Hélio Ferraz de Oliveira, o novo secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro , é um velho amigo de Mario Frias, que deixou a pasta nesta quinta-feira (31) para formalizar sua candidatura a deputado federal pelo PL, em São Paulo, estado em que nunca morou, como revelou o colunista Lauro Jardim, do GLOBO.
Em 2019, Hélio atuou como coprodutor do programa de TV "A melhor viagem", que Mário Frias apresentava na RedeTV!. Quando assumiu o cargo no governo Bolsonaro, após a exoneração de Regina Duarte, Frias convidou o amigo para ser o seu secretário-adjunto no órgão — ou o seu "número 2", como já afirmou. A remuneração básica de Ferraz de Oliveira, em fevereiro, era de R$ 16.944,90, como consta no Portal da Transparência.
Na manhã da última quarta-feira (30), Mario Frias se reuniu com toda a equipe da Secretaria Especial de Cultura, vinculada ao Ministério do Turismo, para realizar uma espécie de passagem de bastão. "Despedida do nosso eterno ministro da Cultura. Parabéns pelo excelente trabalho prestado a nossa nação", exaltou Hélio Ferraz, em publicação no Instagram.
Hélio Ferraz é advogado especializado em Direito de Família e Sucessões. Em seu perfil na rede social Linkedin, ele se define como "ativo, dinâmico e experiente em litígios de grande complexidade". No currículo, há poucas passagens por trabalhos relacionados ao setor cultural.
Já prestou serviço jurídico para a EMI Records, multinacional do ramo fonográfico, antes de criar a empresa Ferraz Advogados Associados, que atua em áreas do Direito Civil, Empresarial, Família e Sucessões e Direito do Trabalho.
Pai solo de três adolescentes adotivos, ele costuma participar de palestras sobre o tema da adoção. Em maio do ano passado, realizou uma live com o título "Adotar e ser adotado". No mesmo período, fez outra transmissão sobre o assunto, para falar sobre "Famílias em quarentena: do conflito ao convívio".
Viagem a Nova York
No fim de 2020, Hélio Ferraz de Oliveira foi o companheiro de viagem de Mario Frias em polêmica ida a Nova York.
Realizada entre os dias 14 e 19 de dezembro, a viagem — que custou R$ 78 mil aos cofres públicos — foi destinada a discutir uma produção audiovisual com o lutador de jiu-jítsu brasileiro Renzo Gracie. Na ocasião, como consta na agenda divulgada pelo Ministério do Turismo, Mario Frias e Hélio Ferraz também se reuniram com Simone Genatt e Marc Routh, produtores da Broadway, e com Bruno Garcia, dono de uma agência de turismo.
O Ministério Público abriu investigação para apurar os custos da viagem. Em representação encaminhada à corte de contas, o subprocurador do MP Lucas Rocha Furtado classificou como "extravagante" a viagem do secretário e defendeu que o caso afronta "o princípio da moralidade administrativa".
Em texto publicado no Instagram, Hélio Ferraz de Oliveira se defendeu das acusações. "Tenho orgulho do que construímos até aqui, e do futuro que estou construindo para meus filhos e para os filhos dos brasileiros de bem", escreveu, quando o caso veio à tona.
Leia Também
Em outubro de 2021, outra controvérsia surgiu depois que Mario Frias publicou uma foto em que aparece ao lado dos colegas Hélio, André Porciuncula (secretário de Fomento e Incentivo à Cultura) e Felipe Carmona Cantera (Secretário Nacional de Direitos Autorais e Propriedade Intelectual), todos segurando metralhadoras. Diante das críticas de artistas, Frias afirmou que a imagem havia sido feita durante uma agenda de visita ao museu da Polícia Militar.
Crítica a Bolsonaro
Em 2016, à época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Hélio Ferraz de Oliveira participou de protestos contra o governo PT. Foi a manifestações na Avenida Paulista, em São Paulo, e vestiu até mesmo seu cachorro vira-lata com uma camiseta da Seleção Brasileira.
Em 17 de abril daquele ano, publicou uma imagem do Senado sugerindo, em tom de brincadeira, que terroristas atacassem a instituição. "Alô, estado islâmico, a hora é agora", lê-se na fotografia, com o desenho de um homem barbado segurando uma arma.
Nesse mesmo período, Hélio Ferraz usou o Facebook para reproduzir críticas ao então deputado federal Jair Bolsonaro, a quem hoje é apoiador. No dia 17 de janeiro de 2016, Ferraz compartilhou um post da revista "Nova Escola" (veja abaixo) expondo os "os equívocos cometidos pelo deputado" ao espalhar fake news sobre a educação no Brasil.
A publicação esclarece que o suposto "kit gay" citado, à época, por Bolsonaro como um conjunto de livros para promover "idelogia de gênero" nas escolas brasileiras tratava-se de notícia falsa. "O kit gay — nome dado pelos críticos — é, na verdade, o caderno 'Escola sem Homofobia'. Especialistas elogiam esse caderno. 'Ter esse material nas escolas seria um avanço muito grande', diz o pedagogo Ricardo Desideri, da Unesp", esclarece o vídeo compartilhado por Hélio Ferraz de Oliveira.
Chaves da Cinemateca
Nome mais discreto no governo Bolsonaro — ele não usa as redes sociais da mesma maneira frenética que os colegas —, Hélio Ferraz de Oliveira se tornou mais conhecido depois pedir as chaves da Cinemateca Brasileira, junto de oficiais da Polícia Federal, quando ogoverno tomou posse da instituição, em agosto de 2020.
A maneira com que a situação se desenrolou assustou os servidores. Naquela ocasião, Hélio Ferraz ocupava o cargo de secretário nacional do audiovisual substituto.
"O mais triste da história toda foi eles terem chegado com três carros da Polícia Federal. Foi bizarro, lamentável, ofensivo, principalmente para os funcionários", avaliou Francisco Campera, diretor-geral da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, organização social que geria o local desde 2018.
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo.