O presidente Jair Bolsonaro (PL) citou duas vezes o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como um de seus principais aliados durante a convenção nacional do PL , no Maracanãzinho, que homologou sua candidatura à reeleição ao Planalto. Lira foi recebido de forma fria pela militância bolsonarista ao ser anunciado no palco do evento, antes da chegada de Bolsonaro, e recebeu vaias de parte do público ao ser mencionado pela primeira vez por Bolsonaro, como "grande aliado" de seu governo.
"Está aqui o presidente Arthur Lira. Um enorme aliado nosso, tem colaborado muito com o governo. Graças a ele conseguimos aprovar leis que puderam abaixar o preço dos combustíveis", afirmou Bolsonaro no início de seu discurso, despertando aplausos do público apenas na última frase.
Bolsonaro disse posteriormente que o "Legislativo e o Executivo são irmãos" e atacou o Supremo Tribunal Federal (STF), vaiado em uníssono pelo público presente na convenção.
Em outro momento, cerca de dez minutos depois, Bolsonaro voltou a citar a presença de Lira, desta vez colocando mais ênfase no papel de aliado do presidente da Câmara. Bolsonaro também afirmou ao público que Lira é o "dono da pauta" na Câmara.
"Temos a presença marcante do presidente da Câmara, meu amigo de longa data, Arthur Lira. Ele é o dono da pauta da Câmara dos Deputados, nada é colocado em votação se não for por decisão dele. Zeramos impostos federais de gás de cozinha desde o ano passado, e há quatro meses foi colocado um teto no ICMS. Sei que a presença mais importante aqui hoje sou eu, mas se não é o Arthur Lira, esse cabra da peste de Alagoas, não teríamos chegado a esse ponto", declarou Bolsonaro.
Os acenos de Bolsonaro a Lira ocorrem em um momento em que o Congresso atraiu um controle sem precedentes sobre a distribuição do Orçamento da União. Reportagem do GLOBO neste domingo aponta que as emendas parlamentares correspondem hoje a quase um quarto do total de gastos livres , a fatia do Orçamento que pode ser manejada. Em 2014, o percentual sob controle do Congresso era de 4%.
Os elogios a Lira e a outros líderes do Centrão, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), também enaltecido por Bolsonaro, marcam uma mudança de postura em relação à convenção que homologou a candidatura de Bolsonaro em 2018. Na ocasião, o general da reserva Augusto Heleno, atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), cantarolou uma paródia na qual dizia "se gritar 'pega, Centrão' não fica um, meu irmão", em referência ao verso "se gritar 'pega, ladrão'", popularizado na voz do sambista Bezerra da Silva.
Lira e Nogueira ficaram sentados em posição de destaque na primeira fila do palco durante a convenção do PL neste domingo. Outro cacique do Centrão que figurou no palco foi o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que ficou sentado no canto direito, próximo ao senador Romário (PL-RJ).
Outro afago de Bolsonaro a Lira se deu através de críticas ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos principais adversários do presidente da Câmara em seu estado. Bolsonaro criticou Calheiros, sem mencionar seu nome, ao citar sua atuação na relatoria da CPI da Covid no Senado e como ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Na CPI da Covid, fizeram uma grande confusão e não acharam nada. Mas sabemos do caráter do presidente (relator) da comissão. Ele, quando ministro da Justiça, foi procurado por Lula para libertar dez sequestradores", disse Bolsonaro.
A fala do presidente referiu-se a um episódio relatado pelo ex-presidente Lula em junho, durante viagem em Alagoas, no qual o petista disse ter buscado Renan, em 1998, para tratar do caso dos sequestradores do empresário Abilio Diniz. O grupo, preso havia dez anos à época, havia entrado em greve de fome e, de acordo com o ex-presidente, corriam risco de vida.