O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, decidiu ficar no PSDB e começou a avisar aliados em telefonemas na noite deste domingo, véspera da coletiva em que dará comunicando a sua desincompatibilização do governo do Rio Grande do Sul. Conforme O GLOBO revelou na semana passada, essa era a tendência de Leite depois de conversas com tucanos que se opõem ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), vencedor das prévias tucanas no ano passado.
Desde o convite para entrar no PSD feito pelo presidente do partido, Gilberto Kassab, uma ofensiva para manter o governador gaúcho foi realizada pelo senador Tasso Jereissati e o deputado federal, Aécio Neves. Leite havia sinalizado que deixaria o PSDB para disputar o Planalto, mas mudou de ideia ao longo da última semana analisando argumentos apresentados por aliados. O principal deles, o fato do PSD nos estados ter candidatos a governador alinhados ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Lula.
A negativa de Leite impõe o desafio a Kassab de buscar uma nova alternativa para a disputa ao Planalto. No ano passado, o plano A do presidente do PSD era a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que deixou o DEM, mas acabou recuando de participar da corrida como opção da terceira via. Kassab chegou a abrir conversas com Lula e o PT, mas insiste que o partido que comanda terá candidatura própria e, assim, começou a negociar com Leite.
Doria fala em 'golpe'
Neste domingo, o governador de São Paulo, João Doria, afirmou que a existência de qualquer articulação no PSDB para retirá-lo das eleições presidenciais configura um “golpe”. A declaração foi dada após a movimentação de parte dos tucanos para ignorar as prévias realizadas em novembro — com vitória de Doria — em prol de uma candidatura de Eduardo Leite, derrotado no pleito interno.
"Uma tentativa torpe, vil, de corroer a democracia e fragilizar o PSDB", afirmou João Doria, durante coletiva para anunciar uma nova etapa da vacinação da quarta dose contra Covid, ao ser questionado sobre a articulação de integrantes do partido para não reconhecer as prévias da sigla.
O PSDB saiu rachado das prévias e, quatro meses depois, Doria não conseguiu unir o partido. O pleito foi marcado por idas e vindas, e chegou a ser adiado após um episódio de suspeita de ataque hacker ao sistema de votação. Ao fim das eleições internas, João Doria recebeu 53,99% dos votos, e derrotou Eduardo Leite, que somou 44,66%, e o ex-senador e ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que teve apenas 1,35%.
Além do desafio interno, Doria precisa aplacar uma rejeição de 30% dos eleitores, de acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada. Trata-se de uma média inferior somente à de Bolsonaro, sob a recusa de voto de 55% dos eleitores, e de Lula, com 37%. Além de um cenário que aponta para uma missão complicada no primeiro turno, Doria viu crescer a concorrência interna com Leite, um nome também ventilado para a chamada terceira via.
Aliados que ajudaram a convencer Leite a ficar no PSDB dizem que a convenção da sigla vai homologar o nome do candidato a presidente, independente do resultado das prévias. Avaliam ainda que os demais partidos que negociam com os tucanos — União Brasil, MDB e Cidadania —são simpáticos ao governador gaúcho e que a aliança estaria acima da disputa das primárias do PSDB.
Na última pesquisa Datafolha, Doria e Leite aparecem virtualmente empatados, ainda que não tenham sido testados juntos. Em um cenário sem Leite, Doria soma 2%. Na situação sem o governador paulista, o colega gaúcho tem 1%.
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