A aproximação do prazo para emissão de novos títulos eleitorais, que se encerra em 4 de maio , tem intensificado uma disputa entre esquerda e direita. O que está em jogo é um potencial eleitorado de 10 milhões de adolescentes de 16 e 17 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O pano de fundo é a baixa procura dos jovens dessa faixa etária (que não são obrigados a votar, mas podem fazê-lo) para emitir o documento. A série histórica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra uma tendência de queda no alistamento eleitoral de adolescentes.
Se em 2012 houve mais de 4 milhões de pedidos de emissão do título entre os 15 e 18 anos, em 2022, havia somente 854 mil até 21 de março, data do último balanço. Em 2020, ano da última eleição, 1,36 milhão de solicitações foram feitas. No ano passado, 1,57 milhão.
Com o argumento de que não basta atuação digital para tirar Jair Bolsonaro do poder, setores progressistas vêm ampliando a campanha para atingir esse eleitorado. E quem se beneficia desse movimento é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além de estar em primeiro lugar nas pesquisas, o petista tem 51% de intenção de voto na faixa entre 16 e 24 anos, enquanto Bolsonato amarga 22%, segundo a última pesquisa Datafolha, publicada em 24 de março. Trata-se do grupo etário com maior resistência ao presidente. No eleitorado geral, sem recorte de idade, Lula aparece com 46%, e Bolsonaro, 26%.
“O voto aos 16 anos é uma conquista da democracia. Que o jovem retire o título, exercite seu direito ao voto e construa um país melhor”, declara o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), um dos apoiadores da campanha.
A campanha furou a bolha da política. No último mês, os cantores Anitta e Zeca Pagodinho, os ex-BBBs Gil do Vigor e Juliette, o humorista Whindersson Nunes e até o ator americano Mark Ruffalo, por exemplo, usaram suas redes sociais para pedir que os adolescentes tirem o título "para derrotar Bolsonaro".
"Em 2020, os americanos só derrotaram Donald Trump porque um número recorde de eleitores usou seus direitos democráticos, especialmente os jovens. Para derrotar Bolsonaro, brasileiros de 16 e 17 anos precisam registrar seu voto nas próximas eleições. Eles têm até 4 de maio para fazer isso", escreveu Ruffalo no Twitter, compartilhando uma publicação de Anitta.
O tuitaço promovido pelo TSE, no mês passado, para incentivar os jovens a tirar o título envolveu 4,7 mil usuários, 6,8 mil tuítes e alcançou 88 milhões de pessoas, segundo dados do Tribunal. Clubes como Corinthians e Flamengo e a base de fãs do grupo de K-pop BTS se engajaram no movimento.
Apoiadores do presidente vem reagindo com irritação à iniciativa. O comentarista bolsonarista Guilherme Fiuza chegou a afirmar que o processo eleitoral, durante programa que participa na Jovem Pan, deveria ser interrompido ao saber que o perfil do Twitter do TSE curtiu o comentário da jornalista Míriam Leitão incentivando jovens a tirarem o título.
Mas a tropa de choque do presidente também participa da disputa pelas franjas do eleitorado. Carla Zambelli recorreu aos idosos para tentar fazer frente ao engajamento da juventude e iniciou uma "campanha do voto veterano" por Bolsonaro, mirando o eleitorado de "37,8 milhões de brasileiros com mais de 60 anos", de acordo com ela.
Zambelli defende o esforço no eleitorado de idade mais avançada, para buscar votos para Bolsonaro, por serem pessoas que, segundo ela, viveram os escândalos de corrupção dos governos do PT (2003-2016) e que estão imunes à doutrinação ideológica que ela acredita existir nas escolas.
“(Os mais jovens são) uma geração Felipe Neto que infelizmente não tem visão política e não se interessa por política. Eles usam os artistas e o gosto pela música para poder influenciar uma decisão que eles (jovens) não estão tomando com base em raciocínio, lógica, estudos, história”, diz ela.
Para a deputada, os idosos, cujo voto é mais conservador, ficaram em casa nas eleições municipais de 2020, favorecendo candidatos mais à esquerda, e que esse cenário não pode se repetir neste ano. Por isso, vem incentivando esse grupo etário a votar.
Outros aliados do presidente preferiram rebater a campanha tentando associar o eleitorado jovem ao seu candidato. No fim de março, a BotSentinel, ferramenta que monitora robôs no Twitter, apontou presença maciça de contas inautênticas tuitando a hashtag #SOUJOVEMSOUBOLSONARO.
Dias depois, durante conversa com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, Bolsonaro criticou a campanha e afirmou que "a garotada" iria votar nele no pleito de outubro.
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