligada ao crescimento fraco, à pandemia, às dificuldades comerciais pela guerra na Ucrânia e ao aumento da dívida reduziu os recursos dos governos para investimentos sociais.
Outra diferença, explica Marta Lagos, diretora do Instituto Latinobarómetro, de Santiago, é uma maior articulação ideológica dos líderes atuais em relação a seus predecessores, o que poderia tornar mais árdua a conquista de compromissos regionais.
"Uma coisa que, no entanto, os presidentes de esquerda na região continuam a ter em comum é a ênfase acentuada na ação do Estado para reduzir as desigualdades", diz Lagos, "além de uma inédita propensão a alcançar compromissos com forças de centro". Exemplo disso é o fato de Lula ter escolhido Geraldo Alckmin como vice-presidente.
A situação é monitorada com atenção e preocupação pela Casa Branca, que há pouco mais de três meses teve de lidar com a vitória eleitoral de Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia.
No entanto, diante das ameaças de Bolsonaro de não reconhecer uma possível vitória de Lula, a Embaixada dos EUA em Brasília difundiu um comunicado em que reafirma sua "confiança nas eleições brasileiras" e acrescenta que reconhecerá o vencedor do pleito.
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