Pressionado por evangélicos para deixar o cargo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro , recebeu uma carta, escrita por aliados do presidente Jair Bolsonaro, anunciando o seu afastamento do governo. O comunicado ainda não foi assinado por Ribeiro — que ainda avalia os efeitos da sua renúncia nas investigações da Polícia Federal envolvendo supostos pedidos de propinas feitos por pastores lobistas do MEC . Procurado, o MEC por enquanto não se manifestou.
A carta de afastamento de Milton foi redigida ao longo do fim de semana por um aliado de Bolsonaro e de pastores evangélicos. O ministro da Educação havia viajado para São Paulo na sexta-feira para esfriar a cabeça e se afastar da crise instalada no MEC. Sob pressão, Ribeiro voltou às pressas para Brasília e se encontrou com Bolsonaro no domingo para debater seu futuro no governo.
Bolsonaro disse a pessoas próximas que foi convencido a aceitar a renúncia do ministro da Educação após perceber que Milton estava disposto a entregar o seu cargo para dissipar a pressão de aliados evangélicos do governo e de integrantes dos Três Poderes. Padrinho da indicação de Milton no MEC, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), tratou com frieza um contato feito pelo ministro da Educação buscando apoio para se manter no cargo.
Nesta segunda-feira, o deputado Marco Feliciano (PL-SP) fez um apelo nas redes sociais para que Milton "não retarde seu licenciamento!". "Por sua saúde emocional, por sua família que deve estar sofrendo, por nós evangélicos que estamos sendo triturados, pelo presidente Jair Bolsonaro que em um ano tão importante está sendo arrastado pra essa história estranha", escreveu o parlamentar.
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O pastor Silas Malafaia também pediu publicamente a cabeça do ministro da Educação em um post feito em seu perfil no Twitter: "(Milton) Tem que ser demitido para nunca mais voltar".
Segundo lideranças evangélicas, o ministro deve se decidir sobre a sua permanência antes de quinta-feira, dia 31, data para a qual está agendado o seu depoimento à Comissão de Educação e Cultura do Senado para explicar as denúncias de que dois pastores evangélicos cobravam propina de prefeitos para ajudá-los a destravar verbas no ministério. O nome mais cotado para substitui-lo é o do secretário-executivo do MEC, Victor Godoy, que é bastante ligado ao ministro.
Até o fim da última semana, o presidente vinha resistindo à ideia de trocar novamente o comando do MEC, apesar da escada da crise com a denúncia de que os pastores haviam pedido propina a prefeitos para destravar os recursos da pasta. Em live na última quinta-feira, Bolsonaro chegou a dizer que o titular da Educação era alvo de "covardia" e que colocava a "cara no fogo" por ele. No dia seguinte, a Polícia Federal instaurou inquérito para investir as suspeitas levantadas contra o ministro e pastores.