Diante de forte resistência no PSDB contra sua pré-candidatura presidencial, o ex-governador João Doria busca apoio dos partidos de centro na tentativa de não ficar de fora de uma prometida chapa da chamada "terceira via" .
Em sua ofensiva mais recente, Doria jantou com o ex-presidente Michel Temer e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) na noite de segunda-feira no momento em que o nome da emedebista é visto como mais "viável" entre os partidos que negociam a composição como PSDB, Cidadania, MDB e União Brasil.
As legendas negociam um acordo para o lançamento de uma candidatura única no dia 18 de maio.
O movimento do paulista ocorreu um dia após o coordenador de sua campanha e presidente do PSDB, Bruno Araújo, admitir publicamente que o pacto dos partidos de centro está acima das prévias presidenciais tucanas realizada em dezembro, quando Doria derrotou o ex-governador Eduardo Leite na eleição interna.
Nas negociações entre os partidos, aliados dizem que Doria já recebeu sinalizações de que MDB e União Brasil veem dificuldade de sua participação na aliança em razão da alta rejeição do paulista nas pesquisas de intenção de voto.
Enquanto isso, no PSDB está consolidada a tese de que só haverá candidatura se for na aliança com os demais partidos e de que não faz sentido gastar recursos do fundo eleitoral com um candidato que não decola nas pesquisas.
Doria tem 2% das intenções de votos no último levantamento do Instituto Datafolha, divulgado no mês passado. A prioridade entre os tucanos é abrir o cofre para as campanhas de governadores e aumentar a já combalida bancada de parlamentares no Congresso Nacional — o partido perdeu nove integrantes na janela partidária.
Em entrevista à CNN nesta manhã, Tebet deixou claro que a rejeição é um fator que complica uma composição, apesar de não ter citado Doria. O paulista precisa aplacar uma rejeição de 30% dos eleitores, de acordo com o Datafolha. Trata-se de uma média inferior somente à de Bolsonaro, sob a recusa de voto de 55% dos eleitores, e de Lula, com 37%.
— Sem dúvida nenhuma não é possível haver crescimento quando você tem um índice de rejeição muito alto — afirmou Tebet ao canal a cabo. Numa declaração anterior, ela ainda havia feito um aceno ao rival do paulista e ex-governador gaúcho ao dizer que trata-se de um "bom nome para vice" e que "homens da envergadura de Eduardo Leite somam".
Estrategistas de Tebet dizem que pesquisas qualitativas mostram que uma chapa com o gaúcho teria mais chances de quebrar a polarização. Entre as razões que sustentam esse argumento estão não só a baixa rejeição e a baixa taxa de conhecimento de ambos pelo eleitorado, como também o fato de que a maioria das mulheres nesses levantamentos aparecem como indecisas e podem definir a eleição.
Ainda assim, a entrada de Leite na composição é vista como difícil entre os partidos de centro, já que haveria risco de judicialização da disputa por parte de Doria e ainda acirraria mais as divisões no PSDB.
Ao mesmo tempo em que vê Doria isolado, a cúpula do PSDB foi convencida pelo presidente do MDB, Baleia Rossi, de que a sigla vai bancar o apoio a Tebet, apesar de que alguns caciques do partido sejam contra e tentem minar a pré-candidatura. Na segunda-feira, o ex-presidente Lula se reuniu com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), o ex-presidente do senado Eunício Oliveira (MDB-CE) e o ex-presidente José Sarney.
O entorno de Tebet afirma que a senadora reúne hoje o apoio da maioria dos diretórios estaduais do MDB e da bancada federal. Em resposta ao movimento das lideranças do nordeste, alguns presidentes de diretórios (Rio, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Tocantins, Acre, Pernambuco, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul) declararam apoio a Tebet na segunda-feira.
A dificuldade de Doria se tornou mais evidente num evento do PSDB na Zona Oeste da capital na noite de terça-feira em homenagem ao ex-prefeito Bruno Covas, morto em decorrência de um câncer em maio de 2021. Lá, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que também estava presente, e que havia se aproximado de Doria no ano passado, afirmou que o seu partido vai bancar Tebet como pré-candidata:
— Temos 37 deputados federais e apenas cinco são contrários e apoiam Lula. A grande maioria é de apoio a Simone e ela vai vencer — afirmou Nunes à imprensa.
No evento tucano, os discursos de integrantes da cúpula do partido exaltaram o governador Rodrigo Garcia e, em sua maioria, não citaram Doria - ele foi o primeiro a falar, mas saiu logo no começo do evento sem falar com a imprensa.
O caso que mais chamou atenção foi o do presidente do PSDB que não mencionou Doria e disse que, se estivesse vivo, Bruno Covas seria o maior entusiasta da candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo de São Paulo. A defesa do ex-governador ficou por conta apenas do presidente do PSDB municipal, Fernando Alfredo, e de Marco Vinholi, presidente do diretório estadual da sigla.
Em seu discurso, Garcia apenas fez uma referência a Doria e disse que o governador "passou por aqui". Pessoas próximas ao atual governador atribuem o gesto dele à crise detonada no final do mês passado, quando Doria ainda então governador ameaçou desistir da candidatura presidencial e permanecer no cargo.
No PSDB, o movimento de Doria foi como uma ameaça de implosão da candidatura de Garcia, atual prioridade da sigla, em troca de obter o apoio da cúpula do PSDB.